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Saiba quem é Mohammed Deif, líder militar do Hamas que nasceu em campo de refugiados

Deif, que significa "convidado" em árabe, sobreviveu a pelo menos cinco tentativas de assassinato nos últimos anos

Ataque de Israel em GazaAtaque de Israel em Gaza - Foto: MOHAMMED ABED / AFP

Há quem diga que ele só tem um olho, que perdeu uma mão e anda em uma cadeira de rodas desde que um ataque de Israel, em 2002, lhe tirou a perna. Sempre envolto em mistério, Mohammed Deif, líder do braço militar do Hamas, foi quem deu voz ao anúncio da operação do grupo terrorista em Israel, no último sábado (7). “À luz dos crimes contínuos contra o nosso povo, à luz da orgia da ocupação e da sua negação das leis e resoluções internacionais e à luz do apoio americano e ocidental, decidimos colocar um fim a tudo isto”, avisou.

Durante a madrugada, enquanto sua mensagem tomava conta das rádios na Faixa de Gaza, centenas de militares do Hamas se moviam para a fronteira e se preparavam para lançar foguetes contra o território de Israel, num ataque inédito que já deixou milhares de mortos.

Apesar de ser um dos homens mais procurado pelos militares israelenses desde 1995 — por orquestrar os assassinatos de soldados e civis israelenses — Deif sobreviveu a pelo cinco tentativas de assassinato nas últimas duas décadas. A última, em maio de 2021, aconteceu durante a operação que ficou conhecida como Guardião dos Muros, uma resposta ao lançamento de 4,3 mil foguetes, até então sem precedentes. Após intensas negociações diplomáticas, um cessar-fogo entrou em vigor 11 dias depois, em 21 de maio.

Mohammad Masri, seu nome original, nasceu em 1965, no campo de refugiados Khan Yunis, em Gaza. Ainda que a família tivesse dificuldades, conseguiu estudar na Universidade Islâmica de Gaza, onde teria se formado em Biologia. Depois de ingressar no Hamas, em 1990, ficou conhecido como Mohammed Deif (Deif significa “convidado” em árabe), devido ao seu estilo de vida nômade.

Naquela época, Ghazi Hamad, hoje porta-voz do Hamas, compartilhou uma cela de prisão com Deif depois que ambos foram presos pelos israelenses.

"Desde o início de sua vida no grupo, ele estava focado em sua trajetória militar" costuma dizer Hamad. "Ele era muito gentil. O tempo todo um patriota que fazia pequenos desenhos para nos fazer rir".

Sobre ele não circulam imagens — a última é de 1996 — e Deif se mantém longe da internet e dos celulares, por isso, também é conhecido como “fantasma”. Naquele ano, os serviços secretos israelenses assassinaram o seu mentor: Yahya Ayyash, mais conhecido como “engenheiro”, era perito em fabricar explosivos usados em atentados suicidas. Ele morreu ao atender a ligação de um celular que tinha sido armado com uma bomba.

Deif se tornou o comandante militar supremo das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam depois que Israel assassinou Salah Shehade, em julho de 2002. No seu primeiro áudio como líder prometeu aos inimigos: "A sua vida será um inferno". Na primeira tentativa de assassinato, Deif teria perdido um olho e, na segunda, uma parte do braço.

Enquanto se recuperava, foi substituído na liderança do Hamas por Ahmad Jabari, que foi assassinado em novembro de 2012 pelas forças israelenses. Em 2014, sua esposa, o filho de 7 meses e a filha de 3 anos foram mortos por um ataque aéreo israelense.

Em 2009, Deif entrou para a lista de terroristas dos EUA. Em entrevistas, analistas o descrevem como um homem quieto e intenso, que não se interessa pelas rivalidades internas das facções palestinas.

"Deif tentou começar a segunda guerra da independência de Israel" disse ao Financial Times Eyal Rosen, coronel na reserva do Exército israelense que ocupava um posto na Faixa de Gaza. "O principal objetivo é destruir Israel, em etapas. Este é um dos primeiros passos; é apenas o começo".

Seu legado inclui a fabricação de foguetes Qassam, a criação de uma infraestrutura de túneis e à aproximação com o Irã, que permitiu um forte aumento do fornecimento de armas. Um agente ligado ao Shin Bet disse, ao Financial Times, que Deif buscava alvos de alto impacto, como colonos e soldados, no caso dos territórios ocupados, ou ônibus em Jerusalém e em Tel Aviv. Ele também supervisionou os ataques de foguetes que levaram israelenses a se refugiarem em abrigos antiaéreos em intervalos regulares.

A aposta nos sequestros é também um traço do braço armado do Hamas liderado por Deif — uma das táticas usadas neste novo ataque. O grupo terrorista tem raptado milhares de israelenses que seriam usados como moeda de troca para reaver os palestinos presos por Israel.

Internamente, Deif costuma de opor às concessões que o Hamas faz de tempos em tempos, concordando em interromper os combates em troca de fundos adicionais para a Faixa de Gaza, que o grupo controla, ou mais autorizações de trabalho para os palestinos que vivem no local.

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