Pró-russos da Ucrânia convocam referendos de anexação à Rússia
Pedido por referendo acontece em meio à contraofensiva ucraniana
As autoridades instaladas por Moscou em várias regiões da Ucrânia anunciaram, nesta terça-feira (20), a realização urgente - de 23 a 27 de setembro - de referendos sobre a anexação à Rússia , em meio à contraofensiva ucraniana.
A Ucrânia respondeu imediatamente e prometeu "liquidar" a "ameaça" russa.
Os territórios separatistas pró-russos de Donetsk e Luhansk, na região do Donbass (leste da Ucrânia), bem como as regiões de Kherson (sul) e Zaporizhzhia (sudeste), todas ocupadas pelo Exército russo, anunciaram essas votações.
O chanceler alemão Olaf Scholz negou que esses "referendos fictícios" sejam "aceitáveis". Os Estados Unidos afirmaram que não reconhecerão "nunca" os territórios anexados, enquanto a Otan considerou que as consultas representam uma "escalada adicional" do conflito.
A iniciativa é anunciada quando a Ucrânia entra em seu oitavo mês de guerra e todas essas áreas são palco de combates e bombardeios.
Baseados no modelo que confirmou a anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia em 2014 - denunciada pela comunidade internacional -, esses referendos estão em preparação há vários meses. O calendário parece ter-se acelerado, devido à ofensiva ucraniana que obrigou o Exército russo a se retirar do nordeste do país.
Foi o chefe do "Parlamento" autoproclamado de Luhansk, Denis Miroshnichenko, que anunciou em primeiro lugar que a consulta seria realizada em quatro dias, a partir de sexta-feira (23).
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Chantagem
Pouco depois, a agência de notícias oficial de Donetsk anunciou um cronograma idêntico, seguido pelo chefe da administração de ocupação de Kherson, Vladimir Saldo. Uma autoridade pró-Rússia fez o mesmo pela região de Zaporizhzhia.
A Ucrânia, por sua vez, alertou que a ameaça russa será "liquidada".
"A Ucrânia vai solucionar a questão russa. A ameaça só pode ser liquidada pela força", escreveu no Telegram o chefe da administração presidencial ucraniana, Andrii Yermak, denunciando uma "chantagem" de Moscou motivada pelo "medo da derrota".
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, garantiu que a Ucrânia "continuará a libertar seus territórios, independentemente do que a Rússia disser".
Esses anúncios vêm depois que a Rússia sofreu importantes reveses militares desde o início de setembro. Teve de se retirar de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, após um avanço das tropas de Kiev, que se beneficiam de suprimentos de armas e equipamentos militares ocidentais.
A diplomacia russa alertou o embaixador da França em Moscou que considera "inaceitável" esses envios de armamento.
O Exército ucraniano também lançou uma contraofensiva na região de Kherson, que avança mais lentamente. E também ataca na região de Luhansk, que a Rússia conquistou totalmente na primavera boreal, após combates sangrentos.
A cerca de vinte quilômetros de Siversk, a artilharia ucraniana bombardeou posições russas.
"Disparamos a noite toda, vamos sair para recarregar [munição] e voltar mais tarde", disse um dos artilheiros à AFP.
Arma nuclear
Esta manhã, o atual número dois do Conselho de Segurança da Rússia e ex-presidente russo Dmitri Medvedev pediu que os referendos sobre a anexação das regiões de Lugansk e Donetsk sejam realizados o mais rápido possível.
Os referendos no Donbass "são de grande importância (...) para restaurar a justiça histórica", disse Medvedev no Telegram.
Moscou considera a Ucrânia historicamente russa.
"Violar o território russo é crime e, se for cometido, permite o uso de todas as forças legítimas de defesa", alertou.
Para a analista independente russa Tatiana Stanovaya, "Putin vai realizar esses referendos para ter o direito de usar armas atômicas para defender o território russo".
Isso representa uma clara ameaça do presidente russo à Ucrânia e ao Ocidente que ajuda Kiev e sanciona a Rússia, acrescenta a analista, que dirige o centro de análise R. Politik.
Putin já reconheceu a independência das regiões de Donetsk e Luhansk, pouco antes de lançar sua ofensiva na Ucrânia em 24 de fevereiro. Essas regiões já estavam sob o controle dos separatistas pró-russos desde 2014, mas sua integração à Rússia significaria claramente uma escalada no conflito em andamento.
Ao receber, nesta terça, as cartas credenciais dos novos embaixadores na Rússia, Putin prometeu continuar sua política "soberana" e denunciou o desejo de "hegemonia" dos Estados Unidos.