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Quem é Alexis Rodríguez Cabello, nomeado como autoridade única da 'Guiana Essequiba' por Maduro

Presidente da Venezuela anunciou a criação da zona de defesa na terça-feira, em meio à escalada da tensão sobre o controle de Essequibo, sob jurisdição da Guiana

O deputado Rodríguez Cabello durante um ato de apoio ao referendo consultivo sobre Essequibo O deputado Rodríguez Cabello durante um ato de apoio ao referendo consultivo sobre Essequibo  - Foto: Reprodução

Bolivariano, chavista e “profundamente crente de que o socialismo é o único caminho para o desenvolvimento do homem”. É assim que Alexis José Rodríguez Cabello, general nomeado nesta terça-feira pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, para governar a “Guiana Essequiba”, se apresenta em uma rede social.

O militar, que atualmente exerce um cargo de deputado pelo Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV), seria a “única autoridade” da região, baseada a 100 Km de Essequibo — alvo de uma disputa secular entre o país e seu vizinho, a Guiana, que mantém atualmente a jurisdição.

Como qualquer outro venezuealano, Rodríguez Cabello toma partido: “O sol da Venezuela nasce em Essequibo”, acrescentou à biografia do seu perfil no X (antigo Twitter).

O militar de 58 anos seria responsável, segundo o governo, pela Zona Operacional de Defesa Integral (Zodi), que ficaria baseada em Tumeremo, Bolívar, estado pelo qual foi eleito como deputado em dezembro de 2020, segundo a plataforma Poderopedia. Como agora, a carreira política e militar andaram entrelaçadas.

Seus primeiros passos foram dados no Exército. Em 1987, ingressou na Academia Militar da Venezuela, na posição de “General de Brigada Tomás Montilla”, informou o jornal El Pitazo. Cinco anos depois, começou a transitar para cargos importantes, ao se juntar à tentativa frustrada do ex-presidente Hugo Chávez de tomar o poder em 4 de fevereiro de 1992.
 

Anos depois, em 2013, foi nomeado por Maduro como comandante da guarda da Presidência e posteriormente, ainda segundo o jornal venezuelano, alçou o cargo de reitor da Universidade Militar Bolivariana. Deixou as Regiões de Defesa Integral (Redi) na capital — uma das mais importantes, composta por Caracas, Vargas e Miranda —, em julho de 2019, para assumir o cargo de comandante geral do Exército da Venezuela.

Meses antes, demonstrou a lealdade que tinha ao governo. Em 30 de abril, o líder opositor Juan Guaidó publicou um vídeo anunciando “o fim definitivo da usurpação" do poder por Maduro. Cercado de militares, próximo à base militar de La Carlota, Guaidó afirmou que os "valentes soldados acudiram a nosso chamado”. O governo garantiu que não havia mobilização militar em favor da oposição além de um "reduzido grupo de traidores". Rodríguez Cabello, por sua vez, teria ido até o local para falar ao vivo e desmentir a presença de opositores na base militar, de acordo com o El Pitazo.

Um ano depois, o militar se aposentou, segundo dados da Social Watch, uma ONG voltada para os direitos dos cidadãos de exercer controle sobre os setores de Segurança, Defesa e Forças Armadas, citado pelo portal Efecto Cocuyo, tendo sido eleito à Assembleia Nacional em seguida.

Rodríguez Cabello foi nomeado no início deste ano como vice-presidente do conselho de supervisão da estatal Corporação Venezuelana de Guayana (CVG), segundo o portal Efecto Cocuyo, após um escândalo de corrupção ter sido revelado em março na empresa e na PDVSA. Atualmente, além do cargo de deputado na Assembleia Nacional (AN) pelo PSUV, o chavista também é presidente da Comissão Permanente da Controladoria da assembleia e representante do partido em Bolívar, ainda de acordo com o portal.

O militar foi descrito por alguns analistas militares como “um pedaço do Diosdado”, com quem teria parentesco. Segundo o El Pitazo, Rodríguez Cabello e Diosdado Cabello são primos e teriam se formado na mesma turma do Exército. Diosdado é o número dois do chavismo.

Entenda a disputa
A Venezuela reivindica o Essequibo com base em sua interpretação do Acordo de Genebra, firmado em 1966 com o Reino Unido, antes da independência guianesa, em que Londres e Caracas concordaram em estabelecer uma comissão mista "com a tarefa de buscar uma solução satisfatória" para a questão — uma vez que o governo venezuelano na ocasião considerou o laudo arbitral de 1899 "nulo e vazio". No acordo, no entanto, Londres apenas reconheceu esse posicionamento de Caracas, mas não respaldou sua interpretação de que o laudo arbitral de 1899 não tinha validade.

Em 2018, porém, a Guiana solicitou à Corte Internacional de Justiça (CIJ) uma decisão sobre se o Laudo Arbitral de Paris de 1899, que deu ganho de causa ao Reino Unido na disputa pelo Essequibo, é legal ou não. Com a convocação do referendo sobre a região por Maduro, o governo guianês pediu ao tribunal que tomasse medidas para impedir a consulta. Na sexta-feira passada, a CIJ emitiu uma decisão indicando que, enquanto aguarda a decisão final no caso (que está nas mãos do órgão desde 2018), "a Venezuela deve abster-se de tomar qualquer ação que modifique" a situação prevalente atual. O órgão judicial também determinou que nenhum dos países adote medidas para agravar o conflito. Caracas não reconhece a jurisdição da CIJ no caso.

As medidas do governo chavista — como o anúncio da criação da zona de defesa e a apresentação de um novo mapa do país, com a inclusão de Essequibo — fazem parte de um conjunto de anúncios feitos pelo presidente na terça-feira, após o referendo consultivo do último domingo, no qual buscou o apoio popular para seu pleito sobre a região em disputa. No referendo, mais de 10,4 milhões de votantes participaram, metade do eleitorado da Venezuela, e mais de 95% concordaram que o Essequibo se torne uma província do país.

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