Rei Charles III e irmãos velam Elizabeth II na 'vigília dos príncipes'
Vigília aconteceu na capela ardente no Parlamento Britânico, em Londres
Os filhos de Elizabeth II, liderados pelo rei Charles III chefiou, velaram nesta sexta-feira o corpo da rainha em Westminster Hall, capela ardente na qual muitos britânicos estão dispostos a esperar em filas de mais de 20 horas para entrar.
Com o rosto circunspecto, Charles III, 73, e seus irmãos entraram no salão majestoso, parte mais antiga do Parlamento britânico, e seguiram em silêncio até o caixão, onde permaneceram por 12 minutos, diante do olhar atento dos britânicos, que continuavam passando na frente dos restos mortais da rainha para lhe dar o último adeus.
Conhecida como Vigília dos Príncipes, a tradição remonta a 1936, quando os quatro filhos de George V montavam guarda sem aviso prévio em torno de seu caixão.
O príncipe Andrew vestia o uniforme militar, e Harry, 38, que decidiu com a mulher, Meghan, deixar a família real em 2020, também poderá fazê-lo neste sábado, quando participar com os outros sete netos de Elizabeth II de uma vigília semelhante.
Mais de 20 horas de fila
Milhares de pessoas prestaram a última homenagem à rainha Elizabeth II em Westminster Hall, onde o caixão om o corpo de Elizabeth II está sobre um catafalco roxo, no topo de um pedestal, coberto pelo estandarte real, a coroa imperial e o cetro, símbolos do poder da monarquia britânica.
A capela ardente permanecerá aberta até as 6h30 de segunda-feira, horas antes do funeral de Estado na Abadia de Westminster e do sepultamento da rainha em uma capela no Castelo de Windsor.
O fluxo enorme obrigou as autoridades a interromper hoje por algumas horas a entrada de mais pessoas na fila quilométrica formada ao longo do rio Tâmisa. A espera era, então, de 14 horas. Logo após a reabertura, o governo advertiu que a espera mínima era de 22 horas.
O ex-jogador de futebol David Beckham, 47, foi visto no local. "É muito emocionante, e o silêncio e a atmosfera na sala são muito difíceis de explicar, mas estamos todos aqui para agradecer à Sua Majestade por ser tão gentil, amorosa e reconfortante ao longo dos anos", disse Beckham. O ex-craque do Manchester United e do Real Madrid declarou ao canal Sky News que entrou na fila em Westminster Hall.
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Ovações e algumas vaias no País de Gales
Horas antes da vigília, Charles III encerrou no País de Gales seu giro pelo Reino Unido como novo monarca.
"Diolch o galon ichi am eich geiriau caredig" ("Obrigado de coração por suas palavras amorosas"), disse em galês o rei, 73 anos, após as demonstrações de carinho e pêsames do Parlamento regional, que visitou ao lado da esposa Camilla após uma cerimônia religiosa na catedral Llandaff de Cardiff.
Sua mãe faleceu no dia 8 de setembro aos 96 anos. A morte deste símbolo de unidade durante seu longo reinado de sete décadas estimulou o sentimento independentista em Gales, assim como na Escócia e Irlanda do Norte, o que transformou a viagem de Charles III em uma missão crucial.
"Espero que Gales seja independente. Certamente afetaria nossa economia porque dependemos da economia do Reino Unido, mas acredito com força na independência", declarou à AFP Zahra Ameri, de 22 anos, funcionária de uma loja de chá.
Mas centenas de pessoas, admiradoras da família real, também receberam Charles III e a nova rainha consorte, Camilla, com bandeiras de Gales, brancas e verdes com um dragão vermelho. O novo monarca passou 20 minutos apertando mãos, enquanto a multidão gritava "hip, hip, pelo rei!" e "Deus salve o rei!".
"Eu apertei a mão dele e disse 'Sinto muito pela morte de sua mãe'. Ele respondeu 'obrigado, isso significa muito para mim'", disse Sharon Driscoll, 48, que veio com sua filha de 14 anos Ffion. "Como deve estar orgulhoso de ver tantas pessoas", acrescentou, incapaz de conter as lágrimas.
Perto dali, alguns manifestantes antimonarquistas brandiam faixas pedindo "Abolição da monarquia", "Cidadão não súdito" e "Democracia agora". Mas, muito menos numerosos, suas vaias foram abafadas por uma ovação de pé.
"Queremos dar apoio, estar ao lado dele, dar pêsames. Não vamos ao funeral, pensamos que ver um integrante da família real vivo é melhor que acompanhar o funeral de alguém", afirmou Vera Jackson, bancária de 39 anos.
Com a ascensão de Charles, o título de Príncipe de Gales passou para seu filho mais velho, William, 40 anos, agora herdeiro do trono. Porém, muitas pessoas nesta região do sudoeste da Grã-Bretanha desejavam a abolição do titulo criado há sete séculos.
"Há opiniões divergentes. Muitas pessoas não querem o título de Príncipe de Gales porque acreditam que deveria pertencer a um galês", disse à AFP Maria Sarnacki, prefeita de Caernarfon, cidade conhecida por seu imponente castelo.
O título de Príncipe de Gales foi utilizado originalmente pelos príncipes nativos, mas o último, Llywelyn ap Gruffudd, foi executado em 1282 durante a conquista de Gales pelo rei Edward I da Inglaterra.
Quase 750 anos depois, a região tem autonomia política e registra um distanciamento da Coroa que Charles III, menos popular que sua mãe, terá que se esforçar para superar.