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TRÁFICO

Produção de cocaína bate recorde histórico na Colômbia

Em 2022, a Colômbia tinha cerca de 230.000 hectares de cultivos de folha de coca

Imagem ilustrativa de cocaínaImagem ilustrativa de cocaína - Foto: Pexels/Reprodução

A produção de cocaína na Colômbia aumentou 53% em 2023, atingindo a cifra recorde de 2.600 toneladas, segundo relatório das Nações Unidas divulgado nesta sexta-feira (18).

O informe anual do Escritório contra a Droga e o Crime (UNODC) também registrou a cifra mais alta de plantações de folha de coca, que chegaram a 253.000 hectares no ano passado, 10% a mais do que em 2022.

Esses são os maiores dados documentados pela ONU desde que a organização começou a monitorar o assunto, em 2001.

"A coca continua concentrada nas zonas onde a produtividade é maior em suas três fases, cultivo, extração e transformação, fazendo com que um hectare de coca produza hoje até duas vezes a quantidade de cocaína que produzia há dois anos", disse Candice Welsch, diretora regional da UNODC, durante a apresentação do informe em Bogotá.

Em 2022, a Colômbia tinha cerca de 230.000 hectares de cultivos de folha de coca, matéria-prima da cocaína, e produzia 1.738 toneladas da droga.

A tendência à alta é registrada desde 2014, apesar da perseguição ao narcotráfico ao longo de cinco décadas, com a ajuda milionária dos Estados Unidos, o maior consumidor de cocaína do planeta.

A assinatura do acordo de paz com a então guerrilha das Farc, em 2016, tampouco conseguiu conter o boom deste entorpecente, combustível dos grupos armados que prolongam o conflito interno na Colômbia.

No poder desde 2022, o presidente de esquerda Gustavo Petro considera um "fracasso" a chamada guerra às drogas e aposta em uma abordagem mais centrada na prevenção ao consumo nas economias desenvolvidas.

"Vamos iniciar a compra estatal da colheita de coca. Se não mudamos os métodos, não mudamos", anunciou o presidente nesta sexta-feira, sem explicar como vai implementar essa política.

Em 2023, os territórios que registraram um maior aumento líquido dos cultivos foram os departamentos de Cauca e Nariño (sudoeste), redutos de dissidentes das Farc que controlam esse negócio milionário e o cotidiano de extensas áreas camponesas. Os rebeldes impõem o terror nessa região próxima de Cali, que sediará a COP16 sobre biodiversidade a partir de segunda-feira.

'Fragmentado e complexo' 
Em quatro departamentos - Cauca, Nariño, Putumayo e Norte de Santander -, concentram-se áreas de cultivo com mais de 30.000 hectares.

Nariño e Putumayo ficam na fronteira com o Equador, cujo presidente, Daniel Noboa, anunciou nesta semana a descoberta de cerca de 2.000 hectares de cultivos de folha de coca pela primeira vez no país.

Vinte por cento da área total destes cultivos na Colômbia ficam em terras de comunidades afro-descendentes, 10% em reservas indígenas e 18% em áreas florestais protegidas.

Financiados pelo narcotráfico, pela mineração ilegal e pela extorsão, os grupos armados se multiplicam. Apesar do desarmamento das Farc, persistem outras organizações que lucram com as drogas, como dissidentes que rejeitaram o acordo de paz, rebeldes do Exército de Libertação Nacional (ELN) e o Clã do Golfo, maior quadrilha de narcotráfico do país. É um "panorama criminoso cada vez mais fragmentado e complexo", destaca o relatório da ONU.

América do Norte, Europa ocidental e América do Sul são os principais mercados consumidores da droga.

'Sistema indolente'
Petro considera a luta antidrogas um "sistema global anacrônico e indolente". Em março, perante a Comissão de Entorpecentes das Nações Unidas na Áustria, o presidente criticou que historicamente seu país tenha posto "em prática todas as fórmulas equivocadas" para combater o problema. "Sacrificamos nosso desenvolvimento por uma guerra que outros queriam", disse.

A Colômbia vive um conflito armado que deixou 9 milhões de vítimas em mais de meio século, a maioria deslocadas e assassinadas. O presidente pediu à comunidade internacional que coloque "o direito à saúde no centro dos debates".

Um memorando divulgado pela Casa Branca em setembro advertiu para os "números recorde" de cultivos de coca e produção de cocaína em toda a América do Sul, embora reconheça na Colômbia um aumento de 10% na apreensão de cocaína em 2023 em relação ao ano anterior, o equivalente a 841 toneladas métricas.

Ao mesmo tempo, o governo Joe Biden aposta em uma "abordagem holística" do problema das drogas, que inclua a "segurança, a justiça e oportunidades econômicas lícitas para as populações rurais da Colômbia".

Um estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) publicado em agosto estima que a renda média de uma família cocaleira na Colômbia beire os 1.400 dólares (R$ 7.933) por ano, menos da metade do salário mínimo legal no país, onde a informalidade alcança 56%.

Sessenta por cento dos entrevistados disseram plantar coca devido à ausência de outras opções econômicas.

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