Quem são os grupos que controlam a Síria após a queda de Bashar al-Assad?
Domínio do território sírio está fragmentado entre grupos armados que ganharam força e projeção ao longo de 13 anos de guerra civil
O fim do regime de Bashar al-Assad, forçado a renunciar no domingo diante da aproximação de grupos armados rebeldes que tomaram Damasco, empurrou a Síria em direção à primeira mudança de poder em mais de 50 anos.
Embora a coalizão rebelde liderada pelo Hayet Tahrir al-Sham (HTS) pareça estar dando as ordens na capital neste momento, a pacificação total do território sírio ainda parece distante, com uma vastidão de grupos controlando diferentes rincões do país.
As principais cidades estão sob domínio do HTS, que lançou a avassaladora ofensiva na semana final de novembro, que culminou com a deposição de Assad.
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A coalizão, liderada por Abu Mohammad al-Jawlani, anteriormente estava restrita à província de Idlib, no extremo noroeste sírio, de onde fez a arrancada até Damasco, capturando a região mais rica do país, incluindo cidades como Aleppo, Hama e Homs, principais centros urbanos.
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Criado entre 2017 e 2018, a partir da união do antigo grupo de al-Jawlani, o Jabat al-Nusra — após este romper com a al-Qaeda — e grupos menores, o HTS tentou dar sinais de moderação, prometendo um governo com participação popular, pautado em instituições e sem perseguição a minorias étnicas. A avaliação de momento é de que o grupo seja o mais forte nas posições anteriormente governadas por Assad.
Porém, se quiser cumprir com o objetivo de manter a integridade territorial síria, o HTS terá que ser capaz de dialogar (ou subjugar) outros grupos armados que dominam fatias importantes do território. No norte e no leste do país, uma importante força com domínio de fato de áreas do solo sírio são as Forças Democráticas da Síria, de maioria curda, que recebeu amplo apoio americano ao longo da guerra pelo enfrentamento do Estado Islâmico.
Atualmente, as forças curdo-árabes tem o controle de grande parte da fronteira com a Turquia e de Raqqa, principal cidade do leste do país. As posições do grupo estão melhores estabelecidas na margem direita do rio Eufrates, segundo o Instituto Para o Estudo da Guerra (IWS, na sigla em inglês).
Exército Nacional Sírio
Também no norte, perto da fronteira turca, há presença do Exército Nacional Sírio, uma formação opositora ao regime Assad, que foi amplamente patrocinada por Ancara ao longo da guerra civil.
De acordo com o IWS, tanto o grupo aliado da Turquia quanto as forças curdas aproveitaram a ofensiva do HTS para ampliar suas zonas de influência, e chegaram a se enfrentar nos últimos dias — com o regime de Recep Tayyip Erdogan afirmando ter bombardeado elementos curdos no domingo, que acusa de ter ligação com o Partido dos Trabalhadores de Curdistão (PKK), considerado terrorista por Ancara.
O último relatório do IWS, publicado no domingo, aponta também que grupos oposicionistas menores, que ainda não foram totalmente identificados pelos observadores internacionais, estão exercendo controle sobre regiões no sul do país.
É sabido que a ofensiva contra Damasco reacendeu o conflito e impulsionou braços armados locais — que se propagaram ao longo de 13 anos de guerra civil — a retomarem suas operações ofensivas.
O futuro político do país permanece obscuro, e sem um caminho claro delineado para uma unificação. Embora alguns analistas tenham opinado desde domingo que a liderança do HTS é a única com força suficiente para dar as ordens em Damasco no momento, pacificar a o território sírio sob um mesmo governo pode ser uma atividade desafiadora.
Uma proposta inicial, feita por opositores de Assad exilados, apresentou um formato de governo provisório por 18 meses, para a estabilização do país, com a criação de uma nova constituição e posterior transição para um governo definitivo. Al-Jawlani afirmou que o premier sírio, Mohammed Ghazi al-Jalali, permaneceria no poder até a “transferência oficial", mas não especificou quando isso ocorreria e nem de que maneira.