EDUCAÇÃO

Professores brasileiros ganham metade do que os de países desenvolvidos, com quase o dobro de alunos

País gastou em 2021 menos de um terço da média das principais economias do mundo que fazem parte da organização

Sala de aulaSala de aula - Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

A edição deste ano do relatório Education at a Glance aponta uma série de dificuldades para os professores brasileiros. O salário inicial dos docentes de ensino médio no Brasil é 47% abaixo da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Outro problema é a quantidade de estudantes. Em média, nos integrantes da OCDE há entre 13 e 14 alunos por professor nas salas de aula da educação básica. No Brasil, esse patamar sobe para 22 e 23.

Além deste panorama, o Brasil gastou em 2021 menos de um terço da média das economias mais desenvolvidas que fazem parte da OCDE. O relatório destacou ainda que o investimento brasileiro (considerando o empregado entre a educação básica e o ensino superior) caiu, em média, 2,5% ao ano entre 2015 e 2021. Já na média dos países da OCDE, aumentou 2,1% anualmente nesse período.

 

Divulgado anualmente pela OCDE, o Education at a Glance reúne e compara os principais indicadores internacionais ligados à educação. Os dados são fornecidos pelos próprios países. Fazem parte da organização economias desenvolvidas como Alemanha, EUA e Japão, além de países emergentes como Turquia e México. Outro grupo de nações, como o Brasil e Argentina, participa do levantamento, mas como convidado.

Na educação básica (ensino fundamental e médio), o Brasil investiu R$ 18 mil anuais por aluno em 2021, de acordo com o relatório. Entre os países avaliados, esse patamar só está acima da Turquia, da África do Sul e do México. Costa Rica, Chile e Argentina estão acima do Brasil, assim como os países da OCDE. Apesar da diferença no investimento por estudante, o Brasil tem uma proporção de gasto público em educação (10,6% do Orçamento) semelhante à média dos países da OCDE (10%).

Para a presidente-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, os números apontados pelo relatório são resultado de duas crises econômicas: a recessão de 2014 e 2015, durante o governo Dilma Rousseff, e a provocada pela pandemia, em 2020.

— O recurso da educação é vinculado aos impostos. Assim, ele é um reflexo da atividade econômica. Quando tem recessão, ele cai. Quando tem atividade aquecida, sobe — explica Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos Pela Educação.

Subfinanciamento
Especialistas apontam que aumentar os gastos não significa necessariamente uma melhora na qualidade da aprendizagem, mas afirmam que o país vive uma situação de subfinanciamento. Isso significa que mais recursos poderiam gerar benefícios importantes só se bem empregados. Na avaliação de Cruz, uma melhora da aprendizagem depende do investimento e da gestão.

— Aumentar o investimento hoje no Brasil teria melhores resultados em alguns lugares, como na maior parte dos estados do Nordeste, que estão mostrando capacidade de gestão, de implementação adequada de políticas — afirma a presidente-executiva do Todos Pela Educação.

Um exemplo de bom gasto incluído no relatório é a Estônia. No Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2022, divulgado no ano passado, o país do Leste Europeu está entre os dez com maiores aprendizagens nas três disciplinas que compõem o teste (Matemática, Leitura e Ciências). Nele, são investidos R$ 54,3 mil por aluno na educação básica. O valor é bem acima do Brasil, mas longe de nações que têm desempenho pior, como Noruega e Áustria. Luxemburgo, país que mais gasta por aluno entre os pesquisados pela OCDE, não participou do Pisa em 2022.

“Embora uma menor proporção de alunos por professor permita aos professores focar mais nas necessidades individuais, isso exige maiores gastos com salários de professores e precisa ser equilibrado com outras prioridades de gastos”, afirma o Education at Glance.

De acordo com Cruz, esse número de alunos por professor precisa ser reduzido. No entanto, para que a medida dê os resultados esperados, é necessário também formar docentes com melhor qualidade para garantir que a atenção mais individualizada seja revertida em aprendizagem, segundo a presidente do Todos pela Educação.

Melhoras
Apesar dos retrocessos, o levantamento também apontou melhoras no país, como um aumento dos gastos na primeira infância (de 0 a 3 anos) de 29% entre 2015 e 2021. Essa é uma etapa escolar em que o Brasil tem ampliado o atendimento. Ainda assim, apenas 57% das crianças do país nessa faixa etária estão na escola, segundo o levantamento. Esse patamar é mais baixo do que a média da OCDE, de 70%.

Outra boa notícia da pesquisa é a redução do número de jovens de 18 a 24 anos que não estudam, nem trabalham. A parcela caiu de 29,4% em 2016 para 24% em 2023. Nessa conta, também estão aqueles que trabalham informalmente, sem registro profissional, ou que precisam abandonar os estudos para cuidar dos irmãos mais novos. Nos países da OCDE, a variação foi de 15,8% para 13,8%.

— O país viu uma diminuição na evasão escolar e um aquecimento do mercado de trabalho. Mas o que mais impacta nesse dado, no longo prazo, foi a diminuição do número de jovens por causa da transição demográfica — ressalva João Marcelo Borges, gerente de Pesquisa e Inovação do Instituto Unibanco.

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