Venezuela

Promotor da Venezuela diz que assassinato de ex-militar opositor no Chile foi para tumultuar

Ronald Ojeda Moreno foi sequestrado em fevereiro por pessoas que se passaram por policiais chilenos e encontrado morto dias depois

Chile alerta Interpol sobre sequestro de ex-militar venezuelano, Ronald Ojeda, opositor de Maduro no país. Chile alerta Interpol sobre sequestro de ex-militar venezuelano, Ronald Ojeda, opositor de Maduro no país.  - Foto: Reprodução / Redes Sociais

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, levantou nesta quarta-feira uma “nova linha de investigação” sobre o assassinato no Chile do militar reformado Ronald Ojeda Moreno, opositor do governo de Nicolás Maduro, em fevereiro. Saab descreveu o assassinato como um “falso positivo” com a participação de agentes de segurança chilenos. Em abril, o Ministério Público chileno encerrou a primeira fase da investigação e afirmou que o crime foi encomendado em solo venezuelano. A ministra do Interior Carolina Tohá apontou que a hipótese "mais plausível" é de que "houve motivação política".

Ojeda, de 32 anos, membro aposentado do exército venezuelano, foi sequestrado em 21 de fevereiro por pessoas que se passavam por policiais chilenos. Nove dias depois, foi encontrado morto dentro de uma mala que havia sido enterrada em uma comunidade na capital chilena. A vítima não tinha nenhuma ligação aparente com o crime organizado e estava realizando atividades legais no Chile, onde passou a morar após escapar de uma prisão venezuelana, acusado de conspiração. Em suas redes sociais, o ex-militar se descreveu como “prisioneiro político”.

— Foi uma operação de bandeira falsa, um falso positivo (...) Foi uma operação (...) com o objetivo de tumultuar as relações entre o Chile e a Venezuela justamente quando estava ocorrendo uma importante reaproximação — disse o procurador-geral da Venezuela. — O assassinato de Ronald Ojeda [foi] para politizá-lo, para orquestrar uma campanha de ataque contra o Estado venezuelano.

Saab se referiu à tese do promotor chileno, na qual ele “descreve a operação, devido à sua organização, tamanho, modus operandi e resultado, como uma grande quadrilha”. A investigação até agora estabeleceu que membros de uma organização criminosa transnacional, possivelmente do Trem de Aragua, que tem tentáculos na região, foram os autores materiais do sequestro organizado na Venezuela.

— Eu também poderia dizer, e essa é agora uma teoria que deve ser uma linha de investigação, que esse assassinato foi cometido por serviços de inteligência estrangeiros com o apoio de funcionários da inteligência chilena — disse ele.

Saab, que é acusado de servir ao chavismo no poder, disse que seu escritório enviou dois representantes a Santiago para colaborar com a investigação, mas eles não foram recebidos pelo procurador-geral do Chile ou pelos agentes designados para o caso.

Relembre o caso
Na madrugada de 21 de fevereiro, Ojeda foi sequestrado de seu apartamento na comuna de Independência por desconhecidos que invadiram o 14º andar do prédio disfarçados de policiais. Escoltado por cúmplices, um dos sequestradores envolveu o pescoço do ex-tenente com seu braço esquerdo, o conduziu ao elevador e, posteriormente, a um veículo que os aguardava no estacionamento. Ojeda estava apenas de cueca.

Posteriormente, em uma fuga que deixou rastros em câmeras de vigilância e até mesmo em um posto de gasolina — onde um dos envolvidos comprou combustível com seu cartão de crédito e acumulou pontos de fidelidade em seu nome —, a vítima foi levada para uma casa onde teria permanecido viva por pouco tempo, pois a autópsia posterior estabeleceu uma data de morte provável nos primeiros dias do desaparecimento. Ojeda morreu por "asfixia por suspensão", segundo seu atestado de óbito.

— Há um grau de organização, de execução desse crime que não vimos antes. O Trem de Aragua nunca agiu protagonizando uma cena como a desse caso, disfarçados de policiais, e ainda tiveram o trabalho de enterrá-lo a 1,4 metro de profundidade e cimentar o o local onde estava sepultado. Isso o Trem de Aragua nunca fez — afirmou o promotor em entrevista à rede Chilevisión na quinta-feira.

Barros disse não saber se o sequestro e homicídio foram orquestrados pela Direção Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM) da Venezuela, uma organização acusada por opositores do governo do presidente Maduro de praticar tortura e repressão contra dissidentes.

Até o momento, apenas um menor de 17 anos de nacionalidade venezuelana foi detido pelo crime. Os investigadores identificaram também como suspeitos Walter Rodríguez e Maickel Villegas, que, segundo a reportagem transmitida na quinta-feira, estariam na Venezuela.

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