Quem é Kaja Kallas, "nova dama de ferro da Europa" que entrou para "lista de inimigos" de Putin
Moscou lançou ordem de busca contra premier da Estônia em processo aberto contra ela
Às vésperas do aniversário de dois anos da guerra na Ucrânia e à medida que a tensão entre a Rússia e o Ocidente aumenta, o Kremlin deu um passo mais largo nesta terça-feira ao incluir na sua "lista de inimigos" uma das figuras políticas mais fortes dentro da União Europeia e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Trata-se da primeira-ministra da Estônia, Kaja Kallas, contra quem as autoridades russas lançaram um mandado de busca.
Fontes citadas pela agência de notícias russa Tass indicaram que “foi aberto um processo contra Kallas (…) pela destruição e danos a monumentos aos soldados soviéticos (no país Báltico)”.
As autoridades da Estônia iniciaram o desmantelamento de vários monumentos soviéticos no país após a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, por ordem do presidente russo, Vladimir Putin. Os três países bálticos têm sido especialmente críticos de Moscou pela ofensiva, e a primeira-ministra Kallas tornou-se um dos principais detratores do líder russo e forte defensora da presença militar dos Estados Unidos e da Otan na Europa Oriental
Numa entrevista à BBC logo após o início da guerra, Kallas disse que não se deve “cometer o erro” de deixar o governo russo impune pela invasão, pois isso enviaria a mensagem de que “a agressão tem as suas recompensas”.
— O Ocidente deveria ter como objetivo que a Ucrânia ganhe esta guerra e que Putin a perca. Por quê? Porque se houver algum tipo de acordo de paz e houver algum tipo de Guerra Fria, todos ficam onde estão — apontou aos meios de comunicação britânicos. — Dessa forma, atacar tem seus benefícios, porque não só você toma à força parte das terras dos vizinhos, mas também consegue no final o apaziguamento. Isso não deveria ser permitido.
Desde que a Rússia lançou a invasão à Ucrânia, Kallas tem sublinhado a necessidade de a Europa reforçar a sua segurança no curto prazo, de três a cinco anos, para que os países se preparem para um possível conflito militar.
Pelo seu comportamento intransigente em relação à Rússia, Kallas foi apelidada de a nova “Dama de Ferro da Europa”. Kallas pressionou por planos mais abrangentes para defender os três Estados bálticos — Estônia, Letônia e Lituânia — todos eles fronteiriços com a Rússia.
Além disso, o site Politico informou em novembro passado que a premier gostaria de ser considerada para o cargo de secretária-geral da Otan assim que Jens Stoltenberg deixasse o cargo. No entanto, diplomatas da aliança afirmaram que alguns membros podem considerar Kallas "agressiva demais".
A defesa da fronteira da Ucrânia tem sido um ponto crucial para a premier.
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— Há anos que falamos sobre a vulnerabilidade do flanco oriental da Otan. Agora estão prestando atenção em nós — disse Kallas numa reunião com o seu então homólogo da Letônia, Krisjanis Karins, e a primeira-ministra da Lituânia, Ingrida Simonyte. — Elogiamos a decisão dos Estados Unidos de enviar mais forças, bem como a decisão britânica de duplicar as suas forças na nossa área.
Desde que se tornaram independentes da União Soviética em 1990 – um ano e meio antes do colapso absoluto do império presidido por Mikhail Gorbachev – a Estônia, a Letônia e a Lituânia iniciaram um processo de ocidentalização. Desde 2004, fazem parte da União Europeia e, nesse mesmo ano, foram incorporados à Otan.
No entanto, Kallas tem estado sob pressão nos últimos meses, desde que surgiram relatos, em agosto do ano passado, de que o seu marido era coproprietário de uma empresa de logística que continuou a fazer negócios com a Rússia durante a guerra — alegações que o ministro descreveu como uma “caça às bruxas” perpetrada por seus detratores.
História familiar com a URSS
Além das questões políticas, a premier tem uma longa história familiar com a União Soviética. Durante as deportações soviéticas da Estônia, sua mãe, Kristi, na época com 6 meses de idade, foi deportada para a Sibéria com a mãe e a avó em um vagão de gado e viveu lá até os 10 anos de idade.
Kallas pertence a uma das famílias fundadoras da Estônia. Nascida em Tallinn em 18 de junho de 1977, ela é filha de Siim Kallas, que serviu como 14º primeiro-ministro da Estônia. O avô de Kallas foi Eduard Alver, um dos fundadores da República da Estônia, em 24 de fevereiro de 1918, e o primeiro chefe da Polícia da Estônia. Kaja Kallas formou-se em direito pela Universidade de Tartu em 1999. É integrante da Ordem dos Advogados do país desde 1999 e advogada desde 2002.
Em 2010, Kallas decidiu aderir ao Partido da Reforma da Estônia. Nas eleições de 2014, ela apresentou-se como candidata ao Parlamento Europeu e recebeu 21.498 votos. Foi deputada europeia até 2018, quando decidiu regressar à política nacional.
Durante o seu mandato no Parlamento, Kallas trabalhou na estratégia do Mercado Único Digital, nas políticas de energia e consumo e nas relações com a Ucrânia. Em particular, defendeu os direitos das pequenas e médias empresas (PME), argumentando que as fronteiras no mundo digital dificultam o surgimento de empresas inovadoras. Ela é uma defensora da inovação e insiste frequentemente que as regulamentações não podem e não devem impedir a revolução tecnológica.