Receber ou não desertores russos, uma nova dor de cabeça para os europeus
Cidadãos russos tentam escapar da mobilização do presidente Putin de reservistas para a guerra na Ucrânia
O destino dos russos que escapam da mobilização dos reservistas para a guerra na Ucrânia provoca uma clara divisão na União Europeia (UE), com países dispostos a apoiar opositores de Vladimir Putin e outros que temem pela segurança do bloco.
Nesse cenário, a Alemanha afirma que está pronta para recebê-los, os países bálticos se manifestam contra, e a Comissão Europeia (braço executivo do bloco) afirma que "acompanha cuidadosamente a situação", segundo um porta-voz.
Os representantes permanentes dos países do bloco farão uma reunião de emergência em Bruxelas, na segunda-feira (26), para discutir o assunto.
Ainda não foram divulgados números específicos sobre a magnitude da chegada de russos aos países da UE, após o anúncio de uma mobilização de reservistas.
Na fronteira da Rússia com a Finlândia, o número de cidadãos russos que entram em território finlandês aumentou desde os anúncios, mas, segundo os guardas de fronteira, permanece dentro dos níveis normais.
Nesta sexta-feira (23), o governo finlandês anunciou que vai restringir "significativamente" a entrada de cidadãos russos a seu território.
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A situação representa um desafio difícil para os países da UE. Embora cada país seja responsável pela gestão de suas fronteiras, a regulamentação europeia exige que todos garantam o exercício do direito de asilo. A obtenção desse "status" não é, contudo, automática e resulta de um exame caso a caso.
Assim, os países estão divididos entre a intenção de apoiar aqueles que se opõem ao governo russo, mas temem que um influxo em massa permita que a Rússia infiltre agentes.
Por isso, vários países do bloco já anunciaram medidas para restringir a entrada de cidadãos russos em seus territórios.
Objetores de consciência?
O ministro das Relações Exteriores da Letônia, Edgars Rinkevics, observou no Twitter, na quinta-feira (22), que "muitos russos fugindo da Rússia por causa da mobilização concordaram em matar ucranianos".
Portanto, acrescentou, "não devem ser considerados objetores de consciência".
"Há riscos de segurança consideráveis em recebê-los, e há muitos outros países fora da UE", insistiu.
De sua parte, o ministro da Defesa da Lituânia, Arvydas Anusauskas, disse que o serviço militar obrigatório "não é motivo suficiente" para obter asilo político.
A Estônia também se recusa a oferecer proteção aos desertores russos.
"Isso contradiria o propósito de nossas sanções até agora, que [visam] a responsabilidade coletiva dos cidadãos russos", alegou o ministro do Interior da Estônia, Lauri Laanemets, segundo a agência de notícias BNS.
A República Tcheca segue a mesma linha e anunciou que não emitirá vistos humanitários para desertores russos.
Já a Alemanha anunciou que está pronta para recebê-los.
"Quem se opuser corajosamente a Putin e, assim, se colocar em grande perigo pode solicitar asilo político", anunciou a ministra alemã do Interior, Nancy Faeser.
O governo alemão reconheceu que "outros países, como os Bálticos, ou a Finlândia, reagiram de forma diferente por razões nacionais compreensíveis", de acordo com Steffen Hebestreit, porta-voz do chanceler Olaf Scholz.
Em resposta, o embaixador da Ucrânia na Alemanha, Adreii Mernyk, criticou o que chamou de "abordagem errada".
"Os jovens russos que não querem ir à guerra devem derrubar Putin e seu regime racista, em vez de fugir e aproveitar a 'dolce vita' no Ocidente", tuitou.