Migração

Reino Unido endurece legislação contra a migração irregular

O projeto de lei visa impedir a travessia ilegal através do Canal da Mancha

O governo de Sunak foi acusado por defensores dos direitos humanos de redigir uma lei contrária ao direito internacionalO governo de Sunak foi acusado por defensores dos direitos humanos de redigir uma lei contrária ao direito internacional - Foto: Leon Neal/ Pool/ AFP

O governo britânico apresentou, nesta terça-feira (7), um projeto de lei contra a chegada irregular de migrantes pelo mar, vindos da costa francesa, garantindo que o texto respeita o direito internacional, apesar das críticas de defensores dos direitos humanos.

A três dias de sua primeira visita à França, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, está determinado a impedir a travessia ilegal através do Canal da Mancha, que causa fortes tensões entre os Executivos de Londres e Paris.

"Esta nova lei enviará uma mensagem clara: se você vier para este país ilegalmente, será rapidamente expulso", disse Sunak ao jornal The Sun. "Quem vem [ilegalmente] em barcos não pode pedir asilo aqui", enfatizou.

Mais de 45.000 pessoas (principalmente albaneses e afegãos, mas também iranianos, iraquianos e sírios) chegaram ao Reino Unido por essa rota perigosa no ano passado. E já são quase 3.000 até agora em 2023.

Ao apresentar o projeto de lei ao Parlamento, a ministra do Interior, a ultraconservadora Suella Braverman, afirmou que "diante da crise migratória mundial, as leis de ontem simplesmente não são adequadas".

O texto facilita a detenção de imigrantes até sua expulsão. Também restringe "radicalmente" a possibilidade de recurso contra as expulsões, assegurou.

O governo de Sunak foi acusado por defensores dos direitos humanos de redigir uma lei contrária ao direito internacional.

"Ampliamos os limites do direito internacional", disse Braverman à imprensa. Mas afirmou aos deputados: "Tenho certeza de que o projeto é compatível com nossas obrigações internacionais".

No entanto, ela admitiu que não pode afirmar "definitivamente" se a legislação é compatível com a lei britânica sobre direitos humanos e anunciou que iniciou negociações com o Tribunal Europeu de Direitos Humanos.

Fugir de perseguições e guerras

Essas medidas fortemente restritivas visam desencorajar as travessias e acabar com o negócio dos traficantes de pessoas que cobram quantias exorbitantes pela travessia perigosa.

Mas as organizações de ajuda a refugiados consideram que o sucessivo endurecimento das regras não surtiu efeito e que os migrantes só abandonarão a rota irregular se as autoridades oferecerem vias legais para buscar asilo no Reino Unido, atualmente muito limitadas.

A ONU reagiu, assegurando que os planos britânicos equivaleriam a uma proibição do asilo.

"Se a legislação for aprovada, equivaleria a uma proibição do asilo, extinguindo o direito a solicitar proteção como refugiado no Reino Unido para aqueles que chegam de forma irregular, sem importar o genuína e convincente que possa ser sua solicitação", respondeu, em nota, a agência da ONU para os refugiados (Acnur).

"Se você está fugindo da perseguição ou da guerra, se está fugindo do Afeganistão ou da Síria e teme por sua vida, como poderá pedir asilo no Reino Unido?" disse Christina Marriott, diretora da Cruz Vermelha Britânica.

Para Steve Valdez-Symonds, diretor de Direitos dos Refugiados e Migrantes da Anistia Internacional UK, o governo britânico caiu ainda "mais baixo" ao "tentar desqualificar em massa as solicitações de asilo das pessoas, independentemente da solidez do seu caso".

"As pessoas que fogem da perseguição e dos conflitos serão irremediavelmente prejudicadas por estas propostas, enquanto o Reino Unido dá um exemplo terrível a outros países do mundo", assegurou.

O Reino Unido aprovou no ano passado uma lei altamente controversa para enviar os solicitantes de asilo para Ruanda, um país africano a 6.500 quilômetros de Londres. Mas o plano foi bloqueado pelos tribunais europeus e continua paralisado.

Manifestações contra e a favor

Um porta-voz de Sunak afirmou que seu governo está estudando vias "legais e seguras" para que as pessoas peçam asilo no Reino Unido "uma vez que tenhamos nossas fronteiras sob controle".

O primeiro-ministro britânico deve se encontrar com o presidente francês, Emmanuel Macron, em Paris na sexta-feira, meses depois que os dois países assinaram um acordo de cooperação que inclui apoio financeiro britânico para vigiar as praias francesas.

O tema tem estado no centro das disputas habituais entre o Reino Unido e a França, à qual Londres acusou de não fazer o suficiente.

Em plena crise pelo custo de vida, a gestão das solicitações de asilo é fonte de tensões e incompreensão para muitos britânicos.

Em meados de fevereiro, uma manifestação de ultradireitistas em frente a um hotel onde se alojavam solicitantes de asilo perto de Liverpool, no noroeste da Inglaterra, gerou confrontos com a polícia.

Outros protestos, contra e a favor dos refugiados, foram realizados em cidades de todo o país, como no sábado em Dover, principal porto inglês às margens do canal da Mancha.

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