ELEIÇÕES ARGENTINAS

Quem é Javier Milei, presidente eleito da Argentina

Eleito no domingo, com 55,7% dos votos, ultraliberal alcançou a Casa Rosada após uma carreira política meteórica impulsionada por aparições na TV e estratégia digital

Presidente eleito da Argentina, Javier MileiPresidente eleito da Argentina, Javier Milei - Foto: Luis Robayo/AFP

Oito anos antes de se tornar o primeiro ultraliberal a ser eleito presidente da Argentina, Javier Milei era o economista-chefe da Corporação América, que controla, entre outras empresas, a Aeroportos Argentina 2000. Naquele ano, 2015, decidiu levar suas teorias econômicas libertárias aos canais de TV locais com a meta de se tornar conhecido.

Um certo dia almoçava em um restaurante de Palermo e pediu a um colega de trabalho que o apresentasse ao conhecido apresentador Alejandro Fantino, que estava no local. Após uma conversa improvisada, Fantino convidou Milei para ir a seu programa. A audiência naquele dia, segundo o próprio apresentador lembrou em entrevistas a meios locais, subiu.

Demorou pouco tempo para que o economista passasse a ser convidado para outros programas e se tornasse, como tinha sido seu plano desde o início, uma figura midiática relevante no país.

Milei chamava a atenção com suas ideias disruptivas, entre elas a de eliminar o Banco Central — pilar de seu programa de governo —, seu estilo intempestivo e seu visual. Era, nas palavras de uma pessoa que o conhecia muito bem à época, “um combo perfeito para a TV: um economista de cabelo bagunçado, que falava coisas delirantes, explosivo, briguento, que foi goleiro de um time portenho e cantor de uma banda de rock inspirada nos Rolling Stones”.

Fenômeno digital
O sucesso na TV o levou ao teatro e, paralelamente, às redes sociais, sua principal plataforma de projeção nacional. Milei se tornou um fenômeno do mundo digital e, aos poucos, conquistou uma legião de fãs no Youtube, Instagram e TikTok. Num país mergulhado na decadência econômica e acostumado aos permanentes escândalos de corrupção, as falas de Milei cativaram, sobretudo, os mais jovens, base de sua militância mais radical.

Antes de entrar para a política como uma figura antissistema da direita radical, Milei foi um showman construído por ele mesmo, com características idênticas às que mostrava na vida real. O economista, formado na Universidade de Belgrano, instituição de pouco prestígio no país, vem de uma família de classe média e sofreu, conta, abusos por parte de seu pai.

Em entrevistas, Milei chegou a dizer, no passado, que para ele seus “progenitores” estavam “mortos”. Seu principal vínculo é com sua irmã, Karina, chefe de sua campanha e principal assessora, que já foi por ele comparada a Moisés. Os cachorros — vivos e mortos — também são muito importantes para Milei, que dedicou o resultado das primárias de agosto, quando foi o mais votado, “aos filhos de quatro patas”.

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Pessoas que trabalharam com o economista nunca imaginaram que ele se tornaria uma celebridade. Milei, lembram alguns, era um economista que se destacava por sua inteligência, mas também pela personalidade forte, e que não titubeava ao chamar alguém de burro numa reunião.

Solitário
Milei continuou trabalhando na Corporação América até que, em 2021, quando elegeu-se deputado pelo partido que fundou, A Liberdade Avança, passou a dedicar a vida à política. Sua relação com o dono do grupo econômico "que tem presença no Brasil", o empresário Eduardo Eurnekian, é errática. E entrou em crise quando Milei insistiu em atacar publicamente o Papa Francisco, posição que modificou nos últimos meses de campanha. Eurnekian disse que o ex-funcionário “tem falhas” e, numa declaração que provocou a ira de Milei, assegurou que “o país não está em condições de aguentar outro ditador”.

Muitos acreditam que Eurnekian é quem está por trás da carreira política de Milei, mas pessoas próximas ao empresário garantem que ele nada teve a ver com as ambições do economista. Na reta final, a relação entre ambos se rompeu.

O candidato é uma pessoa solitária, tem poucos amigos e construiu um partido político do zero, que chegou bem mais longe do que muitos que o conheceram imaginavam. Seu principal calcanhar de Aquiles é a falta de estrutura da legenda, que a aliança com o ex-presidente Mauricio Macri busca compensar. Mas a convivência entre os dois é uma grande incógnita, dada à dificuldade que Milei tem para tolerar críticas e opiniões contrárias.

Sua relação com a rede global de extrema direita é uma peça importante em sua história. Um ex-assessor de Milei admite que surfar na onda de figuras como os ex-presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump foi uma “ideia genial” para se instalar na política argentina. O candidato conseguiu superar a aliança opositora Juntos pela Mudança e se tornar o adversário de peronistas e kirchneristas no segundo turno, uma verdadeira proeza.

Apenas oito anos depois de ter se apresentado pela primeira vez na TV, sem contar com o apoio de governadores e prefeitos, e com uma bancada minúscula no Congresso, Milei foi eleito com 55,7% dos votos válidos no domingo.

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