Procissão de encerramento a Nossa Senhora da Conceição tem ruas cheias no Recife
Depois de um ano sem passeata, fiéis voltaram a acompanhar andor do Centro da cidade até o Morro, na Zona Norte.
Depois de um ano sem passeata por causa da pandemia de Covid-19, as ruas da Zona Norte recifense voltaram a ficar cheias no dia de Nossa Senhora da Conceição. Ao fim de uma tarde chuvosa, que ameaçava atrapalhar a tradicional procissão de encerramento, o céu se abriu minutos antes da saída da imagem, transportada em um carro da Prefeitura, no Centro histórico, até o topo do Morro que homenageia a “padroeira afetiva” da cidade. No caminho, muita fé e emoção.
Tendo como tema “Aos pés da Imaculada Conceição do Morro, somos todos irmãos”, a 117ª edição da Festa do Morro inspirou foi encerrada na noite desta quarta-feira (8), com uma missa campal conduzida pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido.
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Gratidão e devoção
Entre os fiéis que acompanhavam a subida da imagem até o santuário, a dona de casa Mariana Inocência Ferreira, 57 anos, era só gratidão. “Tenho muita fé nela”, disse a devota, para quem a santa foi responsável pela cura do filho dela, que sofria com desmaios, sem conseguir um diagnóstico definido. “Cheguei em casa, me ajoelhei nos pés dela. Alcancei esse pedido, ele hoje está com 22 anos e teve nada mais”, contou.
Outra devota que não perde uma festa desde a adolescência é Tereza Alves, 54. Com um buquê de flores azuis, um vestido da mesma cor e um ex-voto em forma de casa na mão, ela é grata à Nossa Senhora por ter construído a residência onde mora e as das duas filhas, no bairro de Nova Descoberta, Zona Norte. “Não deixo de vir ano nenhum. Ela é tudo para mim. E só por passar pela pandemia e graças a Deus nenhum da minha família ter pego [a doença]”, celebrou.
Com vestimenta vermelha, “por ser devoto de Santa Luzia”, Getúlio Gonzaga, 60, também não deixa de ver a Nossa Senhora do Morro. Ele veio de Areias, na Zona Sul, prestigiar a santa. “Ela é muito querida do povo, representa muita gente”, afirmou.
Volta da multidão às ruas
Conduzindo a segunda celebração desde o início da pandemia, o reitor do Santuário Nossa Senhora da Conceição do Morro, padre Pedro Luiz dos Santos, se surpreendeu com o grande número de fiéis. “O povo reagiu de uma forma inesperada, subiu o Morro e veio participar da festividade e com segurança, usando máscaras e fazendo uso também do álcool em gel. Nos organizamos para receber a todos com acolhimento, e assim foi feito”, disse o religioso, que esteve à frente de celebrações na capela, no decorrer do dia. No entanto, embora as pessoas só entrassem no santuário e na igreja de máscara, do lado de fora, nas ruas, muita gente caminhava sem a proteção no rosto no meio das aglomerações.
Saudade aos pés da santa
O padre lembrou também que, diferente de outros anos em que as pessoas costumavam ficar diante da santa para pedir e agradecer, sentimentos de saudade também prevaleceram entre os fiéis, em especial os que foram rezar pelos que se foram, levados pela pandemia. “Antes elas vinham pedir ou agradecer, este ano elas vieram com o sentimento de saudade, rezar a Deus por pessoas que anos anteriores estiveram aqui com elas e este ano não estão. Tive uma experiência forte com uma pessoa que em 2020 veio com o esposo e juntos fizeram uma promessa pelo trabalho de um filho. Na saída, ele se voltou olhando para Nossa Senhora e disse ‘se eu não vier, ela virá’, e isso aconteceu. Esse ano ela veio trazendo no coração muita tristeza e saudade, o mesmo sentimento de muitos que subiram o Morro em 2021”.
Comércio menos movimentado
Com fitinhas de Nossa Senhora sendo comercializadas a partir de R$ 0,20 a unidade, “Seu Miranda” tem comércio variado no Morro da Conceição há pelo menos 38 anos. De chaveiros a imagens da santa, ele diz que não costuma reclamar das vendas nos dias da Festa do Morro, mas este ano o movimento foi fraco e só melhorou ontem. “A realidade é que, desde o primeiro dia da festa até o dia 7, véspera do feriado, a movimentação foi pouca por aqui e acho que essa é uma verdade que todo comerciante daqui vai falar. Hoje (ontem) melhorou e por isso agradeço a Deus e a Nossa Senhora”.
A declaração de “Seu Miranda” é semelhante ao que falou Dora Lúcia, a “Dona Dorinha”, como é conhecida no local. Há pouco mais de duas décadas, ela também comercializa artigos religiosos no local, mas reclama que dias que antecederam a festa, as vendas foram poucas. “É, não foi muito bom. Começamos a vender mais no dia da festa, e tomara que até o final as pessoas venham comprar as lembrancinhas”.
A maquiadora Rosa dos Santos levou uma “lembrancinha” para casa. Segundo ela, subir o Morro e descer, sem pelo menos uma fitinha da santa ou um calendário que seja, dá a ela a sensação de que faltou alguma coisa. “Faço meus agradecimentos, meus pedidos e depois vou circular para levar alguma coisa que me lembre a Festa do Morro, já é uma tradição e em todos os anos que venho, não lembro de ter chegado de mãos vazias em casa”, comentou ela, segurando um escapulário que havia acabado de comprar.