Protestos contra o golpe no Sudão desafiam os militares
O general, Abdel Fattah al-Burhane, dissolveu na segunda-feira (25) o governo que deveria conduzir o país para um regime civil
Os protestos contra o golpe militar no Sudão, condenado internacionalmente, entraram nesta quinta-feira (28) no quarto dia: os manifestantes voltaram a erguer as barricadas que haviam sido destruídas na véspera pelos soldados.
Sete manifestantes morreram desde o golpe de Estado na segunda-feira (25), informou à AFP o diretor do departamento de medicina legal do ministério da Saúde, Hicham Faquiri.
"Sete corpos de manifestantes foram admitidos no necrotério na segunda-feira, assim como o cadáver de um paramilitar das Forças de Apoio Rápido", influente organização acusada de envolvimento na repressão da revolta popular que derrubou o ditador Omar Al-Bashir em 2019, afirmou o doutor Faquiri nesta quinta-feira.
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Ele acrescentou que "outros corpos foram levados ao necrotério nos dias seguintes e apresentavam sinais de ferimentos violentos com objetos contundentes", mas não teve condições de revelar um número.
O general Abdel Fattah al-Burhane, governante de fato do Sudão desde a derrubada de Bashir, dissolveu na segunda-feira (25) o frágil governo que deveria conduzir o país para um regime civil.
O governo dos Estados Unidos e o Banco Mundial congelaram as ajudas e denunciaram o golpe militar, enquanto a União Africana (UA) suspendeu a participação do Sudão na organização.
Desafiadores
Os manifestantes querem defender suas barricadas em uma tentativa de paralisar o país com uma campanha de "desobediência civil", decretada por praticamente todos os movimentos da oposição.
De fato, os estabelecimentos comerciais permanecem fechados por estas campanhas de desobediência civil e os movimentos pró-democracia intensificaram os apelos a realizar "protestos de um milhão" no sábado.
"As forças de segurança tentaram desmontar nossas barricadas, usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha", contou o manifestante Hatem Ahmed, da zona norte de Cartum.
"Mas nós reconstruímos assim que eles foram embora, só vamos retirar as barricadas quando o governo civil retornar", disse.
Este é o golpe mais recente no empobrecido país do leste da África, que viveu poucos períodos democráticos desde sua independência em 1956.
As lojas permanecem fechadas pelas campanhas de desobediência civil. Os movimentos pró-democracia intensificaram os apelos para um protesto que pretende reunir um milhão de pessoas no sábado.
O primeiro-ministro Abdallah Hamdock, que foi detido na segunda-feira pelos militares, que também prenderam várias autoridades civis, permanece em sua casa sob vigilância. Outros ministros estão em detenção militar.
Um comunicado conjunto dos Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido, Noruega e outros países enfatiza que "continuam reconhecendo o primeiro-ministro e seu gabinete como os líderes constitucionais do governo de transição".
Burhane, um militar de alta patente durante as três décadas de governo autoritário de Bashir, destituiu na quarta-feira seis embaixadores sudaneses que eram favoráveis aos dirigentes civis detidos.
Apesar da repressão, os manifestantes permaneceram nas ruas da capital até a noite de quarta-feira, informou a Associação de Profissionais Sudaneses (APS), que reúne vários sindicatos e foi crucial no movimento que derrubou Bashir.
Vídeos divulgados pela agência APS mostram os manifestantes pedindo "governo civil" e convocando os protestos de 30 de outubro, enquanto alguns exigiam que de Burhane fosse levado para a penitenciária de segurança máxima de Kober, em Cartum, onde Bashir está preso.
Na quarta-feira, centenas de manifestantes lançaram pedras contra as forças de segurança no distrito de Burri, ao leste de Cartum.
O general Burhane assegura que em breve nomeará novas autoridades e os militares mantêm a maioria dos dirigentes civis "sob vigilância" ou detidos .
Para justificar sua ação, o general Burhan alegou na terça-feira que havia um risco de "guerra civil" após uma manifestação em massa contra o exército. Mas a alegação não convenceu a União Africana, que suspendeu o Sudão de suas instituições, nem ao Banco Mundial, nem aos Estados Unidos, que congelaram as ajudas ao país.