Profissionais de Saúde de Pernambuco condenam 'negacionismo' de autoridades no combate à Covid
Em manifesto, profissionais de Saúde de Pernambuco condenaram o “negacionismo” e o “comportamento irresponsável” de algumas autoridades brasileiras no enfrentamento à pandemia de Covid-19. Segundo o texto do documento, que recolheu 1.458 assinaturas, os trabalhadores assistem “estarrecidos” o desenrolar da pandemia, que já ceifou a vida de mais de 200 mil brasileiros.
Um dos organizadores do manifesto, o médico geriatra Marcos Holmes, afirmou que o texto surge num momento de luta para a categoria de saúde. “O manifesto foi redigido num grupo pequeno de pessoas que não têm nenhuma vinculação partidária, mas que, motivados pelo sofrimento do dia a dia e por como a pandemia tem sido conduzida, entendeu a necessidade de manifestar as ressalvas”, detalhou.
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O texto critica especificamente o posicionamento do Governo Federal e o classifica como “negacionista”. “A atitude negacionista do governo federal é diretamente responsável por essa triste estatística [a alta quantidade de mortes]. Quando a autoridade máxima do país despreza as medidas de isolamento social incita seus seguidores a fazerem o mesmo”, cita o manifesto.
O médico Marcos Holmes acrescenta que atitudes do Governo Federal como a prescrição de cloroquina contra a Covid-19 - medicamento sem eficácia comprovada para tratar o coronavírus -, além da crise do oxigênio em Manaus, são pontos que motivaram a redação do documento.
“Começamos a colocar em redes próximas com pessoas conhecidas e surpreendeu a velocidade das assinaturas. É uma manifestação mais individual dos nomes que assinam. É a necessidade de não se calar diante do que está exposto”, continuou Marcos.
“É necessária a atuação de autoridades médicas, conselhos médicos, sobretudo na questão de tratamentos que não são efetivos, não têm respaldo científico”, sugeriu o médico geriatra, acrescentando que o documento deverá ser entregue ao Governo de Pernambuco, à Secretaria Estadual de Saúde e ao Conselho Regional de Medicina.
“Quem sabe esse documento, que surgiu de forma tão singela, não seja um argumento a mais para que gente muito séria tenha isso como um subsídio a mais para pautar essas demandas [de combate ao vírus]”, completou Marcos.
Leia a íntegra do manifesto:
Nós, que somos profissionais de saúde em Pernambuco, assistimos estarrecidos ao desenrolar da pandemia do Covid 19 e ao comportamento irresponsável de algumas autoridades brasileiras.
São mais de 200.000 vidas perdidas, com a alarmante previsão de aumento significativo desse número nas próximas semanas. Somos o segundo país em número de mortes em todo o mundo. A atitude negacionista do governo federal é diretamente responsável por essa triste estatística. Quando a autoridade máxima do país despreza as medidas de isolamento social incita seus seguidores a fazerem o mesmo.
No meio da maior catástrofe sanitária do século, o Ministério da Saúde está nas mãos de uma equipe ineficiente na coordenação da crise. Não há planejamento estratégico. Uma fortuna foi investida na compra de tratamentos sabidamente inúteis, enquanto faltam insumos e aparelhos que salvam vidas, como oxigênio e ventiladores. Enquanto assistimos dezenas de países seguirem com campanhas de vacinação organizadas e exitosas, permanecemos sem previsão de um programa efetivo de imunização.
O silêncio de nossas lideranças médicas permite que tratamentos ineficazes e até danosos continuem a ser amplamente prescritos. É preciso deixar claro que não existe medicação que possa prevenir ou tratar precocemente a COVID19! É preciso esclarecer a população que o processo de vacinação precisa ser um pacto coletivo e por isso deve ser obrigatório, pois este é o único caminho seguro para o fim da pandemia.
Nós abaixo assinados, em organização suprapartidária, partindo da percepção que o momento exige sensibilidade, racionalidade e compaixão, reiteramos nossa defesa da ciência como norte e nosso repúdio à adoção sistemática de discursos negacionistas, à propagação de tratamentos falaciosos e informações falsas e à inércia das autoridades.
Estamos de luto pelas milhares de vidas perdidas e compreendemos que é um dever histórico levantar nossas vozes. Compreendendo o papel social dos profissionais de saúde como formadores de opinião, não podemos continuar calados e omissos frente a tantos desmandos. É preciso que a sociedade se posicione e se organize, para que possamos reverter a triste situação em que nosso país se encontra! É preciso dizer “BASTA” a tanto desmando!
Exigimos medidas mais enérgicas no enfrentamento à crise sanitária, com reforço das medidas preventivas, início imediato de um programa estruturado de imunização da população e garantia da disponibilidade de serviços e insumos para tratamento dos doentes.
Recife, 18 de janeiro de 2021