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COREIA DO SUL

"Pulei o muro, tinha que proteger a democracia", conta parlamentar sul-coreano após lei marcial

Porta-voz de partido da oposição confrontou soldados armados que tentavam entrar na Assembleia Nacional na noite de terça-feira

Woo Won-Shik, presidente do Parlamento, invade a Assembleia Nacional para suspender lei marcial após ser bloqueado pela polícia Woo Won-Shik, presidente do Parlamento, invade a Assembleia Nacional para suspender lei marcial após ser bloqueado pela polícia  - Foto: X/reprodução

A imposição de uma breve e controversa lei marcial pelo presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, pegou a todos de surpresa na terça-feira a noite, em um contexto de intensa disputa entre o governo e a oposição. A medida, denunciada como ilegal, foi anunciada durante um pronunciamento televisionado à nação, gerando reações imediatas tanto da população, quanto da classe política.

Woo Won-shik, presidente da Assembleia Nacional da Coreia do Sul e figura de destaque da oposição, disse à BBC Coreia nesta quarta-feira que sua primeira reação foi correr para o Parlamento, com a intenção de “proteger a democracia”. Ao chegar ao local, porém, ele foi surpreendido pela presença da polícia controlando o acesso ao edifício.

O parlamentar foi então até os fundos do prédio, onde a segurança era mais fraca, pulou o muro e conseguiu entrar, algo que, segundo ele, também foi necessário para outros políticos.

— Pulei o muro para entrar — disse Woo. — Eu tinha que proteger a democracia.

Ahn Gwi-ryeong, porta-voz do Partido Democrático, de oposição, também teve a passagem bloqueada por soldados armados. Mas isso não foi suficiente para detê-la. Enquanto os militares avançavam para a Assembleia Nacional, a mulher de 35 anos se posicionou diante deles, desafiadora, sob a mira de um fuzil. O momento foi capturado em vídeo e viralizou nas redes sociais na noite de terça.

— Eu não pensei — afirmou Ahn à BBC. — Simplesmente soube que precisávamos impedir isso.

A porta-voz do Partido Democrático lembra que chegou à Assembleia Nacional pouco depois das 23h (horário local) e apagou as luzes de seu escritório para não ser detectada, enquanto helicópteros sobrevoavam a área. Quando chegou ao prédio principal, encontrou soldados confrontando funcionários, assessores e cidadãos. Ao perceber a presença dos militares avançando, deu um passo à frente e agarrou a arma apontada para si com as próprias mãos.

— Sinceramente, fiquei assustada no começo, mas ao ver o confronto, pensei: "Não posso ficar em silêncio" — contou ela, antes de se emocionar e começar a chorar. — É desolador e frustrante que isso esteja acontecendo na Coreia do século XXI — afirmou.
 

Há dois anos no cargo, o presidente conservador, muito impopular e com dificuldades para governar porque não tem maioria no Parlamento, surpreendeu a população quase às 23h de terça-feira (horário local) ao declarar lei marcial pela primeira vez em mais de 40 anos no país, medida que justificou para supostamente “erradicar as forças pró-Coreia do Norte e proteger a ordem constitucional livre”, em meio a uma forte disputa com a oposição no Parlamento.

A medida — que determinava o fechamento do Congresso, proibia manifestações públicas e reuniões políticas e estabelecia o controle da imprensa — foi suspensa horas depois, após ser derrubada em votação por deputados de oposição e governistas. Apesar do recuo, a decisão deixou o país em uma das piores crises políticas de sua História moderna.

Soldados tentaram bloquear a entrada da Assembleia para impedir que os parlamentares acessassem o plenário, mas 190 conseguiram passar e votaram unanimemente contra Yoon. Destes, 172 eram da oposição e 18 de própria sigla do presidente, o PPP.

Após a votação, Yoon retirou sua proposta de impor lei marcial e convocou uma reunião emergencial de Gabinete, que aprovou uma moção para suspender a medida, informou a agência de notícias Yonhap na madrugada desta quarta-feira (tarde de terça em Brasília).

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