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Coronavírus

Reabertura leva insegurança a áreas carentes na pandemia, dizem líderes comunitários

Para 82% das lideranças entrevistadas, a flexibilização das medidas de isolamento social tomadas para conter a Covid-19 terá impactos negativos

Pernambucanos usando máscara de proteção contra o coronavírusPernambucanos usando máscara de proteção contra o coronavírus - Foto: Rafael Furtado/Folha de Pernambuco

 O relaxamento da quarentena nos estados aumentou a insegurança dos moradores de áreas carentes das principais cidades do país com a falta de controle da transmissão do coronavírus e suas consequências, segundo uma enquete feita com líderes comunitários que atuam em seis capitais.

Para 82% das lideranças entrevistadas, a flexibilização das medidas de isolamento social tomadas para conter a Covid-19 terá impactos negativos. Somente 14% disseram esperar efeitos positivos, com a reabertura do comércio e a retomada de outras atividades econômicas que estavam paralisadas.

Realizada pela Rede de Pesquisa Solidária entre os dias 6 e 16 deste mês, a enquete ouviu 75 líderes comunitários das regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Manaus, além de três grandes cidades do interior, Campinas (SP), Joinville (SC) e Maringá (PR).

Entre os que veem a reabertura com apreensão, a maioria teme aumento dos casos de infecção e das mortes causadas pelo coronavírus, falta de fiscalização do cumprimento de medidas preventivas como o uso de máscaras nas ruas e problemas na oferta de transporte público e outros serviços.

Os pesquisadores captaram também sinais da desorientação provocada pelas ações das autoridades na linha de frente do enfrentamento da pandemia: 28% acham que o medo de contágio tende a aumentar, mas 19% acham que a reabertura levará as pessoas a menosprezar a gravidade da doença.

"O relaxamento da quarentena faz muitas pessoas acreditarem que o pior passou", diz Graziela Castello, pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e uma das coordenadoras da enquete. "A comunicação oficial deveria deixar mais claros os riscos que todos ainda corremos."

Os relatos colhidos pelos pesquisadores também indicaram que as políticas adotadas para combater os efeitos da pandemia nas áreas mais carentes continuam insuficientes –a falta de comida, trabalho e renda continua no topo das lista de preocupações da população que vive nessas comunidades.

Quatro meses depois do início da quarentena, 32% dos líderes comunitários disseram que as pessoas ainda enfrentam dificuldades para receber o auxílio emergencial de R$ 600 pago a trabalhadores de baixa renda. O governo planeja substituir o benefício por um novo programa assistencial até o fim do ano.


"A persistência desses problemas sugere que está ficando mais difícil gerenciá-los", afirma Castello. "Muitas ações que contribuíram para atenuar essas dificuldades nos primeiros meses da pandemia, como as doações da iniciativa privada, parecem ter perdido força com o prolongamento da crise."

A enquete detectou também um aumento da preocupação das comunidades carentes com problemas que não causavam tanta apreensão há alguns meses, como a violência e a oferta de serviços públicos que passaram a ser mais procurados com a reabertura e a maior circulação das pessoas.

A preocupação com a violência foi mencionada por 16% dos líderes comunitários entrevistados, que relataram casos de violência doméstica, brutalidade policial e consumo de drogas por jovens. Em outra enquete realizada com o grupo no início de junho, apenas 5% tinham mencionado a mesma preocupação.

Dificuldades no acesso a serviços básicos, como água e energia elétrica, foram citados por 28%. Problemas com o transporte público, como a superlotação de ônibus e trens, e incertezas sobre a retomada de aulas presenciais nas escolas públicas também foram mencionadas como preocupações.

Entre os que temem efeitos negativos do relaxamento da quarentena, 16% previram aumento dos casos de contágio com o uso mais frequente de transporte público e 10% apontaram dificuldades encontradas pelas famílias para cuidar de crianças e outros dependentes com a volta ao trabalho.

A Rede de Pesquisa Solidária reúne dezenas de pesquisadores de instituições acadêmicas públicas e privadas, como a Universidade de São Paulo e o Cebrap. Desde abril, eles produzem boletins semanais com seus estudos. Os trabalhos estão disponíveis no site da iniciativa.

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