Procurador especial critica FBI por investigação sobre Trump e Rússia, mas não confirma conspiração
A "Furacão Crossfire" lançou uma sombra sobre a primeira parte do mandato do presidente republicano sem nenhuma evidência sólida de conluio entre as partes
O procurador especial dos Estados Unidos, John Durham, criticou a investigação do FBI e do Departamento de Justiça sobre o suposto conluio entre a Rússia e a campanha presidencial de Donald Trump em 2016, acusando o governo federal de ter "desconsiderado ou intencionalmente ignorado informações materiais que não sustentavam a narrativa", segundo o relatório final divulgado nesta segunda-feira, após três anos de trabalho.
Entretanto, apesar das falhas, Durham também não encontrou evidências de conspiração política contra o ex-presidente, como alega o republicano.
Durham acredita que o FBI se baseou em informações "brutas, não analisadas e não corroboradas" para iniciar suas investigações e, então, faltou "objetividade" na gestão do processo. "Concluímos que o Departamento [de Justiça] e o FBI falharam em cumprir sua importante missão de estrita fidelidade à lei em relação a certos eventos e atividades" investigados, diz o documento de 306 páginas.
Leia também
• Ataque a tiros deixa ao menos três mortos e vários feridos no Novo México
• EUA diz que Irã e Rússia 'estão ampliando' sua cooperação militar
• Reino Unido fornecerá centenas de mísseis e drones de ataque à Ucrânia
Apelidada de "Furacão Crossfire", a investigação lançou uma sombra sobre a primeira parte do mandato do presidente republicano sem nenhuma evidência sólida de conluio, e foi repetidamente denunciada por Trump como uma "caça às bruxas" encenada por seus oponentes.
Pouco antes do final de seu mandato, o governo Trump confiou a Durham a missão de investigar as origens do caso.
"A velocidade e a maneira como o FBI" decidiu investigar Trump "contrasta com sua abordagem anterior ao caso de possível interferência estrangeira na campanha" da candidata democrata Hillary Clinton, disse Durham. Segundo ele, "o FBI e o Departamento de Justiça devem reconhecer a falta de rigor analítico, os vieses na hora de confirmar e o excesso de confiança em fontes ligadas a adversários políticos", o que teria resultado em que os investigadores não pudessem considerar "hipóteses alternativas" ou agir com "objetividade adequada".
Por sua vez, o FBI justificou, em comunicado nesta segunda-feira, que "a conduta em 2016 e 2017 que o procurador especial Durham examinou foi a razão pela qual a atual liderança da agência já implementou dezenas de ações corretivas, que já estão em vigor há algum tempo", acrescentando que se essas reformas estivessem em vigor em 2016, "os erros identificados no relatório poderiam ter sido evitados".
O anúncio encerra uma investigação altamente esperada, mas também não apontou nenhuma grande revelação sugerindo que a agência federal atacou Trump por motivações políticas, como alega o ex-presidente.
Trump, que busca um segundo mandato presidencial em 2024, elogiou o relatório. "Uau! Após extensa pesquisa, o procurador especial John Durham conclui que o FBI nunca deveria ter lançado a investigação Trump-Rússia! Em outras palavras, o público americano foi enganado", escreveu o ex-presidente em sua rede social, Truth Social, após a divulgação do documento.
Durham foi convocado em abril de 2019 pelo antecessor de Garland, William Barr, para determinar se o FBI ou funcionários da Inteligência cometeram crimes ao conduzir a investigação sobre a campanha de Trump em 2016.
Durham foi então nomeado conselheiro especial por Barr em outubro de 2020, um movimento que permitiu que sua investigação continuasse no governo Biden.
O trabalho de Durham durou mais do que a investigação do procurador especial Robert Mueller, que assumiu a investigação original de interferência da Rússia em maio de 2017 e a concluiu em março de 2019.
Em comparação, a investigação de Mueller resultou em 34 indiciamentos, a condenação do ex-gerente de campanha de Trump, Paul Manafort, por crimes financeiros não relacionados e uma confissão de culpa do primeiro conselheiro de Segurança Nacional de Trump, Michael Flynn, por mentir ao FBI. Trump perdoou Manafort e Flynn antes de deixar o cargo.
Mueller também documentou quase uma dúzia de exemplos de possível obstrução da Justiça por Trump, e sua investigação expôs uma enorme conspiração criminosa de agentes russos para interferir nas eleições de 2016. (Com Bloomberg e AFP.)