Protesto por manifestantes mortos no Peru se transforma em festa carnavalesca com policiais
O Peru viveu cerca de dois meses de agitação social depois que Dina Boluarte assumiu o cargo, substituindo Pedro Castillo
Um protesto contra o governo em Puno, nos Andes peruanos, transformou-se em festa de carnaval nesta quarta-feira (22), com manifestantes e policiais borrifando espuma e água uns nos outros, um gesto amigável, que contrasta com a convulsão social violenta que o Peru registra desde dezembro.
"Nossas tradições carnavalescas estão presentes", disse à AFP Rosmery Cutipa, uma manifestante de 42 anos, que comemorava o carnaval. Ela exibia um cartaz com a imagem de José Luis Aguilar, jovem de 22 anos morto em Ayacucho (550 km a sudeste de Lima) em 15 de dezembro, durante um protesto contra a presidente peruana, Dina Boluarte.
"Com nossas tradições, seguimos protestando, e não iremos nos render ou cansar até que Dina Boluarte renuncie", acrescentou a mulher, com o rosto coberto pelo pó de talco usado na festa.
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Essa celebração particular ocorreu por volta do meio-dia, quando uma marcha em homenagem aos 48 civis mortos em confrontos com as forças de segurança chegou à delegacia em frente à Plaza Mayor de Puno, capital da região de mesmo nome, às margens do Lago Titicaca.
Na Plaza de Armas, um grupo de pessoas se reúne todos os dias para expressar seu descontentamento com o governo de Dina Boluarte. Alguns manifestantes discursam e, depois, vão embora.
Mas nesta quarta-feira foi diferente. Após a marcha, os manifestantes começaram a borrifar espuma, água, confete e talco nos policiais, que usavam capacete e equipamento antimotim e se viram cobertos de espuma de carnaval em seus escudos e corpos.
A polícia passou, então, 'à ofensiva' e respondeu de forma amistosa, jogando espuma e baldes de água contra a multidão.
Na manifestação, que se tornou parte da tradicional celebração do carnaval de Puno, cerca de 100 pessoas se reuniram, entre crianças e adolescentes, e se divertiram por cerca de uma hora com os policiais, que também exibiram sorrisos.
O Peru viveu cerca de dois meses de agitação social depois que a presidente assumiu o cargo, substituindo Pedro Castillo, destituído pelo Congresso depois de tentar dissolver o Parlamento e governar por decreto.
A queda de Castillo desencadeou uma onda de protestos, especialmente no sul dos Andes peruanos, pela renúncia da presidente, a convocação de eleições gerais e uma Assembleia Constituinte.
A ONG Anistia Internacional alertou na semana passada que "graves violações dos direitos humanos" estavam sendo "cometidas no Peru no contexto da violenta repressão estatal contra os protestos sociais", o que foi negado pelo governo peruano.