Putin se prepara para enviar tropas à Ucrânia
Presidente afirmou que os acordos de paz de Minsk sobre o conflito na Ucrânia deixaram de existir
O Senado da Rússia abriu nesta terça-feira (22) o caminho para que o presidente Vladimir Putin envie tropas para a Ucrânia, alimentando os temores ocidentais de uma invasão iminente.
A aprovação unânime da Câmara alta, o Conselho da Federação, permite que Putin implemente "forças de paz" nas duas regiões separatistas ucranianas reconhecidas por Moscou como independentes e potencialmente em outras partes da Ucrânia.
O governo russo prosseguiu com esses preparativos apesar de uma onda de novas sanções anunciadas pelos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia, em resposta ao reconhecimento da independência das autoproclamadas “repúblicas” de Donetsk e Lugansk.
Autoridades ocidentais vêm alertando há semanas sobre o perigo de uma invasão total da Ucrânia, com o risco de uma guerra catastrófica na Europa.
Os incidentes na linha de frente com os separatistas se multiplicaram nas últimas semanas. De acordo com o governo ucraniano, um soldado foi morto nesta terça-feira e seis ficaram feridos em bombardeios pró-Rússia.
Putin afirmou nesta terça (22) que os acordos de paz de Minsk sobre o conflito na Ucrânia deixaram de existir e deu um passo adiante, estabelecendo relações diplomáticas com os dois enclaves separatistas.
Porém, ele pareceu deixar uma porta entreaberta ao alertar que o envio de tropas russas "vai depender da situação no terreno".
E desafiou a postura do Ocidente - que nega a Moscou o direito de opinar sobre quem pode ingressar na Otan - observando que “a melhor solução seria que as autoridades atualmente no poder em Kiev se recusassem a entrar na Otan e permanecessem neutras”.
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Em uma mensagem televisionada de 65 minutos, incluindo momentos de irritação, Putin classificou a Ucrânia como um Estado falido, um "fantoche" do Ocidente, que estaria preparando uma "guerra relâmpago" para reconquistar as regiões separatistas.
Indícios de invasão
Os temores de uma invasão aumentaram quando o Ministério das Relações Exteriores russo anunciou a evacuação de todos os seus funcionários diplomáticos na Ucrânia, para "proteger suas vidas".
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, disse que a aliança tem "todas as indicações" de que Moscou "segue planejando um ataque em larga escala à Ucrânia".
O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, pediu à União Europeia que se comprometa com a entrada de seu país no bloco e que o Ocidente forneça mais armas.
Sanções
O chefe da diplomacia francesa, Jean-Yves Le Drian, informou que os ministros das Relações Exteriores da UE "concordaram por unanimidade com um pacote inicial de sanções".
As sanções "prejudicarão muito a Rússia", afirmou o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, especificando que o bloco planeja bloquear ativos e proibir vistos para 351 deputados russos.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, reagiu rapidamente e anunciou que suspendeu a autorização do controverso gasoduto Nord Stream 2 que liga a Rússia à Alemanha, evitando passar pela Ucrânia.
A Casa Branca celebrou o anúncio alemão e declarou que lançará seu próprio arsenal de sanções.
Em Londres, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson ameaçou afetar cinco bancos russos e três bilionários, vetando-os de seu sistema financeiro.
"Ressuscitar a URSS"
Nas ruas de Kiev, a notícia do reconhecimento dos separatistas gera medo de uma escalada bélica.
"Estou realmente assustado, tenho muita família" no leste da Ucrânia, disse à AFP Artem Ivaschenko, de 22 anos, natural de Donetsk. "Há oito anos moro em Kiev e essa é a notícia mais terrível que recebi desde então", acrescentou.
O ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksiy Reznikov, alertou que o país tem momentos complicados pela frente e acusou a Rússia de querer "ressuscitar a URSS", país do qual a Ucrânia fez parte até seu desmembramento em 1991.
Obuses
Em Shchastia, uma pequena cidade localizada no leste da Ucrânia, próxima às áreas separatistas, os moradores limpavam os escombros gerados pela queda de um obus.
Valentina Shmatkova, de 59 anos, contou que estava dormindo quando os projéteis caíram, quebrando os vidros de seu apartamento.
"Não estávamos esperando. Não pensávamos que Ucrânia e Rússia não chegariam a um acordo no final", lamentou. "Acreditava que nosso presidente e o presidente russo eram inteligentes e prudentes", acrescentou.
O anúncio de Putin reacendeu o conflito nesta região separatista do leste da Ucrânia, onde já morreram 14.000 pessoas desde 2014 e onde há violações à trégua imposta pelos acordos de Minsk em 2015.
A tensão atingiu também os mercados de ações asiáticos, que fecharam em baixa.