ARGENTINA

Quem é quem no processo de violência doméstica contra o ex-presidente argentino Alberto Fernández

Ex-primeira dama, a jornalista e atriz Fabiola Yañez diz que o ex-presidente a teria agredido com socos, chutes e violência psicológica

A ex-primeira-dama argentina Fabiola Yáñez e o ex-presidente Alberto Fernández A ex-primeira-dama argentina Fabiola Yáñez e o ex-presidente Alberto Fernández  - Foto: AFP

A denúncia de agressão contra o ex-presidente Alberto Fernández mantém a Argentina em suspense. Desde que veio a público a acusação de Fabiola Yañez, que foi primeira-dama durante o mandato de Fernández (de 2019 a 2023), novos dados, versões e depoimentos sobre o caso surgem diariamente, enquanto o processo judicial está sob sigilo.

Já vazaram fotos da mulher com hematomas no olho direito e em um braço. Ela afirmou que também sofreu assédio e “terrorismo psicológico” e que Fernández a chutou enquanto ela estava grávida do filho que tiveram juntos há dois anos.

O Ministério Público já acusou o ex-presidente peronista de lesões agravadas por ocorrerem num contexto de violência de gênero, mas Fernández nega as acusações e garante que provará a sua inocência. A seguir estão os protagonistas do caso.

 

Alberto Fernández
Durante os últimos 20 anos, Fernández (Buenos Aires, 1959) foi um dos nomes-chave do peronismo, primeiro como um poderoso funcionário do Kirchnerismo, depois como seu oponente e, finalmente, como seu aliado.
 

Alberto Fernández Alberto Fernández // Juan Mabromata/AFP


Foi chefe de gabinete de ministros durante a presidência de Néstor Kirchner (2003-2007) e continuou no cargo por mais sete meses, no início do mandato de Cristina Kirchner (2007-2015).

Mudou para o peronismo dissidente até que o ex-presidente o nomeou como candidato presidencial, tendo ela como companheira de chapa, para evitar a reeleição de Mauricio Macri (2015-2019).

A aliança que lhes permitiu vencer as eleições e formar o seu Governo rompeu-se rapidamente, sob o cerco da pandemia, da seca, das lutas internas e das próprias carências e indefinições. A denúncia da ex-companheira tem impacto letal para a carreira política de Fernández.

“Não bati na Fabíola, nunca bati em mulher”, defendeu-se Fernández, afirmando que deixará isso claro na Justiça. Sua casa foi alvo de uma eção policial e seu telefone foi apreendido para ser examinado.

Fabíola Yanez
“Socos”, chutes, sacudidas, “violência física e mental" foram algumas das agressões que a jornalista e atriz Yañez (Río Negro, 1981) relatou ter sofrido do ex-presidente.
 

A ex-primeira-dama Fabíola Yañez mostra hematomas no braço e olho roxo; imagens são parte da acusação contra ex-presidente da Argentina Alberto Fernández A ex-primeira-dama Fabíola Yañez mostra hematomas no braço e olho roxo; imagens são parte da acusação contra ex-presidente da Argentina Alberto Fernández // Reprodução


O relacionamento do casal começou em 2014 e os abusos vieram dois anos depois, segundo a versão de Fabíola, quando ele a forçou a fazer um aborto. Segundo sua história, a violência começou a se tornar comum enquanto moravam na residência presidencial de Olivos, após a vitória de Fernández nas eleições de 2019. "À noite, sempre com reclamações e discussões que terminavam em tapas", segundo o relato, que também aponta que Fabíola maquiava-se e cobria os hematomas para ajudá-lo.

Tudo piorou em agosto de 2021, quando se soube que ambos haviam violado as medidas de confinamento sanitário durante a pandemia de Covid-19 no ano anterior, com uma festa para comemorar seu aniversário. A partir daí, disse ela, Fernández passou a responsabilizá-la pelo declínio do seu governo. Após a separação, no final do ano passado. Yañez agora mora em Madrid com seu filho Francisco, de dois anos, e sua mãe.

María Cantero, a secretária
Por décadas atuando como secretária particular de Alberto Fernández, María Cantero foi a porta para se chegar ao escândalo. Tudo começou com uma denúncia por supostas irregularidades – que chegaria a Fernández – na contratação de seguros ao Estado.

A investigação judicial colocou em destaque María e seu marido, Héctor Martínez Sosa, corretor de seguros que, segundo a denúncia, teria arrecadado altas comissões como intermediário. Os investigadores apreenderam o telefone de María e lá encontraram mensagens de Fabiola Yañez informando que Fernández havia batido nela, incluindo fotos.

“Ontem à noite ele quis me enforcar só porque eu lhe falei a verdade, que ele estava coagindo uma amiga minha a dormir com ele”, é uma das mensagens que Yañez teria enviado a María, segundo vazamentos à imprensa do processo judicial.

As respostas da então secretária presidencial variaram entre “não conte a ninguém que você me mandou isso, vou falar com ele” e “ele está com muitos problemas, num momento de muita pressão”. María Cantero foi intimado a prestar depoimento nesta quinta-feira.

Julián Ercolini, o juiz
O juiz encarregado do processo por possíveis irregularidades no seguro também conduz o caso contra Fernández por violência doméstica. Juiz federal desde 2004, Ercolini (Buenos Aires, 1962) tinha em mãos numerosos casos delicados do kirchnerismo, e o ex-presidente Kirchner certa vez o apontou como um dos juízes que realizaram “perseguição judicial” contra ele.

Na Faculdade de Direito foi era colega de cátedra de Alberto Fernández e se consideravam amigos, mas se distanciaram. Tanto é que o ex-presidente o contestou – sem efeito – na causa do seguro, alegando manifesta inimizade e lembrando que o Executivo havia pedido para investigar o juiz por presentes virtuais – para uma viagem que magistrados, funcionários e empresários da mídia fizeram em 2022 para a mansão do milionário Joe Lewis no sul da Argentina.

Quando Fabiola Yañez formalizou sua denúncia contra Fernández, em 6 de agosto, Ercolini proibiu o ex-presidente de deixar o país, aproximar-se de sua ex-companheira ou comunicar-se com ela.

Ayelén Mazzina, a ministra
Do final de 2022 até dezembro de 2023, quando o governo de Javier Milei dissolveu a pasta, Ayelén Mazzina (San Luis, 1989) foi Ministra da Mulher, Gênero e Diversidade.

Segundo o que Fabiola Yañez disse perante o juiz na última terça-feira, em viagem ao Brasil ela contou a então ministra o que estava sofrendo e até mostrou fotos dos hematomas em seu corpo, mas a funcionária não a ajudou.

Ayelén negou: “Em nenhum momento Yañez me informou sobre qualquer situação de violência de gênero”, indicou em documento apresentado ao Ministério Público. Ayelén será investigada por suposto descumprimento de suas obrigações como funcionária pública.

Federico Saavedra, o médico
O atual reitor da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Argentina de la Empresa foi chefe da Unidade Médica Presidencial durante o mandato de Fernández.

Segundo depoimento de Fabiola, o médico sabia dos episódios de violência. Depois de um “terrível soco” que a deixou com um olho roxo em 2021, disse Fabiola, Saavedra a examinou e prescreveu um medicamento homeopático.

O médico ainda não foi convocado para depor no caso, assim como o prefeito da residência de Olivos.

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