Projeto da Universidade Federal de Pernambuco visa a tratar epilepsia por meio do som
A doença atinge 3% da população mundial
Um projeto da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) busca disponibilizar um tratamento para a epilepsia por meio de ondas sonoras. A epilepsia é uma doença que se manifesta por uma repetição, em intervalos irregulares de tempo, de perda de consciência, acompanhada ou não de convulsões.
Cerca de 3% da população mundial sofre com a doença, e por volta de 1/3 dessas pessoas não consegue controlar as crises, de acordo com o idealizador do projeto, professor Marcelo Cairrao. "Nem com cirurgia, nem com o remédio. Então tem gente que toma às vezes 4 remédios por dia e não se controla", conta o pesquisador.
O nome dado a crises de convulsão epiléptica que não são controladas por medicamentos é "epilepsia refratária". A tese do pesquisador é de que o tratamento com pulsos sonoros represente uma saída para o grupo.
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A técnica consiste em usar ANPS (acustic non-periodis stimulation) para mudar o sincronismo do cérebro. "A crise epiléptica é uma mudança no sincronismo dos neurônios, que leva a um funcionamento aberrante. O ANPS atua no sentido botton-up, ou seja, muda o sincronismo do cérebro de baixo para cima, do tronco encefálico para o cérebro, através da via auditiva.Os núcleos do tronco encefálico, responsáveis pela localização da fonte sonora, tentam comparar o som ouvido pela orelha direita com o da esquerda. Como não há nenhuma atividade semelhante (porque ambos os sons são embaralhados e o intervalo interpulso segue a lei de potência), os núcleos de processamento auditivo (núcleos cocleares, complexo olivar entre outros) sofrem processo de mudança de sincronismo. Esta vai recrutando os demais elementos da via auditiva ate chegar ao córtex sensorial auditivo primário no lobo temporal. Daí o estimulo se espalha para outras áreas do córtex", explicou Cairrao.
Por não atuar a nivel molecular, em receptores, mas em macroelementos circuitais, o ANPS pode ser um tratamento eficaz para pessoas que não apresentaram melhoras com uso de fármacos. Além de tratamento para epilépticos que possuem crises resistentes a medicamentos, o "Estudo do Efeito Eletroencefalográfico de Estimulação Acústica Dessincronizante e TDCS em Pacientes Epilépticos" também visa reduzir o uso de medicamentos, poupando os danos renais ou hepáticos que podem ser causados por excesso de medicamentos.
"Quando você dá quatro medicamentos e vai aumentando a dose deles, você vai sobrecarregando o fígado e sobrecarregando os rins também", comentou. A busca por outros tratamentos visa atender este público e até, talvez, substituir o medicamento de quem já faz uso.
O tratamento com cannabis, por exemplo, que já tem eficácia comprovada contra crises de epilepsia, reduz a necessidade de tratamento com fármacos que podem ser danosos ao corpo em alta dosagem. No entanto, por ser feito com um extrato da maconha, uma planta de uso proibido no Brasil, o uso do tratamento é restrito a poucos casos.
Para o tratamento com o som antiepiléptico, a pesquisa da UFPE disponibiliza o som por meio de aplicativo para os pacientes, que devem ouvi-lo três vezes ao dia por um período de 30 minutos por vez.
Atualmente, a pesquisa com o som potencialmente anticonvulsivante é desenvolvida no Hospital das Clínicas da UFPE com 20 pacientes iniciais. No momento, o grupo de pesquisadores atua de forma direcionada com pessoas que possuem "epilepsia refratária", resistente ao uso de medicamento.
Para ter acesso à pesquisa, ou participar, a pessoa pode entrar em contato pelo instagram @neurodinamicaufpe ou pelos números: (81) 99729-9539 - Igor; (83) 99654-4936 - Marilia; (81) 98206-9779 - Marcelo Cairrao.