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ORIENTE MÉDIO

Quais países fazem parte da Unifil, missão de paz da ONU no Líbano sob pressão de Netanyahu para dei

Estabelecida em 1978 durante a ocupação israelense do Líbano, mais de 10 mil soldados da ONU tentam pacificar a fronteira israelense-libanesa

Veículo da Unifil, missão de paz da ONU no LíbanoVeículo da Unifil, missão de paz da ONU no Líbano - Foto: AFP

Com cerca de 10 mil soldados destacados de 50 países diferentes, a Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil) tem sido pressionada pelo governo do premier israelense, Benjamin Netanyahu, a se retirar do sul país do Oriente Médio, alvo de operações militares ativas de Israel contra redutos do Hezbollah.

Cinco "capacetes azuis", como são conhecidos os soldados da missão, ficaram feridos durante combates recentes na região — todos eles em uma mesma base perto da fronteira entre os dois países, em Naqura.

O premier da Espanha, Pedro Sánchez, afirmou nesta segunda-feira (14) que seu país, que lidera a missão e mantém 650 militares no Líbano, não vai retirar os soldados do local, condenando a declaração de Netanyahu. No domingo, o premier de Israel instou o secretário-geral da ONU, António Guterres, a retirar as forças da Unifil do sul do Líbano.

Em um discurso gravado em inglês, afirmou que a responsabilidade por incidentes com soldados da força internacional seria do representante da ONU, acrescentando que as forças seriam reféns do grupo libanês.

Entre os principais contribuintes da missão estão Indonésia (1.231), Itália (1.068), Índia (903), Nepal (876), Gana (873), Malásia (833), Espanha (676) e França (673). O Brasil também participa com um pequeno contingente de 11 militares.

Também fazem parte: Alemanha, Argentina, Armênia, Áustria, Bangladesh, Brunei, Camboja, Catar, Cazaquistão, China, Colômbia, Coreia do Sul, Croácia, Chipre, El Salvador, Estônia, Fiji, Finlândia, Grécia, Guatemala, Holanda, Hungria, Irlanda, Letônia, Macedônia do Norte, Malawi, Malta, Moldávia, Mongólia, Nigéria, Peru, Polônia, Quênia, Sérvia, Serra Leoa, Sri Lanka, Tanzânia, Turquia, Reino Unido, Uruguai e Zâmbia.

Origem da missão
A Unifil está posicionada entre o Rio Litani, o mais extenso do Líbano, e a fronteira libanesa-israelense. Seu principal quartel-general fica em Ras al-Naqoura, perto da divisa com Israel, mas há postos de observação e patrulhas espalhadas por todo o sul do Líbano.

A missão foi criada pelo Conselho de Segurança da ONU durante a Guerra Civil Libanesa (1975-1990), em 1978, quando tropas israelenses invadiram o sul do território libanês sob a alegação de estar protegendo o norte do seu país de combatentes da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), uma organização política e paramilitar fundada nos anos 1960. Na época, 6 mil soldados foram enviados para a missão de paz.

Apesar da presença da missão, as tropas israelenses, com o apoio de falanges cristãs maronitas libanesas, estenderam os confrontos contra a OLP e o Hezbollah, milícia xiita que surgiu naquela época, até a capital Beirute, permanecendo na região de 1982 a 1985. Nesse período, o Conselho de Segurança ordenou, por meio da resolução 425, que Israel retirasse suas forças de todo o Líbano, mas o país só deixou o território libanês em 2000.

Com o fim da ocupação israelense, a Unifil — que até então fazia um trabalho paliativo para assistir aos civis que viviam em meio ao conflito — se estabeleceu no sul do Líbano, na fronteira com o norte de Israel.

Todo ano, o mandato da missão é renovado pelo Conselho de Segurança. Desde a instituição Unifil, 334 capacetes azuis morreram durante o trabalho.

Os ataques recentes ecoam o massacre de Qana, em 1996, quando tropas israelenses abriram fogo contra um complexo da ONU que abrigava cerca de 800 civis libaneses numa área de atuação da Unifil. Ao todo, mais de 120 civis foram mortos e 500 ficaram feridos. Quatro capacetes azuis também se feriram durante a ação, que foi objeto de investigação pelo conselheiro militar do secretário-geral das Nações Unidas. O relatório sobre o caso foi encaminhado depois para o Conselho de Segurança.

Guerra de 2006 e hoje
Desde a brutal guerra entre Israel e Hezbollah em 2006, a Unifil exige a implementação da resolução 1701 do Conselho de Segurança, que encerrou o conflito. De acordo com o texto, ambos os lados se comprometiam a cessar as hostilidades transfronteiriças e apenas o Exército libanês e as forças de paz da ONU poderiam atuar no sul do Líbano. Suas determinações, no entanto, nunca foram completamente cumpridas, mantendo a necessidade das tropas da ONU na região até hoje.

Na prática, o Hezbollah manteve sua presença na região, e especialistas acreditam que o grupo tenha criado uma rede robusta de túneis subterrâneos, alguns capazes de alcançar o território israelense. Em 2020, a Unifil solicitou ao Líbano acesso aos túneis, sem sucesso.

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Antes da nova escalada entre Israel e Hezbollah, iniciada em outubro do ano passado, as hostilidades entre os dois lados continuaram de maneira limitada, com ataques pontuais a regiões despovoadas, como as Fazendas de Shebaa, na tríplice fronteira entre Israel, Líbano e Síria.

Desde 8 de outubro de 2023, no entanto, o nível de tensão mudou. Um dia depois do Hamas lançar o pior ataque terrorista a Israel das últimas décadas, o Hezbollah começou uma troca de disparos contra o norte de Israel que forçou o deslocamento de dezenas de milhares de pessoas nos dois lados da fronteira.

O conflito escalou no mês passado, quando Israel direcionou o foco da sua guerra contra os tentáculos do Irã no Oriente Médio para o Líbano, matando diversas lideranças do Hezbollah, incluindo o seu secretário-geral, Hassan Nasrallah. Além de bombardeios e ataques baseados em inteligência, como a explosão de pagers e walkie-talkies usados por pessoas ligadas ao grupo, o Estado judeu iniciou uma incursão terrestre contra o sul do Líbano.

Embora o foco da missão de paz da ONU na região seja apoiar os esforços humanitários, a Unifil tem poder para “decidir sobre qualquer ação necessária em relação ao posicionamento de suas forças, a fim de garantir que sua área de operações não seja usada para atos hostis”.

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