Protestos na França ameaçam visita de Charles III
O rei pode encontrar ruas cheias de lixo, transportes em greve e contratempos
Em sua primeira viagem ao exterior como rei da Inglaterra na próxima semana, Charles III pode encontrar ruas cheias de lixo, transportes em greve e contratempos em sua visita à França em pleno conflito social por uma reforma impopular.
Um assessor do presidente francês Emmanuel Macron, que pediu anonimato, disse à AFP nesta quarta-feira(22) que a "agenda ainda está sendo elaborada por ambas as partes".
A viagem planejada pelo soberano britânico como uma declaração de amizade dos dois lados do Canal da Mancha ocorre em meio a protestos massivos contra o adiamento da idade de aposentadoria de 62 para 64 anos na França.
Milhares de toneladas de lixo se acumulam nas ruas de Paris, onde Charles chegará no domingo com a rainha consorte Camilla, e sindicalistas alertam que sua passagem por Bordeaux (sudoeste) será conturbada.
A programação do monarca na cidade produtora de vinho inclui um passeio de bonde e uma visita à Câmara Municipal, onde ocorreram confrontos na semana passada. "É quase certo que o rei não poderá pegar o bonde", disse Pascal Mesgueni, do sindicato CFTC, ao jornal local Sud Ouest.
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A operadora de transporte urbano Keolis alertou para possíveis “interrupções relacionadas aos protestos contra a reforma da Previdência”.
Os sindicatos convocaram uma greve nacional na quinta-feira na França, mas seus planos para a próxima semana são desconhecidos.
Uma fonte do serviço ferroviário CGT disse que "haverá uma ação em torno da visita" real em meio a especulações de que o monarca pode decidir pegar o trem entre Paris e Bordeaux.
Ainda não estão claras as condições para os jornalistas franceses que desejam cobrir a viagem, algo incomum em uma visita de tamanho diplomático e interesse público.
"Monarca republicano"
A viagem ocorre em um momento complicado para Macron, de 45 anos, que receberá Charles III em um banquete de Estado no Palácio de Versalhes, nos arredores da capital.
O Palácio ficou marcado na memória dos franceses por ser lar do rei Luis XVI, transferido para Paris durante a Revolução Francesa em 1789 e guilhotinado quatro anos depois.
Os críticos de Macron costumam acusá-lo de ser autoritário e de governar como um "monarca republicano" e a adoção por decreto de sua reforma previdenciária reafirmou essa visão.
"É realmente a prioridade receber Charles III em Versalhes? Claro que não! (....) A prioridade é discutir com a sociedade que protesta", afirmou a deputada Sandrine Rousseau aos meios BFMTV e RMC.
Depois da França, Charles III e sua esposa devem viajar à Alemanha. A escolha dos dois países foi percebida como uma tentativa de erguer pontes entre o Reino Unidos e seus principais aliados europeus após anos de tensões pelo Brexit.
Segundo a agenda divulgada pelo Palácio de Buckingham, Charles deve participar de uma cerimônia no Arco do Triunfo ao lado de Macron na segunda-feira e falar aos parlamentares no Senado francês.
Sua estadia em Bordeaux também deve incluir uma visita a uma vinícola ecológica e uma região devastada por incêndios florestais durante o último verão no hemisfério norte.