Recife: mulher denuncia racismo após ser acusada de roubo e ter bolsa revistada em loja de shopping
Caso aconteceu na última sexta-feira (1º), nas Americanas do Shopping Recife; boletim de ocorrência foi registrado
Na última sexta-feira (1º), a atendente de caixa Ivone Marques da Silva denunciou um caso de racismo dentro das Americanas do Shopping Recife, no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul da cidade. Segundo a vítima, de 26 anos, ela foi obrigada a abrir a bolsa e expor todos os seus pertences para provar que não havia furtado nenhum produto do estabelecimento.
"Vai fazer nove anos que trabalho no shopping. Passei quase cinco anos em uma loja e agora estou trabalhando em outra. Sempre frequentei os locais aqui normalmente, muita gente aqui me conhece. Se fosse uma pessoa branca de chapéu, eles não teriam me parado. Eles acharam que eu estava roubando, sendo que só estava com a minha bolsa lá. Foi muito vergonhoso, muito humilhante", frisou Ivone.
Exposição nas redes
Em vídeo divulgado em rede social, Ivone registrou o momento em que é induzida a abrir sua bolsa e mostrar seus pertences.
"Larguei às 19h e fui a Americanas comprar alguns itens pessoais. Estava com a mochila nas costas, carteira e celular na mão. Notei que os seguranças estavam me olhando, mas achei que era rotina, então nem liguei. Na seção de brinquedos, eles vieram até mim, já me encurralando, e disseram que viram nas câmeras que eu estava roubando. Eu neguei e eles disseram que viram nas câmeras, então eu abri a bolsa e, quando eles viram que eu não tinha roubado nada, começaram a desconversar, mudar de assunto", relatou.
Ao chamar o gerente, Ivone relatou que foi tratada com desdém. "Eu estava muito nervosa, cheguei a ser consolada por uma pessoa, porque estava chorando e tremendo muito. Quando o gerente chegou, eu falei para ele sobre o que aconteceu e pedi para ver as filmagens. Ele tinha um tom meio sonso e me disse que não podia mostrar as imagens para mim, então eu disse que ia para a polícia.”
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Já lidou com racismo antes
À Folha de Pernambuco, a atendente contou que já lidou com descriminação por sua cor antes, mas nunca havia chegado a este ponto.
"Eu já tive algumas situações em que sofri racismo, mas que nunca chegaram a esse nível. Em outro momento, sofri racismo e não falei nada, inclusive no trabalho. Eu tenho certeza que foi racismo porque foi vergonhoso demais. Não só pela minha cor, como também pelas minhas roupas”, expôs Ivone.
"Eu tô me sentindo envergonhada pelo que passei. Foi uma humilhação. Quando lembro, me dá vontade de chorar. A pessoa chegar e afirmar que eu estava roubando, com tanta certeza. Se ainda duvidassem, mas eles pareciam ter certeza disso”, lamentou.
Caso registrado na delegacia
Após o ocorrido, a vendedora registrou um boletim e ocorrência por calúnia, constrangimento ilegal e racismo na Delegacia da 7ª Circunscrição, também no bairro de Boa Viagem.
Segundo a Polícia Civil, por meio de nota, “as investigações foram iniciadas e seguem até esclarecimento do caso”.
Americanas se posiciona
Em nota enviada à Folha de Pernambuco, a Americanas classificou a abordagem como "inaceitável", disse que está prestando assistência à vítima e que fará nova capacitação com funcionários.
"A companhia adotou as medidas cabíveis de acordo com suas políticas e, em paralelo, contatou a cliente para a devida retratação e apoio. A Americanas informa que toda a equipe de lojas passará novamente por treinamento e sensibilização sobre condutas e valores", informou.
"Sobre a acusação em questão, a companhia reitera que não tolera quaisquer formas de discriminação ou racismo e que vem evoluindo na formação de uma cultura antirracista dentro e fora de sua operação, por meio de letramentos e ações de inclusão e combate ao racismo junto a organizações e movimentos em prol da equidade racial", conclui a nota.