Logo Folha de Pernambuco

Rússia

Putin diz que russos deveriam estar orgulhosos dos feitos do país e elogia soldados em discurso

Declaração tradicional deixa de fora guerra na Ucrânia, que completará três anos em fevereiro de 2025, limitando-se a falar dos desejos para os próximos meses

Presidente russo, Vladimir PutinPresidente russo, Vladimir Putin - Foto: Alexei Danichev/POOL/AFP

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, elogiou as conquistas do país em um discurso de Ano Novo transmitido nesta terça-feira, afirmando que os russos deveriam estar "orgulhosos" do que Moscou fez durante seu quarto de século no poder.

A declaração, proferida exatamente 25 anos depois que ele substituiu seu antecessor Boris Yeltsin, não mencionou explicitamente o conflito de quase três anos na Ucrânia e se concentrou principalmente nos desejos para o próximo ano.

— Caros amigos, em apenas alguns minutos 2025 será inaugurado, completando o primeiro quarto do século XXI — disse Putin nos comentários televisionados, acrescentando que os últimos 25 anos abriram caminho para "mais desenvolvimento". — Sim, ainda temos muito a decidir, mas podemos nos orgulhar, com razão, do que já foi feito.

Putin foi nomeado presidente interino na véspera do Ano Novo de 1999, quando o antecessor Boris Yeltsin renunciou inesperadamente e pediu desculpas pela turbulência pós-soviética do país em um discurso que surpreendeu os russos.

O presidente russo também elogiou os seus soldados, tema que ecoou em seus discursos de Ano Novo anteriores desde a invasão ao território da Ucrânia que deu início à guerra, em fevereiro de 2022. O conflito, observou o Washington Post, tem sido usado por Putin para remodelar o país, construindo uma sociedade russa militarizada e preparada para enfrentar o Ocidente.

— Nesta véspera de Ano Novo, os pensamentos e esperanças de parentes e amigos, milhões de pessoas em toda a Rússia estão juntos com nossos combatentes e comandantes. Agora, no limiar de um novo ano, estamos pensando no futuro. Temos certeza de que tudo ficará bem. Vamos apenas seguir em frente.

O discurso ocorre a mais ou menos dois meses do aniversário de três anos de conflito. Segundo dados do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) analisados pela AFP, os russos avançaram sobre quase 4 mil km² no território ucraniano só neste ano, sete vezes mais do que em 2023. Quase três quartos do território ocupado estão na província de Donetsk, onde fica a cidade de Pokrovsk, um importante centro logístico para os militares ucranianos.

Neste ano, Putin também anunciou um novo míssil balístico de médio alcance, batizado de Oreshnik, que teria a capacidade de levar ogivas nucleares. Segundo o presidente russo, "atualmente não há maneiras de conter esta arma". Oreshnik foi usado pela primeira vez durante um ataque contra a região ucraniana de Dnipropetrovsk, no fim de novembro.

Mas foi também em 2024 que as forças russas foram surpreendidas com a invasão das tropas ucranianas na região de Kursk. Em agosto, Kiev avançou várias centenas de quilômetros e tomou dezenas de cidade, na maior incursão de um exército estrangeiro em território russo desde a Segunda Guerra Mundial. Autoridades ucranianas, incluindo o presidente Volodymyr Zelensky, afirmaram que a invasão não tinha por objetivo anexar os territórios, mas forçar o Kremlin a uma negociação.

Apesar do grande assalto, a invasão pouco fez para retardar o avanço das tropas russas e foi perdendo fôlego à medida que o tempo passava. Até o último dia 30, a área de operações em Kursk foi reduzida de 1.320 km² para 482 km².

O retorno iminente de Donald Trump à Casa Branca também promete trazer novas variáveis à guerra. O republicano, com quem Putin alimenta uma relação complexa, promete um cessar-fogo rápido assim que assumir o cargo.

Mas o caminho não parece tão fácil: uma proposta apresentada por "representantes da equipe" de Trump foi rejeitada na segunda-feira pelo ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, que argumentou "não estar satisfeito" com os termos.

Outros obstáculos
Há outros problemas às portas do Kremlin. Há poucos dias, o general sênior das Forças Armadas da Rússia e chefe da divisão de armas químicas, radiológicas e biológicas, Igor Kirillov, figura central nas políticas de defesa de Putin, foi morto em uma explosão em Moscou. A economia também está sobre forte pressão, com a taxa da inflação anual chegando quase a 10%, segundo o Washington Post.

Na política externa, um importante aliado no Oriente Médio, o ditador Bashar al-Assad, foi forçado a renunciar à Presidência da Síria após o avanço de grupos rebeldes em direção a Damasco.

O governo Assad era uma espécie de vitrine do sucesso e projeção do poder russo no campo global, com Moscou possuindo bases navais e aéreas estrategicamente no país. A Rússia já afirmou que abriu canais de negociação com os grupos que devem comandar o poder, mas o período de instabilidade pela frente ainda é grande.

E, nos últimos dias, a queda de um avião da Azerbaijan Airlines no Cazaquistão trouxe mais dor de cabeça ao Kremlin. O presidente azerbaijano, Ilham Aliyev, acusou a Rússia de disparar contra a aeronave, que fazia o trajeto entre Baku, capital do Azerbaijão, e Grozny, capital da república caucasiana russa da Chechênia. Dos 67 passageiros, 38 morreram. Putin pediu desculpas pelo "trágico acidente".

Moscou ainda não fez uma declaração oficial admitindo ter abatido a aeronave, embora tenha declarado que o sistema de defesa estava "ativo" no momento do incidente.

O discurso de Ano Novo televisionado, que dá continuidade a uma tradição iniciada pelo líder soviético Leonid Brezhnev, é um elemento básico do feriado na Rússia e é assistido em milhões de lares.

Ele é transmitido pela TV estatal pouco antes da meia-noite em cada um dos 11 fusos horários da Rússia e geralmente é um breve resumo dos eventos do ano passado, bem como dos desejos para o ano seguinte.

Veja também

Proteínas da 'solidão' no seu sangue podem estar colocando sua saúde em risco; entenda
SOCIEDADE

Proteínas da 'solidão' no seu sangue podem estar colocando sua saúde em risco; entenda

Após operação no Ibura, forças de segurança farão patrulhamento por tempo indeterminado no bairro
Recife

Após operação no Ibura, forças de segurança farão patrulhamento por tempo indeterminado no bairro

Newsletter