guerra no oriente médio

Quem são os cinco alvos dos mandados de prisão solicitados pelo procurador-chefe do TPI

Autoridades israelenses e líderes do grupo do Hamas são acusados de crimes de guerra e contra a Humanidade durante a guerra em Gaza

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o ministro da Defesa Yoav Gallant e o líder do Hamas, Yahya SinwarO primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o ministro da Defesa Yoav Gallant e o líder do Hamas, Yahya Sinwar - Foto: X/Reprodução

O procurador-chefe do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan, solicitou nesta segunda-feira (20) mandados de prisão contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, e os líderes do Hamas Yahya Sinwar, Mohammad Deif e Ismail Haniyeh por crimes de guerra e contra a humanidade cometidos durante a guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza, que teve início em 7 de outubro.

Khan, em um pronunciamento gravado em vídeo, apontou como crimes cometidos por Netanyahu e Gallant o uso da fome contra civis como método de guerra, ataques intencionais contra a população civil e "extermínio e/ou homicídio", inclusive no contexto de mortes causadas pela fome, que teriam sido cometidos no "território do Estado da Palestina desde pelo menos 8 de outubro de 2023", um dia após o ataque terrorista do Hamas ao sul do território israelense.

Já com relação aos líderes do Hamas, Kahn afirmou ter "motivos razoáveis" para crer que Sinwar, Deif e Haniyeh são responsáveis crimes como extermínio, homicídio como crime contra a humanidade, tomada de reféns, estupro e outros atos de violência sexual, tortura, entre outros.

Conheça abaixo um pouco mais sobre os alvos dos mandados expedidos pelo tribunal:

Benjamin Netanyahu
O primeiro-ministro, do partido Likud, é a pessoa que ocupou o cargo por mais tempo e dominou a política do Estado por quase 15 anos. Ele também foi o primeiro a ser julgado por corrupção enquanto ocupava o posto, retornando ao cargo um ano e quatro meses após ser deposto por uma coalizão heterogênea.

Netanyahu foi premier de 1996 a 1999 e novamente de 2009 a 2021. Voltou ao cargo de primeiro-ministro no final de 2022 após os resultados das eleições legislativas anunciarem sua vitória, com o governo considerado o mais direitista da História do país, reunindo partidos de direita, extrema direita e ultraortodoxos.

Já em meados de 2023, uma onda de manifestações invadiu o país contra o controverso projeto de reforma do Judiciário, cuja peça-chave chegou a ser aprovada em julho, mas foi invalidada pela Suprema Corte em janeiro deste ano. Pouco depois, a guerra eclodiu e a pressão no governo — interna e externa, até mesmo por parte de seu maior aliado, os Estados Unidos — aumentou.

Netanyahu integra o gabinete de guerra, um governo de unidade com a oposição que supervisionaria os combates e diluiria o poder de políticos de extrema direita no seu governo

Yoav Gallant
Também membro do Likud, é o ministro da Defesa de Israel e atual integrante do gabinete de guerra. Ex-general e comandante naval, foi nomeado no fim de 2022, vencendo a concorrência de Bezalel Smotrich, um colono de extrema direita na Cisjordânia com muito menos experiência militar. Sua nomeação aliviou os temores nos EUA de que Netanyahu pudesse nomear um extremista para supervisionar as forças armadas de Israel, que trabalha em estreita colaboração com seu homólogo americano.

O ministro chegou a romper relações com Netanyahu em 2023 ao pedir a suspensão da reforma no sistema judiciário de Israel, uma proposta que levou a grandes protestos. Alguns israelenses contrários ao primeiro-ministro o veem como mais responsável e pragmático do que os colegas.

Yahya Sinwar
Líder do Hamas desde 2017, é apontado como o maior responsável pelos ataques de 7 de outubro em Israel. Ele nasceu no campo de refugiados de Khan Younis e entrou para a militância armada quando Israel ainda ocupava a Faixa de Gaza. Sua primeira prisão foi em 1982, por "atividades islâmicas". Foi preso novamente em 1985, período em que se aproximou do fundador do Hamas, Ahmed Yassin, e assumiu o al-Majd, o serviço de segurança interna do grupo. Em 1989, foi condenado à prisão perpétua por quatro homicídios.

Na prisão, tornou-se fluente em hebraico e chegou a receber uma proposta para se tornar um colaborador de Israel, depois de uma cirurgia para retirar um tumor no cérebro. Ele se recusou. Ganhou a liberdade em 2011, durante uma famosa troca de reféns por prisioneiros, e voltou para Gaza como um nome de destaque do Hamas.

Seis anos depois, em 2017, quando já integrava uma lista de pessoas consideradas terroristas pelos EUA, foi escolhido chefe do conselho político do Hamas em Gaza, sucedendo a Ismail Haniyeh, que hoje vive no Catar. Apesar do passado "linha-dura", os primeiros sinais enviados a Israel eram um pouco diferentes. Em 2018, mandou mensagens, incluindo ao próprio Netanyahu, afirmando que estava cansado da guerra, e que seu objetivo era transformar Gaza em uma sociedade funcional e pacífica.

Mohammad Deif
Líder do braço militar do Hamas, foi quem deu voz ao anúncio do ataque terrorista em Israel. Mohammad Masri, seu nome original, nasceu em 1965, em Khan Younis. Estudou na Universidade Islâmica de Gaza, onde teria se formado em Biologia. Ingressou no Hamas em 1990 e ficou conhecido como Mohammed Deif (Deif significa “convidado” em árabe), devido ao seu estilo de vida nômade.

Tornou-se comandante militar supremo das Brigadas al-Qassam depois que Israel assassinou Salah Shehade, em julho de 2002. Em 2009, entrou para a lista de terroristas dos EUA. Seu legado inclui a fabricação de foguetes Qassam, a criação de uma infraestrutura de túneis e a aproximação com o Irã, que permitiu um forte aumento do fornecimento de armas. Sobre ele não circulam imagens — a última é de 1996 — e se mantém longe da internet e dos celulares. Por isso, também é conhecido como “fantasma”.

Costuma se opor às concessões que o grupo faz de tempos em tempos, concordando em interromper os combates em troca de fundos adicionais para Gaza ou mais autorizações de trabalho para os palestinos que vivem no local. Ele considera os Acordos de Oslo, que prometeram uma paz negociada no final dos anos 1990, uma traição à sua resistência e ao objetivo original de substituir Israel por um Estado palestino.

Apesar de ser um dos homens mais procurado por Israel desde 1995, sobreviveu a pelo cinco tentativas de assassinato nas últimas duas décadas. Em sua primeira tentativa de assassinato, teria perdido um olho e, na segunda, uma parte do braço. A última aconteceu em maio de 2021.

Ismail Haniyeh
Líder político do grupo terrorista Hamas, é conhecido como "Abu al-Abd". É chefe do gabinete político do grupo e foi primeiro-ministro do governo palestino, entre 2006 e 2007. Já foi preso por Israel por várias vezes, e chegou a ser expulso do país e enviado para o Líbano. Atualmente vive em Doha, no Catar.

Em 2021, uma reportagem da revista Arab Weekly publicou vídeos em redes sociais que mostravam Haniyeh jogando futebol ao lado de arranha-céus da capital do Catar, e sendo recebido com tapete vermelho por altos funcionários do país. Sua fortuna é estimada entre US$ 4 milhões e US$ 5 milhões (entre R$ 20,3 milhões e R$ 25,4 milhões), segundo o jornal financeiro israelense Globes.

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