Quem é Irfaan Ali, presidente da Guiana que trava embate com Venezuela pelo território de Essequibo
Político costuma aparecer ao lado da população pela 'defesa da soberania' do país
“Orgulhoso marido de Arya Ali, pai grato de Zayd e do bebê Ilan, e honrado em servir como Presidente da linda Guiana”. É assim que Mohamed Irfaan Ali, de 43 anos, costuma se descrever nas redes sociais. Eleito em agosto de 2020, ele é o nono político a ocupar o posto no país, que abriga o território de Essequibo, reivindicado pela Venezuela. Enquanto lida com as tensões políticas crescentes com o vizinho, Ali costuma aparecer ao lado da população pela “defesa da soberania”.
Em 24 de novembro, ele divulgou que teve “a honra de passar a noite com os soldados na fronteira”, e afirmou que estava “orgulhoso dos homens e mulheres fardados”. Nos comentários, os elogios da população são um indício do que já foi veiculado pela imprensa local, que o retrata como “carismático e popular”. Conforme pesquisa de opinião conduzida pela Associação de Professores da América do Norte e Caribe (Nacta) e divulgada em fevereiro, a taxa de aprovação de Ali seria de 80% na base de seu partido, o Popular Progressista, e de 60% nacionalmente.
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Nascido em Leonora, um vilarejo dentro de uma das ilhas que são parte do território guianense, Ali é descendente de uma família muçulmana com ascendência indiana. Doutor em planejamento urbano, foi membro da Assembleia Nacional da Guiana entre 2006 e 2015. Ele também já foi nomeado Ministro de Habitação e Água e Ministro da Indústria do Turismo e Comércio. Neste primeiro, implementou a campanha de concessão de terras mais extensa da história do país, apoiada pela distribuição de lotes para cidadãos de todas as classes e regiões.
Na Assembleia Nacional, Ali foi um dos principais porta-vozes sobre economia e finanças. Ele atuou como presidente do Comitê de Contas Públicas, e co-presidente do Comitê de Serviços Econômicos do Parlamento da Guiana. O atual presidente ainda trabalhou como coordenador no Banco de Desenvolvimento do Caribe. Em sua biografia, disponível no site do governo, é ressaltado que “Ali é um dos dois filhos de seus pais, ambos educadores”, e que é “casado e pai de família”.
Entenda a disputa
A disputa territorial pelo Essequibo, pertencente à Guiana, remonta ao século XIX. De um lado, a Guiana se atém a um laudo arbitral de 1899, no qual foram estabelecidas as fronteiras atuais. Do outro, a Venezuela usa sua interpretação do Acordo de Genebra, firmado em 1966 com o Reino Unido, antes da independência da Guiana. Na época, Londres e Caracas concordaram em estabelecer uma comissão mista “para buscar uma solução satisfatória”, já que o governo venezuelano havia considerado o laudo de 1899 “nulo e vazio”.
Ainda que a Venezuela tivesse reivindicado a soberania sobre o território quando a Guiana ainda era uma colônia britânica, porém, a escalada de interesse aumentou com a descoberta de grandes reservas de petróleo na região em 2015. Sem solução, a questão foi parar nas mãos da Corte Internacional de Justiça (CIJ) em 2018, por definição do secretário-geral da ONU, António Guterres, que se valeu da prerrogativa estabelecida pelo próprio Acordo no caso de as partes não chegarem a um entendimento. Ainda não há previsão para uma decisão final da Corte.
Em meio ao embate, a Venezuela chegou a convocar um referendo para reforçar a reivindicação. Segundo dados do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), mais de 95% dos 10,4 milhões de eleitores (o equivalente a metade dos 20,7 milhões habilitados a votar) que participaram da consulta aprovaram a criação de um estado venezuelano chamado Guiana Essequiba. Outra proposta aprovada foi a concessão de cidadania venezuelana aos 125 mil habitantes da região.
Como resposta, Irfaan Ali afirmou que seu país não tinha “nada a temer”. Em transmissão ao vivo nas redes sociais, ele disse que as autoridades estavam trabalhando “incansavelmente” para garantir que as fronteiras permanecessem “intactas”.