Quatro empresas chinesas são acusadas pela Justiça estadunidense por tráfico de fentanil
Mais de 200 quilos de precursores foram supostamente enviados pelos fabricantes chineses
Quatro empresas chinesas foram indiciadas pela Justiça americana por tráfico para Estados Unidos e México de precursores químicos do fentanil, anunciou o secretário de Justiça, Merrick Garland, nesta sexta-feira (23).
Oito funcionários ou responsáveis das empresas também foram processados por seus supostos vínculos com a atividade ilegal destinada a fabricar o perigoso opioide, sendo que dois deles foram presos, acrescentou Garland em coletiva de imprensa.
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"Essas empresas e indivíduos são acusados de terem supostamente fornecido de forma deliberada a narcotraficantes em Estados Unidos e México ingredientes e instruções para fabricar fentanil, uma droga que continua destruindo famílias e comunidades nos Estados Unidos e matando norte-americanos de todos os estratos sociais", disse.
Mais de 200 quilos de precursores foram supostamente enviados pelos fabricantes chineses, com os quais foi possível fabricar mais de 50 kg de fentanil, quantidade suficiente para matar 25 milhões de norte-americanos.
Após o anúncio, o embaixador dos EUA na Cidade do México, Ken Salazar, enfatizou que as redes de tráfico de fentanil operam de maneira transnacional e que as ações anunciadas nesta sexta-feira "deveriam mostrar ao mundo que este é um problema global".
O diplomata afirmou que a cooperação antidrogas entre o México e os EUA atravessa "momentos históricos" e que é preciso aproveitar o embalo para tentar conter o fluxo de armas vindo do norte que alimenta os cartéis mexicanos.
Segundo a ata de acusação, uma das empresas químico-farmacêuticas, Amarvel Biotech, com sede na cidade chinesa de Wuhan, despachava seus produtos aos dois países, anunciando-os como um "grande sucesso de vendas no México" e garantindo nas redes sociais e na internet um "envio 100% discreto".
A empresa disfarçava seus pacotes como comida para cães, nozes, óleo automotivo, o que permitia que os mesmos chegassem sem obstáculos a seus destinatários no México e nos Estados Unidos.
Ainda segundo a ata de acusação, os fabricantes forneciam aos traficantes de drogas todas as instruções necessárias para elaborar o produto que causa dependência e muitos estragos na América Norte.
- Cartéis de Sinaloa e Jalisco -
Um opiáceo sintético 50 vezes mais poderoso que a heroína, o fentanil constitui atualmente a principal causa de morte entre a população de 18 a 49 anos nos Estados Unidos.
A China proibiu as exportações de fentanil aos Estados Unidos em 2019, uma decisão que foi bem-recebida na época pelo governo de Donald Trump.
Contudo, segundo os especialistas, o país asiático continuou exportando precursores químicos do opioide, especialmente através do México e da América Central, onde os cartéis se encarregam de elaborar o produto antes de vendê-lo nos Estados Unidos.
A China rejeitou sua responsabilidade na crise de overdose de fentanil e, em contrapartida, acusou os Estados Unidos e suas próprias empresas farmacêuticas.
Segundo Anne Milgram, responsável da agência antidrogas dos Estados Unidos (DEA, na sigla em inglês), "os dois cartéis responsáveis pela entrada de fentanil no país, os de Sinaloa e Jalisco, recorrem a empresas químicas baseadas na China para se abastecer de precursores".
Nos Estados Unidos, as mortes por overdose de fentanil cresceram de forma repentina nos últimos anos, passando de 69.000 em 2020 para 81.000 em 2021 e 110.000 em 2022.
Washington já havia sancionado recentemente várias empresas chinesas acusadas de envolvimento no tráfico de drogas.