Embaixador do Pin For Peace e sobrevivente de ataque do Hamas, Rafael Zimerman visita a Folha
Ativista está no Recife para uma série de palestras em ele fala sobre o que passou em Israel em 7 de outubro de 2023
O educador da ONG Stand With Us Brasil e embaixador do Pin For Peace, movimento pela paz, contra o terrorismo e o antissemitismo, Rafael Zimerman, que está no Recife esta semana para visitar algumas escolas e se reunir com autoridades e lideranças pernambucanas, visitou a Folha de Pernambuco na tarde de ontem. O ativista foi recebido pela vice-presidente da Folha de Pernambuco, Mariana Costa; pelo diretor Executivo do jornal, Paulo Pugliesi; e a editora-chefe, Leusa Santos.
Rafael, que estava acompanhado do presidente da Federação Israelita de Pernambuco (Fipe), Boris Berenstein, e do coordenador de Comunicação da mesma instituição, Jáder Tachlitsky, é um dos sobreviventes do ataque terrorista realizado pelo Hamas em Israel, em 7 de outubro de 2023, no Nova Festival. Zimerman está na cidade para compartilhar, por meio de palestras, a história de resiliência e de superação, inspirando a valorização da vida e a promoção da paz.

“Vou em escolas, na sinagoga para falar um pouco do que aconteceu naquele dia e de pós-trauma, que é um assunto importante e muito delicado e para falar sobre paz, que também é importante”, disse Rafael em entrevista à Radio Folha 96,7 antes da visita.
Rafael contou que, durante o ataque, saiu correndo da festa em que estava com um casal de amigos, conseguiram uma carona e se esconderam em um bunker, que acabou sendo invadido pelos terroristas do Hamas. O espaço, concebido para abrigar, no máximo, 15 pessoas foi ocupado por cerca de 40. Desse total, apenas nove saíram vivas. Rafael foi um deles.
O rapaz, hoje com 28 anos, sempre se emociona muito quando faz o relato do que ele chama de "aquele dia fatídico", mas diz que faz bem para ele desabafar. “O que eu aprendi nesses um ano e quatro meses é que se você tem um trauma, se tem algo que te machuque, tem que falar, porque quando guarda para você, uma hora isso explode. [...] É doloroso, machuca, mas você não passa uma vida sem trauma. Terapia ajuda muito e (com isso) também (quero) ajudar o próximo. Quando você fala de seus problemas acaba ajudando o outro também. Então, para mim é até terapêutico falar”, justificou.
Trauma
A ser indagado como conseguiu transformar uma experiência traumática em uma missão de busca pela paz, o ativista disse que, antes de tudo, entendeu que ele não é único, não é especial. “A única diferença para os outros é que eu tenho a oportunidade de falar para as pessoas o que aconteceu comigo. Chego em uma palestra onde tem 100 pessoas, elas me ouvem porque é uma história surreal, uma história de cinema, e é muito curioso como consigo ajudar as pessoas”, explicou.
Antes do episódio que marcou a vida dele, Rafael morava na cidade de São Paulo, trabalhava no mercado financeiro, mas depois que sofreu duas tentativas de assalto à mão armada, largou tudo e resolveu tentar a vida em Israel. Em maio de 2023, vai para Israel, onde começa a trabalhar como garçom em um hotel.
“Sabe uma coisa que me pegou muito quando comecei a trabalhar lá como garçom? Coexistência. Eu via judeus, mulçumanos e cristãos trabalhando juntos. Inclusive, um dos meus melhores amigos no hotel o nome dele é Mohamed. Reza cinco vezes por dia. Eu, como judeu brasileiro, achava aquilo o máximo”, recordou.
Ataque
No dia do ataque surpresa, a convite de um amigo brasileiro, Rafael tinha ido a festa Nova Festival - que estava sendo realizada em um deserto a menos de 20 km da Faixa de Gaza. “Pouca gente sabe que na verdade o festival que foi atacado era uma festa brasileira – promovida pelo pai do DJ Alok –, era uma festa com 13 mil pessoas do mundo inteiro, de todas as religiões, que prega muito sobre paz, amor e coexistência”, disse. Na festa, Rafael estava acompanhado do amigo Ranani Glazer (que morreu no ataque) e da namora deste, Rafaela Treistman.
Às 6h29 da manhã começaram os ataques. A segurança começou a gritar, em hebraico, que era uma situação de código vermelho, um alerta máximo. Os estampidos ouvidos eram a ação do sistema de defesa Domo de Ferro aos projéteis lançados pelo Hamas. Os três conseguiram uma carona até um bunker no meio da estrada. Acharam que estavam protegidos, mas foi aí que começou o horror, porque os terroristas, pouco tempo depois, atacaram o local.
“O bunker virou um caos: 40 pessoas, não tinha porta, as pessoas na frente tentando ir para trás. Uma menina entrou em colapso e me mordeu na costela, tenho a marca até hoje dos dentes dela, ela arrancou minha carne. A primeira coisa que os terroristas fizeram foi jogar um gás lá dentro”, relembrou.
Rafael viu o amigo ser atingido, agonizar de dor e só pediu para ser o próximo porque já tinha perdido a esperança de sair dali vivo. “A dor psicológica é tão grande que supera a dor física. Eu queria morrer, eu pedia para morrer até que depois de muito caos lá dentro, desmaiei e quando acordo, estou embaixo de vários corpos, e fingindo de morto”, complementou.