ORIENTE MÉDIO

Quem são os houthis? Conheça grupo do Iêmen que apoia e faz ataques a Israel

Movimento saudou operação iraniana, que, segundo seu líder, desafiou hegemonia de Israel

O Irã disparou cerca de 200 projéteis contra Israel nesta terça-feira, 01O Irã disparou cerca de 200 projéteis contra Israel nesta terça-feira, 01 - Foto: Jack Guez/AFP

O Irã disparou cerca de 200 projéteis contra Israel na noite desta terça-feira (tarde em Brasília), horas após as primeiras informações sobre preparativos de um ataque de Teerã surgirem entre fontes ocidentais. Sirenes de alerta foram disparadas em Tel Aviv, Jerusalém e várias regiões do país, com os sistemas de defesa antiaéreos sendo acionados.

O porta-voz dos Houthis, Mohammed Abdulsalam, saudou a operação militar iraniana, que, segundo ele, desafiou a hegemonia de Israel na região.

A milícia do Iêmen faz parte do chamado "Eixo de Resistência", financiado por Teerã, e desde o início da guerra em Gaza tem feito ataques a Israel em solidariedade à causa palestina.

“Deter a entidade sionista e confrontá-la é a única maneira de dominá-la e impedi-la de escalar seu crime bárbaro contra o povo libanês e palestino e o resto da região”, escreveu Abdulsalam em um post na mídia social.

Quem são os houthis?
O movimento Houthi, também conhecido como Ansarallah (Apoiadores de Deus), é uma das partes envolvidas na guerra civil do Iêmen, que já dura quase uma década. Ele surgiu na década de 1990, quando seu líder, Hussein al-Houthi, lançou o “Believing Youth” (Juventude Crente), um movimento de reavivamento religioso de uma subseção secular do Islã xiita chamada Zaidismo.

Os zaidis governaram o Iêmen durante séculos, mas foram marginalizados pelo regime sunita que chegou ao poder após a guerra civil de 1962. O movimento de al-Houthi foi fundado para representar os zaidis e resistir ao sunismo radical, principalmente às ideias wahabitas da Arábia Saudita. Seus seguidores ficaram conhecidos como houthis.

Como os houthis ganharam poder?
Ali Abdullah Saleh, o primeiro presidente do Iêmen após a unificação do Iêmen em 1990, inicialmente apoiou a Juventude Crente. Mas, à medida que a popularidade do movimento crescia e a retórica antigovernamental se intensificava, ele se tornou uma ameaça para o mandatário.

A questão atingiu seu ápice em 2003, quando Saleh apoiou a invasão do Iraque pelos EUA, à qual muitos iemenitas se opuseram. Para al-Houthi, a ruptura foi uma oportunidade. Aproveitando a indignação pública, ele organizou manifestações em massa. Após meses de desordem, Saleh emitiu um mandado de prisão contra ele.

Al-Houthi foi morto em setembro de 2004 pelas forças iemenitas, mas seu movimento continuou vivo. O braço militar houthi cresceu à medida que mais combatentes se juntaram à causa. Encorajados pelos primeiros protestos da Primavera Árabe em 2011, eles assumiram o controle da província de Saada, no norte do país, e pediram o fim do regime de Saleh.

Os houthis controlam o Iêmen?
Os houthis, um grupo tribal que já foi uma espécie de escória, assumiram o controle de grande parte do norte do Iêmen desde que invadiram Sana em 2014, aumentando gradualmente suas capacidades militares e vencendo efetivamente uma guerra contra uma coalizão liderada pela Arábia Saudita que passou anos tentando derrotá-los.

Agora que os combates mais intensos na guerra civil do Iêmen diminuíram em grande parte, o grupo armado tem funcionado cada vez mais como um governo de fato. Eles descrevem seus recentes ataques como uma campanha de solidariedade aos 2,2 milhões de palestinos que vivem sob o cerco de Israel e bombardeios de Gaza, que foram lançados massivamente em resposta aos ataques sem precedentes do grupo terrorista Hamas em 7 de outubro.

Essa campanha transformou os houthis de uma força local e regional em uma força com impacto global, disse ao New York Times Yoel Guzansky, pesquisador sênior do Instituto de Estudos de Segurança Nacional da Universidade de Tel Aviv. Para ele, no fim das contas, o que os rebeldes desejam é “uma participação maior no Iêmen”, e “talvez queiram fazer isso tornando-se um problema global”.

Os houthis têm apoio regional?
O Irã vem apoiando os houthis há anos, espelhando seus esforços nas últimas três décadas para construir outras milícias, incluindo o Hamas em Gaza e o Hezbollah no Líbano, e estender seu alcance pelo Oriente Médio.

Buscando novas formas de ameaçar a Arábia Saudita, sua rival de longa data, o Irã integrou os houthis à sua rede de milícias, fornecendo ajuda militar que ajudou a transformar o grupo durante a guerra civil do Iêmen, de acordo com autoridades e analistas americanos e do Oriente Médio. O arsenal dos houthis agora inclui drones de longo alcance, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos.

Nas declarações que anunciam seus ataques, os houthis se autodenominam "forças armadas do Iêmen", ignorando a presença de um governo reconhecido internacionalmente e de outros grupos armados baseados no sul do país.

Como os houthis se relacionam com os palestinos?
O apoio à causa palestina e a hostilidade em relação a Israel há muito tempo são os pilares da narrativa houthi; "Morte aos Estados Unidos, morte a Israel" é o slogan do grupo. Parte da forma como eles se posicionam é em oposição aos líderes árabes apoiados pelos americanos, que eles consideram "apenas mercenários do Ocidente", explicou Ahmed Nagi, analista sênior no International Crisis Group.

Os governos árabes, que já entraram em guerra com Israel e lideraram um embargo de petróleo para punir seus apoiadores ocidentais, reagiram à guerra em Gaza principalmente com condenações públicas, campanhas de ajuda e esforços diplomáticos para pressionar por um cessar-fogo, reforçando um sentimento de impotência entre alguns de seus cidadãos, que prefeririam vê-los cortar os laços com Israel ou tomar outras medidas mais enérgicas.

Eylon Levy, porta-voz do governo israelense, descreveu os houthis como representantes iranianos "com a autoconsciência de vilões de desenhos animados", chamando seus ataques de "uma clara ameaça não apenas a Israel, mas também à paz e à segurança internacionais".

O uso de força militar contra Israel também ajuda os houthis a evitar desafios na frente interna, disse Nagi. À medida que a guerra civil do Iêmen avança para uma nova fase, eles enfrentam a pressão das pessoas que pedem serviços públicos básicos ou o pagamento de seus salários atrasados há muito tempo como funcionários públicos, afirmou.

Segundo Nagi, embora esse não seja o único motivo por trás dos ataques houthis, "essa é uma saída para esse dilema". Agora a mensagem é essencialmente: "Não fale sobre nada, porque estamos em uma guerra", concluiu. 

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