Que consequências políticas a condenação por abuso sexual pode ter para Trump?
Para a analista política Debbie Walsh, é improvável que a decisão do júri sobre Trump vá mudar a opinião de seus fiéis apoiadores
Donald Trump foi declarado responsável por abusar sexualmente da escritora americana E. Jean Carroll, mas não está claro qual efeito essa primeira condenação em um tribunal poderá ter para suas aspirações de voltar à Casa Branca em 2024.
No dia seguinte à sentença que o condenou a pagar US$ 5 milhões (por volta de R$ 24,7 milhões na cotação atual) de indenização à ex-jornalista, o republicano voltou a chamá-la de "louca" no programa "CNN Town Hall", realizado no estado de New Hampshire, em meio a risos e aplausos da plateia. Nesse mesmo processo, o júri foi unânime em também condenar o bilionário nova-iorquino por difamação.
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"Você é uma pessoa má", disse ele à moderadora do debate Kaitlan Collins, tentando convencê-la a se posicionar sobre questões sensíveis como o aborto, para deleite do público, em uma cena que lembra o que ele disse à sua então adversária na corrida pela Casa Branca, a democrata Hillary Clinton, em outro debate em 2016.
De acordo com a emissora, o público de ontem era composto de republicanos do estado de New Hampshire e de eleitores não declarados que planejam votar nas primárias presidenciais republicanas de 2024 do estado, as primeiras do país.
Para a analista política Debbie Walsh, é improvável que a decisão do júri sobre Trump vá mudar a opinião de seus fiéis apoiadores.
"(Mas) acho que poderia ter um potencial impacto se for indicado em uma eleição geral", acrescenta a diretora do Centro para Mulheres Americanas na Política, da Rutgers University.
Se o republicano de 76 anos quiser voltar à Casa Branca, terá de conquistar um amplo apoio e apelar para mais do que apenas seus leais simpatizantes, tipicamente brancos e de classe média. Em particular entre o eleitorado feminino.
Na eleição de 2020, o então candidato democrata Joe Biden conquistou o apoio de 55% das eleitoras, contra 44% de Trump, de acordo com um estudo do Pew Research Center de junho de 2021.
De acordo com Walsh, parece pouco provável que a reação de Trump, ao chamar Carroll de "fraude total" e de "mentirosa" quando ela revelou em um livro em 2019 ter sido estuprada por ele na década de 1990, contribua para uma mudança do voto feminino.
“Uma das coisas que Donald Trump fez pelo Partido Republicano é (perder) algumas dessas mulheres brancas, universitárias, que votavam e eram eleitoras republicanas bastante fiéis”, disse Walsh à AFP.
Durante anos, Trump foi alvo de acusações de conduta sexual inadequada.
Na campanha eleitoral de 2016, várias mulheres acusaram o republicano de agressão sexual, o que ele sempre negou. Até a derrota para Carroll, nunca havia sentado no banco dos réus por esse motivo.
Independentes
É possível, no entanto, que a situação esteja mudando para o ex-apresentador de reality show que acumulou reveses eleitorais nos últimos quatro anos.
Nas eleições de meio de mandato de 2018, os democratas assumiram o controle do Congresso. Em 2020, foi derrotado por Biden e, nas "midterms" do ano passado, a prometida "onda vermelha" (em alusão à cor do Partido Republicano) não aconteceu.
Em 2020, o eleitorado independente se voltou para Biden, uma tendência que os republicanos precisarão reverter se quiserem chegar à Casa Branca em 2024.
Trump também tem outra frente legal aberta na Promotoria de Manhattan, que o acusou de 34 crimes por pagar uma atriz pornô pouco antes da eleição de 2016, por seu silêncio sobre o suposto relacionamento entre ambos uma década antes. Ele sempre negou.
Muitos analistas sugerem que a bateria de casos legais envolvendo Trump, incluindo sua tentativa de reverter o resultado da eleição presidencial de 2020 e a posse de documentos confidenciais, poderá levar os indecisos a votar.