Reino Unido abre primeiro centro para consumo seguro de drogas; veja imagens
Local é um ambiente supervisionado por profissionais de saúde e de assistência social e busca reduzir altos índices de mortes por overdose em Glasgow, na Escócia
O Reino Unido abre nesta segunda-feira o primeiro centro oficial para consumo de drogas em Glasgow, maior cidade da Escócia. As substâncias permanecem ilegais no país, os usuários poderão apenas utilizá-las dentro do estabelecimento como uma estratégia de redução de danos. A abertura estava prevista para o início do ano passado, mas foi adiada devido a obras no edifício.
— Temos fortes evidências de outras cidades com problemas semelhantes que mostram que um centro do tipo poderia ajudar a evitar mortes por uso de drogas, ajudar a conter a disseminação da infecção pelo HIV, reduzir o lixo relacionado às drogas e reduzir significativamente os custos em outros serviços de saúde e assistência social. Isso proporcionará a um grupo gravemente marginalizado o acesso ao tratamento e ao apoio que lhes faltam há anos — diz Saket Priyadarshi, diretor médico associado para Serviços de Álcool e Drogas da região de Grande Glasgow e Clyde.
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Segundo o especialista, o objetivo é que os usuários tenham "oportunidades para melhorar sua qualidade de vida" e consigam das os passos iniciais para a recuperação: — Uma avaliação independente robusta nos ajudará a entender o impacto que o serviço teve sobre as pessoas que o utilizam e sobre a comunidade local.
Isso porque, além de garantir que os indivíduos com dependência não sofram riscos adicionais do uso de drogas, como contaminação de doenças e quadros de overdose, o centro oferecerá cuidados e encaminhamento para outros serviços de saúde. Ele funcionará 365 dias por ano, das 9h às 21h, e está localizado próximo a pontos conhecidos de uso de substâncias na cidade.
O centro conta com uma equipe multidisciplinar composta por enfermeiros, psicólogos, profissionais de redução de danos, assistentes sociais, equipe médica e administrativa. Os profissionais poderão oferecer técnicas de injeção mais seguras e conselhos sobre como minimizar o risco de overdose, além de intervir com assistência se uma pessoa passar por um quadro de excesso de drogas.
O edifício tem salas de bate-papo privadas, onde os usuários podem conversar com a equipe; um espaço de uso separado de drogas com oito cabines individuais; uma área de recuperação pós-injeção com uma equipe treinada e uma parte dedicada ao pós-tratamento, onde os usuários podem interagir com a equipe de apoio à saúde e representantes de diversas organizações de apoio.
Há ainda duas salas onde é fornecido acesso a uma série de tratamentos, incluindo a análise de feridas e realização de testes de vírus transmitidos pelo sangue, segundo informações do Sistema Nacional de Saúde britânico (NHS).
— Procuramos torná-lo o mais acolhedor possível e um lugar onde as pessoas se sintam seguras e ouvidas. A equipe passou por um treinamento significativo em cuidados informados sobre traumas e está pronta para oferecer um serviço compassivo e centrado na pessoa, com foco na redução dos danos causados pelo uso de drogas injetáveis e para ajudar as pessoas a acessar qualquer apoio de que precisem no momento — afirma Lynn MacDonald, gerente de serviços do centro.
A iniciativa tem sido aguardada com expectativa por especialistas em meio a números elevados de mortes por uso de drogas no país. Em 2023, a Escócia registrou 1.172 óbitos por overdose, uma média de 277 a cada milhão de pessoas com idade entre 15 e 64 anos. A taxa é a mais alta da Europa, de acordo com os dados mais recentes disponíveis da Agência de Drogas da União Europeia. E quase um quarto das vítimas fatais escocesas são de Glasgow.
O centro foi proposto como uma alternativa pela primeira vez ainda em 2016 após um surto de HIV na cidade, mas se tornou alvo de disputas políticas entre a Escócia e o governo do Reino Unido nos últimos anos. Sob o comando do Partido Conservador, o Ministério do Interior britânico bloqueou a abertura repetidas vezes por considerar que o serviço violaria a Lei de Uso Indevido de Drogas de 1971.
No entanto, depois que o advogado-geral da Escócia anunciou a publicação de uma declaração oficial confirmando que não será de interesse público processar os usuários do estabelecimento por posse de drogas, foi possível dar seguimento ao projeto.
Segundo o NHS, instalações de consumo de drogas mais seguras "estão em operação em todo o mundo há décadas". "As evidências mostram que elas podem combater as mortes relacionadas às drogas e melhorar a saúde pública, oferecendo um local limpo e seguro para que as pessoas injetem suas próprias drogas - obtidas em outro lugar, não fornecidas ou compradas no local - sob supervisão clínica e tenham acesso a uma ampla gama de tratamento e apoio", diz em comunicado.