Guerra

Putin diz que Rússia consideraria resposta nuclear a ataque aéreo "massivo"

Declaração é feita num momento em que Ucrânia pede a aliados ocidentais autorização para usar armas de longo alcance para atingir o território russo

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ouve o primeiro-ministro e o ministro das Relações Exteriores do Catar durante reunião em MoscouO presidente da Rússia, Vladimir Putin, ouve o primeiro-ministro e o ministro das Relações Exteriores do Catar durante reunião em Moscou - Foto: Sergei Bobylyov/Sputnik/AFP

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, alertou o Ocidente nesta quarta-feira que seu país poderia usar armas nucleares se fosse atacado com mísseis convencionais, e que Moscou consideraria qualquer agressão apoiada por uma potência nuclear como um ataque conjunto.

A decisão do mandatário russo de alterar a doutrina nuclear oficial do país foi feita enquanto os Estados Unidos e o Reino Unido avaliam permitir que a Ucrânia utilize armas ocidentais para atacar a Rússia, um pedido que vem sendo feito há meses pelo líder ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Ao abrir uma reunião do Conselho de Segurança da Rússia, Putin disse que as mudanças são uma resposta à rápida mudança do cenário global, que gerou novas ameaças e riscos para o país.

O presidente afirmou que Moscou também se reserva o direito de usar armas nucleares se o seu aliado, a Bielorrússia, for alvo de agressão, inclusive por meio de armas convencionais.

As declarações desta quarta-feira se seguem ao aviso de Putin aos EUA e outros aliados da Otan de que permitir que a Ucrânia use armas ocidentais de longo alcance para ataques ao território russo significaria que a Rússia e a aliança militar estão em guerra.

— Consideraremos esta possibilidade se recebermos informações confiáveis de um lançamento massivo de meios de ataque aeroespaciais — declarou o presidente.

As conversas sobre o assunto ganharam impulso no início do mês, quando os EUA anunciaram novas sanções contra o Irã e acusaram a República Islâmica de fornecer mísseis à Rússia para serem usados na Ucrânia. As sanções também foram adotadas pelos governos francês, alemão e britânico.

Em maio, a administração Biden deu permissão à Ucrânia para usar armas dos EUA em ataques transfronteiriços mais curtos contra locais russos usados em uma ofensiva contra a cidade ucraniana de Kharkiv.

Desde então, autoridades americanas permitiram que o Exército ucraniano realizasse esse tipo de ataque mais curto em outros locais ao longo da fronteira. À Sky News, Blinken disse no início do mês que a Casa Branca leva em conta fatores complexos ao tomar essas decisões, mas que a possibilidade de dar mais liberdade à Ucrânia está aberta.

— Adaptamos e ajustamos cada passo ao longo do caminho, e continuaremos [fazendo isso], então não descartamos isso neste momento — disse ele, acrescentando que Washington está comprometido a fornecer à Ucrânia “o que ela precisar e quando precisar” para enfrentar de maneira mais eficaz a Rússia.

A versão revisada do documento detalha em maior profundidade as condições para o uso de armas nucleares, observando que elas poderiam ser usadas em caso de um ataque aéreo em massa envolvendo aeronaves, mísseis de cruzeiro ou drones, disse ele.

Segundo estimativas do Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (Sipri), os Estados Unidos teriam cerca de 3,7 mil ogivas, e a Rússia, quase 4,5 mil.

Na ocasião, Teerã negou o envolvimento e disse considerar “o fornecimento de assistência militar às partes envolvidas no conflito — que leva ao aumento de baixas humanas, destruição de infraestrutura e distanciamento das negociações — como desumano”.

Há pouco mais de dois anos, em janeiro de 2022, EUA, França, Reino Unido, Rússia e China concordaram que “uma guerra nuclear não pode ser vencida e nunca deve ser travada”, conforme expressaram num comunicado conjunto.

Um mês depois, o Exército russo invadiu a Ucrânia e quebrou qualquer consenso sobre o uso desse tipo de armas. Em março, às vésperas da eleição na Rússia, Putin afirmou que as armas nucleares do país são mais modernas e avançadas que as dos EUA, destacando que seu arsenal sempre está “preparado” para a guerra.

— Tivemos um tabu sobre as armas nucleares durante 75 anos [após os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki], mas agora elas estão tão normalizadas no debate que, numa crise, os líderes podem se sentir obrigados a recorrer a elas — alertou Matt Korda, pesquisador de armas atômicas do Sipri, ao El País.

Em fevereiro de 2023 a Rússia suspendeu, de maneira unilateral, o Tratado sobre Redução de Armas Estratégicas (Novo Start), criado em 2010 para trocar dados com os EUA sobre suas forças nucleares duas vezes ao ano.

Washington manteve sua parte do acordo ao revelar as cifras no primeiro semestre de 2023, mas desde então deixou de fazê-lo.

O mesmo fez Londres, um dos maiores aliados dos americanos. Segundo a Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (Ican, sua sigla em inglês), os gastos com armas nucleares em todo o mundo aumentaram US$ 10,8 bilhões em 2023 (R$ 59 bilhões) em relação ao ano anterior. (Com AFP, New York Times e El País)

 

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