Quase metade dos alunos do Brasil relata distração com aparelhos eletrônicos em aulas de Matemática
Pisa 2022: Percentual está 15 pontos acima da média observada nos países que integram a OCDE
Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês) de 2022 divulgados na última terça-feira indicam que os estudantes brasileiros na faixa dos 15 anos de idade estão mais sujeitos a se distrair durante as aulas, ao menos na comparação com a média dos alunos dos países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O tema foi abordado em um questionário aplicado durante a avaliação do ano passado. No Brasil, a amostra considera os mais de 14 mil alunos que fizeram a prova em 606 escolas públicas e privadas de 420 municípios, nos 26 estados e no Distrito Federal.
Os estudantes brasileiros entrevistados que relataram as situações de distração ao utilizar aparelhos eletrônicos em todas ou na maioria das aulas de Matemática, por exemplo, somam 45%. O percentual está 15 pontos acima da média observada nas nações da OCDE, que é de 30%. Além disso, 40% dos brasileiros entrevistados também relataram distração quando colegas fazem uso dos eletrônicos, índice também maior que o observado nos países ricos, onde ficou em 25%.
Gerente-executiva do instituto Ayrton Senna, Beatriz Alquéres defende que é possível incorporar as tecnologias de forma orgânica nas aulas para que contribuam com a aprendizagem e não sejam percebidas como uma distração:
— A escola precisa estar mais conectada aos desafios da vida do aluno. A forma como a gente se relaciona com o conhecimento mudou, mas não houve impacto na educação. Nossa curva de aprendizagem ficou estagnada.
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Atenção ao professor
O questionário do Pisa também perguntou se os estudantes escutam o que o professor de Matemática diz na sala de aula. Para 38%, isso não acontece em todas ou na maioria das aulas da disciplina, que foi o foco da avaliação desta edição do Pisa. Entre as economias da OCDE, esse percentual soma 30%.
Os dados do Pisa mostraram que 73% dos estudantes brasileiros não conseguiram atingir o patamar mínimo de aprendizagem em Matemática para a idade. A média da OCDE é de apenas 31%.
O patamar mínimo considerado na avaliação é interpretar e reconhecer, sem instruções diretas, como uma situação simples pode ser representada matematicamente (por exemplo, comparando a distância total entre duas rotas alternativas ou convertendo preços numa moeda diferente).
Além disso, a aprendizagem dos estudantes brasileiros se mantém baixa e estável desde 2009. O Brasil está entre os 20 piores do mundo em Matemática e Ciências. Já em Leitura ficou entre os 30 piores.
Entenda a avaliação:
O que é o Pisa?
O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês) mede as aprendizagens em Leitura, Matemática e Ciências de alunos de 15 anos em 81 países.
Qual o objetivo da prova?
Avaliar o domínio sobre os conteúdos aplicados em sala de aula e observar se os alunos conseguem aplicar esse conhecimento na vida real.
Como é a prova?
O teste é feito em um único dia, em computadores, e tem duas horas de duração. As questões são objetivas e discursivas. O Pisa não é um exame conteudista, poucas questões exigem memorizar fórmulas ou teorias.
Como é corrigida a prova?
Assim como o Enem, ela leva em consideração o nível de dificuldade da questão — baseado na quantidade de acertos dos participantes — para atribuir uma pontuação a ela. O resultado dos estudantes é distribuído em uma escala de seis níveis de proficiência.