Psilocibina, composto dos cogumelos mágicos, é testada (com sucesso) para tratar anorexia
O composto consegue flexibilizar o cérebro, facilitando a aplicação de outras terapias direcionadas para tratar a doença
Um novo estudo mostrou que a psilocibina, derivada de cogumelos, funciona no tratamento da anorexia nervosa. Segundo os pesquisadores, durante os experimentos a substância conseguiu melhorar a manutenção do peso corporal e facilitar a flexibilidade cognitiva em ratos de laboratório com a doença.
Esta, que é caracterizada pela perda de peso patológica impulsionada por uma alimentação restritiva e comportamentos excessivos de exercício. Além disso, apresenta uma das maiores taxas de mortalidade dentre as doenças psiquiátricas.
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De acordo com a equipe responsável pela pesquisa, publicada na revista científica Molecular Psychiatry, foi descoberto um mecanismo específico dentro do cérebro pelo qual a psilocibina atua para tornar o “pensamento anoréxico” mais flexível, abrindo caminho para terapias direcionadas.
“A inflexibilidade cognitiva é uma marca registrada da condição que geralmente surge antes que os sintomas da anorexia nervosa sejam óbvios e persiste após a recuperação do peso – tornando esse sintoma um alvo primário para intervenção terapêutica”, afirma a pesquisadora Claire Foldi, uma das autoras do estudo, em comunicado.
Ela ressalta que embora os antidepressivos sejam o principal tratamento farmacológico atual, eles são usados off-label e não melhoram os sintomas clínicos em indivíduos com baixo peso e anorexia.
Tratamento do alcoolismo
Outro estudo, publicado na Jama Psychiatry, descobriu que apenas duas doses de psilocibina, combinadas com psicoterapia, levaram a uma redução de 83% na ingestão excessiva de álcool entre os participantes. Aqueles que receberam placebo diminuíram em 51% o uso de bebidas alcoolicas.
Ao final do teste de oito meses, quase metade daqueles que receberam a substância pararam de beber completamente na comparação com os cerca de um quarto daqueles que receberam o placebo, de acordo com os pesquisadores.
Também tem ação eficaz contra o vício no tabaco
Belle Buzzi, da Universidade Commonwealth da Virgínia (EUA), estudou o efeito da psilocibina sobre a molécula 5HT2A, um “receptor” específico que neurônios usam para processar o neurotransmissor serotonina. Usando animais geneticamente modificados, ela mostrou que essa proteína é uma via de ação da psilocibina para tratar dependência química. No estudo, os animais também demonstraram sinais clínicos de melhora.
“A psilocibina reverteu os sinais corporais decorrentes da abstinência de nicotina em camundongos. Nosso estudo sugere que psicodélicos clássicos como a psilocibina possam ser um tratamento efetivo para parar de fumar", escreveu a cientista.
Série de pesquisas
A atual série de pesquisas relacionadas ao composto se deu após a Food and Drug Administration (FDA), a autoridade de vigilância sanitária dos EUA, mudar a política em relação a ele. O sucesso em testes iniciais precipitou a agência a dar status de “breakthrough drug” (droga de inovação radical) à psilocibina em 2018, priorizando a avaliação de ensaios clínicos.