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Purificadores do Brasil foram barrados em Gaza por "ferir lista de produtos autorizados"

Diretora do departamento do Ministério das Relações Exteriores de Israel negou que a medida se trate de uma retaliação às recentes declarações do presidente Lula sobre o governo

Ajuda humanitária para a faixa de GazaAjuda humanitária para a faixa de Gaza - Foto: AFP

A diretora do departamento do Ministério das Relações Exteriores de Israel para agências da ONU e organizações internacionais, Judith Galil Metzer, afirmou nesta quarta-feira que os purificadores de água enviados pelo Brasil para Gaza e bloqueados no Egito foram impedidos de entrar no enclave palestino por ferir a lista de produtos autorizados pelo governo israelense de cruzar a fronteira. Ela negou que a medida se trate de uma retaliação às recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, consideradas hostis a Israel.

— O que está autorizado pelo governo a entrar [em Gaza] é água, comida, suprimentos médicos e combustível — declarou Metzer, em entrevista na tarde desta quarta-feira, na sede da Chancelaria israelense, em Jerusalém. — De jeito nenhum [se trata de uma retaliação]. Qualquer contribuição que o Brasil decida enviar aos palestinos chegará a Gaza, serão autorizadas a entrar.

A retenção da carga brasileira foi noticiada pelo deputado italiano Ângelo Bonelli, do partido Europa Verde. Bonelli, que está na região, disse em suas redes sociais que 400 pacotes estavam na passagem de Rafah, sendo 30 enviados pelo Brasil.

Oficialmente, o governo israelense diz que o país não controla a operação de envio de ajuda humanitária nem a quantidade de caminhões que entram em Gaza. Previamente ao envio, contudo, as Israel faz duas intervenções: além da imposição da lista de produtos autorizados a entrar, há uma etapa de revista dos caminhões — que a diplomata afirma não interferir no fluxo de entrada da ajuda.

— Até o momento, não houve nenhum congestionamento no lado israelense. Não trabalhamos nos sábado (em função do shabat, dia do descanso judaico), o que pode desatar uma demanda maior no domingo pela manhã. Mas não há excesso de demanda.

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Ainda de acordo com informações oficiais da diplomacia israelense, as doações provenientes de países estrangeiros estão todas sendo enviadas por Rafah, ficando a operação de entrega aos palestinos subordinada à autoridade egípcia. No caso das passagens israelenses, como Kerem Shalom, apenas organizações internacionais estão autorizadas a transitar, mas sem envolvimento da atuação de militares israelenses na entrada e entrega.

Posição brasileira

Interlocutores da área diplomática disseram ao GLOBO que não veem essa questão como uma crise, em um momento em que as relações entre Brasil e Israel estão abaladas. A avaliação é que esse tipo de procedimento de segurança é adotado com frequência no ingresso de alimentos, remédios e outros itens como ajuda humanitária às pessoas que se encontram na Faixa de Gaza.

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Nesta quarta-feira, no entanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar Israel e disse que a população da Faixa de Gaza tem sido impedida de receber ajuda humanitária.

— Não é possível continuar essa matança sem que o conselho de segurança da ONU pare essa guerra e permita que chegue alimento e remédio. Tem mais de 30 toneladas de alimentos estocados que não conseguem chegar — afirmou.

A crise diplomática entre os dois países começou no mês passado, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou as mortes de palestinos em Gaza à matança de judeus na Segunda Guerra Mundial. O governo israelense convocou o embaixador do Brasil, Frederico Meyer, para uma reunião considerada "inaceitável" pela chancelaria brasileira, no Museu do Holocausto, em Jerusalém. Meyer voltou para o Brasil.

No começo desta semana, o presidente voltou a criticar o governo israelense nesta segunda-feira e posou para fotografias segurando uma bandeira da Palestina.

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