Reino Unido começa a testar semana de quatro dias de trabalho
Os pedidos para encurtar a semana de trabalho vêm ganhando força nos últimos anos em vários países, principalmente na Europa
Milhares de trabalhadores do Reino Unido começaram a testar esta semana uma jornada de trabalho de quatro dias, sem corte em seus salários. O piloto do programa será o maior teste do tipo no mundo, envolvendo 3.300 trabalhadores de 70 empresas de diferentes setores.
Durante o programa, que terá duração de seis meses, os trabalhadores vão receber 100% de seu salário por trabalharem apenas 80% de sua semana habitual, em troca da promessa de manter 100% de sua produtividade.
Antes do Reino Unido, a Islândia havia conduzido o maior piloto de uma semana de trabalho mais curta entre 2015 e 2019, com a participação de 2.500 servidores públicos em dois grandes testes, segundo a CNN Business. Os testes revelaram que não foi registrada queda na produtividade e houve um aumento no bem-estar dos funcionários.
Os pedidos para encurtar a semana de trabalho vêm ganhando força nos últimos anos em vários países, principalmente na Europa. Com a pandemia de Covid, os pedidos de maior flexibilidade aumentaram, à medida que milhões de funcionários passaram a trabalhar remotamente, reduzindo o tempo e os custos de deslocamento dos trabalhadores.
Leia também
• Reino Unido ignora ameaças de Putin e fornece mísseis a Kiev
• Reino Unido celebra jubileu de platina de Elizabeth II para tentar esquecer as crises
• Fãs de Drácula batem recorde de pessoas fantasiadas de vampiros no Reino Unido
Bélgica
Em fevereiro, os funcionários belgas ganharam o direito de decidir se trabalham quatro ou cinco dias por semana, sem perda de salário. Isso, no entanto, não significa que trabalharão menos – eles simplesmente condensarão o total de suas horas de trabalho em menos dias.
O primeiro-ministro belga, Alexander de Croo, espera que o acordo ajude a flexibilizar o mercado de trabalho notoriamente rígido da Bélgica e a criar uma economia mais dinâmica, além de tornar mais fácil para as pessoas conciliarem suas vidas pessoais com suas carreiras.
Portugal
O país ibérico vai testar semana de quatro dias de trabalho. A proposta, incluída na Agenda do Trabalho Digno, aprovada semana passada em Conselho de Ministros, entrará em fase de estudos e será testada voluntariamente pelo setor privado em um projeto-piloto. A alternativa também estará sob análise para funcionar na administração pública.
A proposta é do é do partido Livre, de centro-esquerda, e s ugere que “o governo promova o estudo e a construção de um programa piloto que vise a analisar e a testar novos modelos de organização do trabalho, incluindo a semana de quatro dias em diferentes setores e o uso de modelos híbridos de trabalho presencial e teletrabalho”. Prevê que o estudo avance este ano. Projeto similar consta no programa de governo.
Forças sindicais não desaprovam a semana de quatro dias e estão abertas ao debate, desde que a medida não aumente a carga horária e promova demissões ou redução salarial ao cortar um dia de trabalho.
Espanha
O partido de esquerda Más País anunciou no início deste ano que o governo concordou com seu pedido de lançar um programa piloto modesto de uma semana de trabalho de quatro dias para empresas interessadas na ideia.
Cerca de 6 mil funcionários de 200 pequenas e médias empresas poderão estender seu final de semana em um dia, com remuneração integral. As negociações já foram realizadas, com a próxima reunião prevista para as próximas semanas. A fase de testes deve durar pelo menos um ano, mas ainda não está claro quando a experiência começará de fato.
Escócia e País de Gales
Na Escócia, um julgamento do governo deve começar em 2023, enquanto o País de Gales também está considerando um debate sobre o assunto. A decisão foi o resultado de uma promessa de campanha feita pelo Partido Nacional Escocês (SNP).
Os trabalhadores terão suas horas reduzidas em 20%, mas não sofrerão nenhuma perda na indenização. O SNP apoiará as empresas participantes com cerca de £ 10 milhões (€ 11,8 milhões).
Pesquisa realizada pelo instituto de pesquisa escocês Institute for Public Policy Research (IPPR), na Escócia, mostrou que 80% das pessoas que responderam à ideia foram altamente positivas em relação à iniciativa. Os entrevistados disseram que o programa melhoraria muito sua saúde e felicidade.
Islândia
Entre 2015 e 2019, a Islândia realizou o maior piloto do mundo de uma semana de trabalho de 35 a 36 horas (reduzida das tradicionais 40 horas) sem nenhuma exigência de um corte proporcional nos salários. Cerca de 2.500 pessoas participaram da fase de testes.
Para garantir o controle de qualidade, os resultados foram analisados pelo think tank britânico Autonomy e pela islandesa Association for Sustainability and Democracy (ALDA). O piloto foi considerado um sucesso por pesquisadores e sindicatos islandeses que negociaram a redução das horas de trabalho.
Suécia
Na Suécia, uma semana de trabalho de quatro dias com pagamento integral foi testada em 2015 com resultados mistos. A proposta era tentar jornadas de seis horas em vez de oito horas sem perda de pagamento, mas nem todos ficaram satisfeitos com a ideia. Até os partidos de esquerda achavam que seria muito caro implementar a experiência em larga escala.
Mas resultados positivos foram observados na unidade de ortopedia de um hospital universitário, que transferiu 80 enfermeiros e médicos para uma jornada de seis horas e contratou novos funcionários para compensar o tempo perdido. A resposta da equipe médica foi positiva, mas o experimento também enfrentou muitas críticas e não foi renovado.
No entanto, algumas empresas, como a montadora Toyota, optaram por manter o horário reduzido para seus trabalhadores.
Japão
No Japão, como em outros países, são as grandes empresas que estão se aventurando nesse território, após o anúncio do governo japonês, em 2021, de um plano para alcançar um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal em todo o país.
Um exemplo é a gigante de tecnologia Microsoft que, em 2019, experimentou o modelo oferecendo aos funcionários fins de semana de três dias por um mês. A mudança aumentou a produtividade em 40% e resultou em um trabalho mais eficiente.
Nova Zelândia
Na Nova Zelândia, 81 funcionários que trabalham para a Unilever estão atualmente participando de um teste de uma semana de trabalho de quatro dias com pagamento integral, que terá duração de um ano. Se o experimento for um sucesso, ele será estendido a outros países.
De acordo com Nick Bangs, diretor administrativo da Unilever Nova Zelândia, o objetivo do programa é medir o desempenho na produção, não no tempo.
"Acreditamos que as antigas formas de trabalho estão desatualizadas e não mais adequadas ao propósito", acrescentou Bangs.