Quem é Hui Ka Yan, ex-mais rico da China que perdeu US$ 40 bi e está sob vigilância policial
Dono da Evergrande e conhecido por seu gosto luxuoso, empresário tem uma das maiores dívidas do mundo e quase afundou o setor imobiliário chinês
A imprensa ocidental noticiou, nesta quarta-feira, que Hui Ka Yan, dono da bilionária empresa Evergrande, está sob vigilância policial na China. Uma vez considerado o homem mais rico do país (e 2º da Ásia), Hui viu seu império desmoronar nos últimos anos, em meio à crise no setor imobiliário, e entrou na mira das autoridades de Pequim, que têm um histórico de tratamento rígido com grandes empresários que desagradam de alguma forma o regime.
Com 65 anos e uma fortuna atualmente estimada entre U$ 1,8 bilhão e US$ 3,2 bilhões (entre R$ 9 bi e R$ 16,1 bi, segundo a Bloomberg Billionaires Index e a Forbes, respectivamente), o empresário viu seu patrimônio se dissolver. Em 2017, o mesmo índice da Bloomberg calculava os ativos do empresário em US$ 42 bilhões (R$ 212 bi).
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Citado por publicações ocidentais como alguém com "gosto particular por marcas de luxo e iates", como descreveu a AFP, Hui teve um começo de vida difícil. Ele nasceu em 1958, na família de Henan, e foi criado pela avó a partir dos 8 anos, após a morte de sua mãe. Ainda criança, ele ajudava a avó com as vendas.
Ao fim do período que ficou conhecido como Revolução Cultural, liderado por Mao Tsé-tung entre 1966 e 1976, Hui foi um dos primeiros estudantes universitários da China na Universidade de Ciência e Tecnologia de Wuhan. Após a formatura, foi designado para uma vaga em uma empresa siderúrgica estatal, passando de técnico a chefe de departamento e, por fim, gerente.
Encorajado pela perspectiva do plano de reformas econômicas do falecido líder supremo Deng Xiaoping, Hui largou o emprego em 1992 e foi para o sul, para Shenzhen, a primeira zona econômica especial da China, onde ingressou no mercado imobiliário. Em 1996, Hui fundou a Evergrande e teve um sucesso inicial no desenvolvimento de propriedades em Guangzhou, capital da província de Guangdong, no sudeste do país asiático.
Hui desenvolveu um relacionamento próximo com as autoridades chinesas. Membro do Partido Comunista há mais de três décadas, ele foi eleito em 2008 para integrar a Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, um grupo de elite composto por funcionários do governo e os maiores nomes do mundo empresarial. Mais tarde, ele garantiu outros dois mandatos de cinco anos.
Hui também fazia parte do comitê permanente de elite de 300 membros da CCPPC desde 2013, mas foi-lhe dito para não participar na convenção anual em Março do ano passado, uma vez que o seu grupo imobiliário se tornou a maior vítima da crise de crédito do país.
O relacionamento com as autoridades de Pequim, no entanto, começou a azedar quando os problemas financeiros começaram a aparecer em uma escala assustadora. De acordo com a revista Forbes, a Evergrande foi oficialmente rotulada como inadimplente em dezembro de 2021 e está luta para pagar US$ 327 bilhões (R$ 1,65 trilhão), tornando-a a empresa do ramo imobiliário mais endividada do mundo.
Em meio à pandemia da Covid-19 e com diversos projetos bilionários parados, a empresa se tornou inadimplente, deixou de pagar acionistas estrangeiros e afetou os índices de crescimento econômicos almejados por Pequim, que ainda não voltaram ao patamar atual.
O banco central da China culpou a sua “má gestão” e “expansão imprudente” pela morte de Evergrande, e o governo instou Hui a usar a sua fortuna para ajudar a reembolsar os investidores.
De acordo com o relato de autoridades ouvidas pela Bloomberg, Hui não está preso, contudo. Na Lei Processual Penal Chinesa, ele se enquadra "sob vigilância policial". Na prática, o empresário não está preso ou foi processado. Contudo, pode ficar até seis meses sob vigília constante da polícia em um local determinado, sem acesso ao próprio passaporte e outras credenciais e não pode deixar o local.
Outrora considerado um dos empresários mais politicamente ligados na China, com ambições que íam de carros eléctricos ao futebol, o magnata tornou-se agora a vítima mais notória da repressão do Presidente Xi Jinping à projeção excessiva e à especulação no setor imobiliário.
Em meio a um expurgo nas Forças Armadas chinesas e o sumiço de ministros do alto escalão, a vigilância sobre Hui traz à memória as quase desaparições de magnatas como Jack Ma, do AliBaba, e Bao Fan, da China Renaissance Holdings, empresa de tecnologia que atendia clientes como Tencent e Baidu.
Hui é casado e tem três filhos. Ele é doutor honorário da University of West Alabama.