Região onde Venezuela destruiu avião por suspeita de tráfico é "tentáculo" de cartel mexicano
Militares venezuelanos acreditam que aeronave pertencia a grupos ilegais para a circulação de drogas e armas
A área montanhosa coberta de florestas de Zulia, no oeste da Venezuela, onde as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas atacaram um avião invasor, na última sexta-feira (26), é conhecido "tentáculo" do crime organizado na América Latina. A região venezuelana é fronteiriça à colombiana Catatumbo, importante zona produtora de cocaína, e reúne a maioria das pistas clandestinas construídas no país, por cartéis mexicanos e seus aliados, para as rotas do narcotráfico.
Em vez de ter células em outros países, os cartéis mexicanos optaram por uma estratégia mais prática nos últimos anos: forjar alianças com grupos locais, para ganhar "invisibilidade" e velocidade na operação.
No caso da Venezuela, a InSightCrime, centro de pesquisa sobre crime organizado na América Latina e no Caribe, documentou já em 2020 a presença do Cartel de Sinaloa no estado de Zulia. Segundo a organização, a presença de narcotraficantes mexicanos cresceu a tal ponto que "há uma cidade no estado que foi renomeada para Sinaloa".
Em setembro de 2022, reportagem do El Universal mostrou como fazendeiros, produtores e moradores presenciavam a chegada na região dos mexicanos, que costumavam passar alguns dias por ali. Tal como na Colômbia, eles eram vistos em "caminhonetes luxuosas de última geração, festas com músicas típicas, conhecidas como narcocorridos, prostituição e outra série de excentricidades que mudaram o dia a dia desta zona".
Leia também
• Justiça do Equador aprova seis perguntas para referendo contra o narcotráfico
• De Darwin ao narcotráfico, entenda em cinco pontos a história do Equador
Em um relatório de 2021, a ONU disse ter evidências de que o Cartel de Sinaloa tem forte presença em Zulia, “onde aproveitou as pistas de pouso clandestinas para a construção de centros de trânsito e armazenamento de drogas, com o apoio da guerrilha Exército de Libertação Nacional (ELN) da Colômbia, que expandiu suas atividades para a Venezuela”.
Mike Vigil, ex-diretor de Operações Internacionais da DEA, a agência antidrogas dos Estados Unidos, destacou outro aspecto da atuação dos cartéis mexicanos na Venezuela: a aliança com a rede conhecida como Cartel de los Soles, que atua de forma cada vez mais ativa, controlando, segundo Vigil, "a circulação da cocaína por meio de seus parceiros mexicanos".
Avião destruído
Na última sexta, as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas destruíram um avião classificado como "invasor" já pousado em território venezuelano. A aeronave vinha de Cozumel, no México, entrou no território venezuelano e chegou a pousar sem autorização. Imagens compartilhadas por militares nas redes sociais mostram o jatinho completamente destruído. O trem de pouso estava acionado, indicando que a aeronave já tinha pousado quando foi atacada.
Segundo o general Domingo Antonio Hernández Lárez, comandante do Comando Operacional Estratégico da FANB, o avião é um “bimotor Gulfstream, branco, matrícula V3-GRS”. A aeronave foi detectada por radares e estava com o transponder desligado.
Segundo o militar, a suspeita é de que o avião pertencia a grupos ilegais de tráfico de drogas e armas. “A Venezuela não será usada como plataforma para tráfico de drogas. A FANB possui toda a tecnologia necessária para tornar a nossa pátria inexpugnável e reagir imediatamente a qualquer entrada não autorizada”, afirmou nas redes sociais.
Não foram dados detalhes sobre a interceptação da aeronave ou sobre eventuais detenções. Imagens postadas na conta das Fanb na rede social X (ex-Twitter) parecem indicar que houve interceptação ainda no ar do jatinho por aviões militares venezuelanos.
As autoridades venezuelanas têm adotado ações crescentes para deter essas operações criminais. Em 2023, pelo menos 38 aeronaves supostamente usadas pera o tráfico de drogas foram destruídas.