Recife teve mais mortes de ciclistas que motoristas em sinistros de trânsito em 2023, diz relatório
Números ascendem sinal de alerta para segurança viária na capital
Em 2023, mais ciclistas (7% dos casos totais) morreram no Recife do que motoristas de veículos de quatro rodas (4%), aponta o Relatório Preliminar de Segurança Viária da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU). Ao todo, 10 condutores de bicicleta morreram no período, quatro a mais do que pessoas que trafegavam pelas vias da capital em carros, ônibus ou caminhões.
Os dados do levantamento, feito em parceria com a Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global (BIGRS), apontam também um crescimento em casos absolutos com relação ao ano anterior. No Relatório de Segurança Viária de 2022, 7% das 105 mortes registradas foram de ciclistas, com sete óbitos. O percentual era, inclusive, menor que o de vítimas fatais em sinistros envolvendo carros, que deixou 13 mortos no período (13%) do total.
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É diante desses números alarmantes que milhares de pessoas que precisam se deslocar em bicicletas pelo Recife se deparam com uma realidade muito difícil. Muito disso parte do fato de que ciclistas ficam mais vulneráveis a lesões mais graves do que condutores ou passageiros de carros, por exemplo, que oferecem um ambiente mais seguro para o usuário.
“É um número alarmante, porque o ciclista fica totalmente vulnerável nas vias. Existem regras e leis que muitas vezes não são respeitadas. O trabalho da cidade vem melhorando muito as condições de malhas cicloviárias, mas é lógico que isso sempre precisa ser intensificado e sempre há muito o que se fazer”, explicou o coordenador executivo da Iniciativa Bloomberg, Gustavo Sales, em entrevista à Folha de Pernambuco.
De acordo com a CTTU, questões como excesso de velocidade, desatenção e não cumprimento das normas de trânsito são as principais causas de sinistros do tipo. Além disso, questões como a implementação de mais malhas cicloviárias pela cidade são temas debatidos e cobrados.
“A conscientização é o mais importante. Os condutores precisam entender que o Código de Trânsito estabeleceu essa hierarquia de segurança viária para eles verem que o pedestre é a parte mais fragilizada e o ciclista é o segundo. Então é dever de todos os condutores respeitarem o ciclista”, começou o gerente-geral da CTTU, Nilton Prazeres.
“A CTTU fiscaliza bastante as ciclovias da cidade, com efetivos na rua, principalmente nos horários de pico. Mas o mais importante nisso é justamente reduzir a velocidade, para conseguir reduzir o número de sinistros”, completou.
Realidade de insegurança persiste
Em 2024, no entanto, a história não é diferente. Até o momento, já foram registradas seis mortes de ciclistas no ano no Recife, segundo dados preliminares da Iniciativa Bloomberg. Quatro delas em um período de apenas 40 dias entre setembro e outubro.
Os casos foram dois óbitos de condutores de bicicleta no mesmo dia, em horários parecidos, nos bairros de Parnamirim e Beberibe, na Zona Norte do Recife. Um deles andava de bicicleta no cruzamento das ruas Compositor Vinicius de Moraes e Uriel de Holanda, a cerca de 50 metros da Praça da Convenção, quando houve a colisão com um ônibus. No outro sinistro, um homem de 46 anos foi atingido por um micro-ônibus complementar, na rua João Tude de Melo, nas proximidades do restaurante Guaiamum Gigante, e também não resistiu.
Em ambos casos, o envolvimento de ônibus nos sinistros com ciclistas também chamam atenção. De acordo com o gerente-geral da CTTU, é observado que motoristas, por estarem em uma altura elevada na plataforma do veículo, têm a visão da bicicleta obstruída. A estratégia da autarquia é realizar campanhas de conscientização.
“A gente vem também promovendo encontros para promover a empatia nesses motoristas. O objetivo principal é humanizar, gerar empatia e se colocar no lugar do outro”, completou Nilton Prazeres.
O que pode ser feito
Apesar desse trabalho, no entanto, do lado dos ciclistas, a situação segue difícil. Para o coordenador geral da Associação Metropolitana de Ciclistas do Recife (Ameciclo), Daniel Valença, o que falta para a cidade é cumprir à risca o Plano de Mobilidade Urbana do Recife. Dentre as ações pedidas, estão o investimento não só em malhas cicloviárias, como em mais faixas de exclusividade para ônibus, que provocariam um desafogamento nos congestionamentos.
“Precisamos urgentemente reduzir a velocidade máxima nas vias do Recife, o que vai aumentar a fluidez do trânsito, de 60 para 50 km/h, que é o que a ONU recomenda. Também proporcionar fiscalização eletrônica 24 horas e investir em mobilidade sustentável, para permitir que mais pessoas migrem para transporte a pé, por bicicleta ou público", afirmou o coordenador geral da Ameciclo.
Por meio de nota, a CTTU afirmou que, entre 2014 a 2024, a malha cicloviária da capital passou de 24 km para 195,5 km, um incremento de 716%.
“A CTTU informa que está em fase de estudos para implantação e conexões de novas rotas cicloviárias pela cidade. Vale ressaltar que a Prefeitura do Recife é a gestão que mais cumpriu o que está previsto no Plano Diretor Cicloviário, pactuado pelo Governo do Estado e outras cidades da RMR”, disse a autarquia.
Dados alarmantes
Ao todo, foram registrados 144 vítimas fatais em sinistros de trânsito em 2023, um aumento de 37% com relação ao ano anterior. Dessas, 68 foram motociclistas (48%), em um crescimento de 26% se comparado a 2022. Outros 57 óbitos (40%) foram de pedestres, o que também chama atenção para a insegurança para quem caminha nas vias e rodovias da cidade.