Sustentabilidade

Projeto visa à recuperação da bacia do Rio Goitá com reflorestamento de matas ciliares

Espécies que serão plantadas em cinco municípios da Zona da Mata foram desenvolvidas em laboratório pelo Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste

Foto: Guto Moraes/Cetene

Em meio ao cenário de condições inadequadas do Rio Goitá, que já atrapalha a manutenção de famílias da zona rural de Glória do Goitá, na Zona da Mata de Pernambuco, uma iniciativa de pesquisadores visa recuperar a bacia hidrográfica do rio, com o projeto Nascentes do Goitá, apresentado nesta quinta-feira (24), pelo Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta), em parceria com o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, e com apoio da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas), do Governo de Pernambuco. 

Após observações, os pesquisadores constataram que populações que vivem próximas ao rio Goitá, nas cidades de Glória do Goitá, Feira Nova, Lagoa de Itaenga, Pombos e Vitória de Santo Antão, migraram para outros locais, por conta do impacto provocado pelo desmatamento e pela poluição. 

Estudantes do curso técnico em Agroecologia oferecido pelo Serta estarão entre os responsáveis pela inserção das espécies nativas da Mata Atlântica nas margens da bacia. Pelo menos 600 mudas de arbóreas foram doadas pelo Cetene para a unidade em Glória do Goitá. São ipês amarelo, branco, rosa, pata-de-vaca, jacarandá, cagaita, jatobá e diversas outras. Representante do Cetene, o também gestor ambiental Erik Bussmeyer explica que cada espécie tem sua função.

“Elas atraem animais diferentes por causa da dispersão das sementes, o que colabora com a própria preservação naquela região”, aponta o pesquisador bolsista do Cetene. 

Coordenador do projeto, o gestor ambiental do Serta, Josivam Nascimento, revela que nove nascentes já foram identificadas e devem contar com o início do reflorestamento da mata ciliar ainda neste mês, considerando o período de chuvas.

“Iremos trabalhar também a partir de visitas técnicas, de capacitações e sistemas agroflorestais. O objetivo é envolver a comunidade”, adianta.

O estudante de Agroecologia Jailson Antônio, morador do sítio Maçaranduba, localizado na área rural de Glória do Goitá, relembra a transformação da região na última década.

“O Goitá era um rio que todo mundo utilizava, conseguíamos ver praticamente tudo dentro dele. Depois que começaram a desmatar e a jogar esgotos, a coloração mudou e algumas espécies aquáticas desapareceram”, lamenta. No sítio, ele vive com a avó e o tio, mas já não plantam coentro, como antes. A água que não tem qualidade para o consumo também danifica os vegetais. Por isso, para o consumo da família, são cultivadas macaxeira, milho e feijão, com o recurso comprado. Ainda que exista um rio correndo a metros da residência.

Com a regeneração do rio, não é só a vida de Jailson e de sua família que deverá melhorar. A agricultora Jaqueline Maria, 31, cultiva orgânicos em Chão de Pedra, também no município. Lá passava uma das nascentes do Goitá, que já não escoa. Dentre seus sonhos está o abastecimento da escola da comunidade.

“Hoje a água vem de outro lugar, mas já abastecemos a cidade. Tendo essa recuperação para as crianças já é uma grande coisa. A gente vai saber de onde vem essa água, qual a qualidade e tem muita gente ainda depende de lá, que carrega água de jumento, na cabeça. A nossa comunidade só não faz esse trabalho, mas tendo uma ajuda ela se anima”, divide.

Aporte financeiro para reflorestar

A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) também está afinada com o trabalho de reflorestamento no Estado. Para o Projeto Nascentes do Goitá, a pasta destinou R$ 300 mil. “Desde 2019, perseguimos a construção de um projeto de reflorestamento no Estado. O fio da meada foi procurar as nascentes, pois verificamos que elas, como produtoras de água, podem ser o ponto de partida desse trabalho. Discutimos no Conselho de Meio Ambiente que o melhor modelo seria apoiar os agricultores que já cuidam dessas nascentes e, assim, fazer sistemas agroflorestais”, declarou o secretário José Bertotti.

A tecnologia pela preservação

Ao todo, 57 espécies arbóreas da Mata Atlântica são cultivadas pelo Laboratório de Pesquisas Aplicadas aos Biomas (Lapab), do Cetene. Na unidade situada no bairro da Cidade Universitária, no Recife, a flora ameaçada tem encontrado aliados na ciência. Uma das técnicas utilizadas para a propagação de mudas é o cultivo in vitro, quando a germinação da espécie acontece em tubos de ensaio com auxílio de um gel rico em sais e hormônios necessários ao seu desenvolvimento. A pesquisa iniciada pela bióloga e pesquisadora Laureen Houllou já soma 10 anos. Hoje reconhecida como Projeto Mata Atlântica, já foram produzidas aproximadamente 15 mil mudas.

O biólogo Robson Souza é pesquisador bolsista da Casa e explica as vantagens do cultivo in vitro. “Algumas espécies são difíceis de se reproduzir na natureza, por questões biológicas. Muitas vezes levam anos ou nem chegam a germinar por contaminações. Por isso, nós nos ant

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