Qual o melhor remédio para perder peso? Estudo aponta que Mounjaro é 47% mais eficaz que o Wegovy
Teste inédito comparou o uso da tirzepatida, substância do Mounjaro e Zepbound, com a semaglutida, do Wegovy e Ozempic, ao longo de um ano e meio
A farmacêutica Eli Lilly anunciou, nesta quarta-feira, resultados do estudo SURMOUNT-5, que comparou a perda de peso entre a tirzepatida, princípio ativo dos remédios Mounjaro e Zepbound, e a semaglutida, do Ozempic e do Wegovy. Os testes mostraram que a tirzepatida levou a uma redução 47% maior do número na balança. Os dados serão publicados numa revista científica no ano que vem, segundo o laboratório.
As substâncias, que fazem parte da classe de medicamentos chamada de análogos de GLP-1, têm vivido uma explosão de vendas ao redor do mundo pela eficácia inédita no tratamento da obesidade. A mais conhecida é a semaglutida, da Novo Nordisk, que é vendida com indicação para diabetes tipo 2 pelo nome de Ozempic e, numa dosagem maior, com o nome de Wegovy para obesidade. Ambos são aprovados pela Anvisa no Brasil.
Pouco depois, a Eli Lilly entrou no mercado com a tirzepatida, que possui o diferencial de ser um duplo agonista: além de simular o hormônio GLP-1, também atua nos receptores do GIP. A empresa lançou o princípio ativo com o nome de Mounjaro para diabetes , rivalizando com o Ozempic. Rapidamente, o medicamento também começou a ser usado de forma off-label (finalidade diferente da bula) para o emagrecimento.
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Nos Estados Unidos, a farmacêutica recebeu, em 2023, a aprovação para vender a tirzepatida também para o tratamento da obesidade, com a mesma formulação. Por decisão comercial da empresa, a versão com essa finalidade é encontrada no país com o nome de Zepbound, embora as doses sejam as mesmas do Mounjaro. O remédio é o principal rival do Wegovy. No Brasil, a Anvisa avalia a indicação da tirzepatida para obesidade.
Dados dos estudos clínicos separados de cada remédio já apontavam que a tirzepatida leva a uma diminuição mais acentuada do peso, porém ainda não havia um teste clínico que de fato houvesse comparado os dois remédios a longo prazo. Para isso, no SURMOUNT-5, a Eli Lilly recrutou 751 participantes dos EUA e de Porto Rico que tinham obesidade ou sobrepeso junto a uma comorbidade como hipertensão, dislipidemia, apneia do sono ou doença cardiovascular.
Os voluntários foram divididos em dois grupos, em que um recebeu a dose máxima tolerada da tirzepatida (10 mg ou 15 mg), e o outro a maior da semaglutida (1,7 mg ou 2,4 mg). Eles foram acompanhados ao longo de 72 semanas, cerca de um ano e meio.
Ao fim, o grupo que recebeu a substância do Mounjaro registrou uma diminuição de, em média, 20,2% do peso corporal. Já o que realizou o tratamento com o princípio ativo do Wegovy e do Ozempic perdeu 13,7% do peso. Após ajustar os resultados, foi observada a eficácia 47% superior da tirzepatida.
“Dado o interesse crescente em relação aos medicamentos para obesidade, realizamos esse estudo para ajudar os profissionais de saúde e os pacientes a tomar decisões informadas sobre a escolha do tratamento”, afirma Leonard C. Glass, vice-presidente sênior de assuntos médicos globais da Lilly Cardiometabolic Health.
Os resultados detalhados do estudo mostraram ainda que 31,6% dos participantes do primeiro grupo, quase 1 em cada 3, conseguiram eliminar pelo menos 25% do peso. O feito foi alcançado por 16,1% daqueles n grupo da semaglutida, menos de 1 em cada 5.
Em relação aos efeitos adversos, a Eli Lilly diz que eles foram semelhantes aos já relatados nos testes clínicos anteriores. Ambos os medicamentos causaram principalmente reações gastrointestinais, como náuseas, vômitos e diarreias, porém na maioria dos casos de forma leve a moderada.
Para Luiz Magno, diretor médico sênior da Eli Lilly do Brasil, os novos dados de eficácia da tirzepatida podem auxiliar a avaliação em andamento da Anvisa sobre o uso do medicamento para o tratamento da obesidade no país.
“Temos mais de um bilhão de pessoas que vivem com obesidade no mundo e, no Brasil, um em cada quatro adultos têm obesidade. Essa doença crônica é um grande desafio de saúde pública - temos estudos que mostram mais de 200 complicações relacionadas. Por isso, novos tratamentos com resultados tão positivos são importantes para contribuir para a vida de quem convive com essa doença tão prevalente”, afirma em nota.
Como agem os medicamentos?
A tirzepatida e a semaglutida são chamadas de análogos de GLP-1 pois simulam a atuação do hormônio de mesmo nome. Existem receptores dele em diversas partes do corpo humano: no pâncreas, por exemplo, essa interação aumenta a produção de insulina, o que é benéfico para os pacientes com diabetes.
Já no estômago, o GLP-1 reduz a velocidade da digestão da comida e, no cérebro, ativa a sensação de saciedade. Esses mecanismos levam a pessoa a sentir menos fome e, consequentemente, reduzir as calorias ingeridas por dia e perder peso.
A semaglutida simula apenas o GLP-1, porém a tirzepatida é uma nova geração que tem o diferencial de ser um duplo agonista, simulando também um outro hormônio intestinal chamado GIP. Existe ainda uma nova categoria em testes chamada de triplo agonista.
Testes iniciais com a retatrutida, da Eli Lilly, têm apontado para uma eficácia ainda maior para o tratamento da obesidade. Além do GLP-1 e do GIP, ela simula também o hormônio GCC.