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Putin presta homenagem a Berlusconi: "pessoa querida" e "amigo verdadeiro"

Presidente russo tinha boa relação com ex-mandatário italiano, de quem foi amigo nos anos em que coincidiram no poder

Presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao lado do então premier italiano, Silvio Berlusconi, em 2003Presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao lado do então premier italiano, Silvio Berlusconi, em 2003 - Foto: Viktor Korotayev/AFP

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, lamentou publicamente a morte do ex-primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, nesta segunda-feira (12), em Milão. O magnata e político do país mediterrâneo era uma "pessoa querida" e um "amigo verdadeiro", disse o chefe do Kremlin, referindo-se aos laços que se estabeleceram quando ambos coincidiram no poder — e foram mantidos até mesmo após a eclosão da guerra da Ucrânia, em fevereiro do ano passado.

Em uma nota emitida pelo governo russo, Putin prestou suas condolências a Berlusconi, que governou a Itália em três ocasiões. A primeira, breves oito meses de 1994 a 1995. As outras duas, mais longas, de 2001 a 2006 e de 2008 a 2011 — ambas já coincidindo com os anos do presidente russo no poder.

"Para mim, Silvio foi uma pessoa querida, um amigo verdadeiro. Eu sempre admirei sinceramente sua sabedoria, sua habilidade de tomar decisões equilibradas e de longo prazo, até nas situações mais difíceis", afirmou Putin no comunicado emitido pelo Kremlin, enviado ao atual presidente italiano, Sergio Matarella. "Durante cada uma de nossas reuniões, fui literalmente energizado com sua incrível vitalidade, otimismo e senso de humor. Sua morte é uma perda irreparável e uma grande tristeza."

Segundo Putin, o amigo— que acumulou mais de 60 processos ao longo da vida, resultantes apenas em uma condenação por fraude — "sempre pôs o interesse da pátria acima de tudo", foi um "verdadeiro patriota" e "patriarca da política italiana". A relação dos dois quase dinamitou a coalizão tripartite que governa o país desde o ano passado, comandada pela premier de extrema direita, Giorgia Meloni, e na qual a Força Itália de Berlusconi é força minoritária.

A amizade era vista como obstáculo até para a formação do governo, mas na primeira semana, Berlusconi voltou a elogiar Putin, assegurou que havia reatado os laços com ele e questionou a estratégia militar e política da União Europeia (UE) e da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan). O governo italiano, do qual faz parte, é um grande aliado de Kiev.

O Força Itália tentou pôr panos quentes na situação, mas logo depois veio à tona um áudio no qual se escutava o próprio Berlusconi falando de uma situação que parecia atual.

"Depois de muito tempo, retomei um pouco as relações com o presidente Putin, um pouco demais…tanto que, no meu aniversário [29 de setembro], me mandou 20 garrafas de vodka e uma carta muito amável. Respondi com garrafas de [vinho] Lambrusco e uma carta igualmente amável" disse Berlusconi.

Na gravação, o ex-premier podia ser ouvido confessando que Putin o considera “o primeiro de seus cinco verdadeiros amigos” e que não pode expressar sua opinião, porque seria considerada um desastre. Alguns dias depois, vazou um outro áudio, este falando sobre o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky:

"Zelensky? Vamos deixá-lo de lado, não quero dizer o que penso — afirmou ele, antes de pedir discrição a aliados para contar sua versão sobre como se chegou à situação atual na Ucrânia." Em 2014, em Minsk, na Bielorrússia, se firmou um acordo entre a Ucrânia e as duas novas repúblicas de Donbass [Leste ucraniano] sobre um acordo de paz sem ataques mútuos. A Ucrânia mandou o texto às favas um ano depois, e começou a atacar as fronteiras. As duas repúblicas [Donetsk e Luhansk] tiveram vítimas, cerca de sete mil militares. Zelensky triplica os ataques e, desesperadas, as duas repúblicas começam a falar com a Rússia, e dizem: “Vladimir, não sabemos o que fazer, nos defenda”.

Putin, afirmou Berlusconi na ocasião, "era contra qualquer iniciativa do tipo", mas "sofre uma pressão imensa de toda a Rússia" — os indícios, entretanto, mostram que a invasão é cada vez mais impopular entre os conterrâneos de Putin. O ex-premier, em seguida, culpou o Ocidente pelo prolongamento da guerra:

"[Os russos] se encontraram com uma situação imprevista porque a Ucrânia começou a receber desde o terceiro dia [de guerra] dinheiro do Ocidente. E a guerra, ao invés de durar semanas, virou um conflito de 200 anos. É a situação na Ucrânia."

Após ser fortemente criticado, o ex-premier disse "não negar a amizade passada com Vladimir Putin, que trouxe resultados importantes", mas afirmou que "hoje as circunstâncias mudaram".

Um capítulo notório da boa relação veio em 2015, quando Berlusconi viajou até a Península da Crimeia, que a Rússia anexou unilateralmente no ano anterior em meio ao caos político na Ucrânia. Na época, o governo pró-Moscou de Viktor Yanukovich foi derrubado, e Petro Poroshenko, que defendia maior proximidade com a Otan e a UE, chegou ao poder.

Na Crimeia, a dupla bebeu um xerez espanhol de 240 anos, levado para a Crimeia durante o reinado de Catarina, a Grande, e com um valor estimado que ultrapassa os 100 mil euros. Nos anos anteriores, foram alguns convites para Putin visitar o amigo italiano na Sardenha.

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