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Venezuela

Repressão na Venezuela: Número de mortos em protestos contra reeleição de Maduro sobe para 11

Em menos de 24 horas, foram registradas quase 750 detenções nas manifestações, com informações da prisão, separadamente, de um líder da oposição

Protestos contra a reeleição de Nicolas Maduro na Venezuela. Protestos contra a reeleição de Nicolas Maduro na Venezuela.  - Foto: Juan Barreto/AFP

No segundo dia consecutivo de protestos contra a reeleição do presidente Nicolás Maduro, em um processo eleitoral apontado como fraudulento pela oposição e não reconhecido por parte da comunidade internacional, 11 pessoas morreram, segundo quatro organizações de direitos humanos, afirmando também terem recebido dezenas de denúncias de desaparecimentos.

Em menos de 24 horas, foram registradas quase 750 detenções nas manifestações, com informações da prisão, separadamente, de um líder da oposição.

"Há 11 mortos nos protestos. Cinco [foram] assassinadas em Caracas. Preocupa-nos o uso de armas de fogo nessas manifestações ", declarou Alfredo Romero, diretor da ONG Foro Penal Venezolano, ao detalhar que há dois menores de idade entre os mortos.

Em meio à repressão, EUA, ONU e União Europeia pediram respeito à liberdade de protesto. Na capital, Caracas, a maioria dos negócios fecharam, e nos que permaneceram abertos houve filas de pessoas para comprar provisões — muitos venezuelanos preferiram resguardar-se em casa com medo de uma escalada da violência. 

Em declaração na sede do Ministério Público, o procurador-geral, Tarek William Saab, anunciou a prisão de 749 pessoas após o primeiro dia de manifestações, na segunda-feira, afirmando que aqueles que destruíram o patrimônio público serão processados por “atos de terrorismo”.

A acusação, indicou, pode ser estendida a líderes opositores que "instigaram" a população sair às ruas — em referência a María Corina Machado, dirigente antichavista que liderou a campanha eleitoral contra Maduro.

Na segunda-feira, a opositora virou alvo de uma investigação por um suposto ataque hacker ao sistema eleitoral, que, dizem analistas, seria quase impossível de violar. Saab, que também anunciou a morte de um oficial das Forças Armadas, culpou a oposição por "incitação ao ódio" e disse que o grupo fez um "chamado para exterminar e matar venezuelanos" ao convocar as pessoas a protestarem nesta terça-feira.

Também nesta terça-feira, o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, pediu ao Ministério Público que prenda María Corina e o diplomata aposentado Edmundo González Urrutia, que concorreu como principal candidato contra Maduro após a inabilitação da líder antichavista, afirmando que como o "fascismo não se dialoga, não se dá benefícios processuais, não se perdoa". Apesar de, durante a campanha, González ter sido alvo constante de ataques por parte de altos funcionários do governo, essa é a primeira vez que alguém pede sua prisão.

"Ele sabia de tudo, seu comando não era a campanha, mas a ação violenta ", disse Rodríguez perante o Parlamento, controlado pelo chavismo.

Ameaças de novas prisão
Agentes de segurança levaram nesta terça-feira de sua casa o opositor Freddy Superlano, do Vontade Popular (VP) e vinculado a María Corina. Em um vídeo divulgado nas redes sociais, é possível ver o político sendo levado por agentes da Inteligência Bolivariana e se desfazendo de seu celular. 

A detenção foi informada na rede X pelo VP, que afirmou: “Devemos denunciar responsavelmente ao país que há poucos minutos nosso coordenador político nacional Freddy Superlano foi sequestrado”.

Na sessão parlamentar, o deputado Diosdado Cabello, vice-presidente do governista PSUV, afirmou que haverá mais prisões de dirigentes opositores, afirmando que outros dez já estão na mira da Justiça chavista.

"Temos as conversas e as comunicações, [independentemente] de como se chamem, do sobrenome que tenham, irão presos."

Ao menos cinco estátuas em homenagens ao ex-presidente venezuelano Hugo Chávez foram derrubadas em meio aos protestos. Além da peça localizada no estado de Falcón, a primeira a ser derrubada, também foram registradas quedas de estátuas no estado de Guárico, em Carabobo, no estado de Aragua e na cidade de Los Teques, no estado de Miranda, de acordo com o jornal venezuelano La Patilla.

Segundo o jornal local, desde a morte de Chávez em março de 2013, mais de dez estátuas foram erguidas em homenagem ao líder chavista em todo o país.

O procurador-geral mencionou durante seu pronunciamento nesta terça a destruição dos monumentos, além do outros casos, como os incêndios à sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) no estado de Falcón e ao gabinete do prefeito em Puerto La Cruz, no estado de Anzoátegui. Mostrando vídeos dos ataques, Saab classificou os atos de criminosos e rejeitou os protestos seriam espontâneos, como María Corina havia afirmado na segunda-feira.

"[São] grupos criminosos armados, que agem encapuzados para atacar, criar o caos e fazer com que isso se amplie em nível nacional e se transforme em eventos de massa, porque a mensagem deles é buscar intervenção estrangeira ", afirmou o procurador-geral.

Resultado contestado
Com 80% das urnas apuradas, o CNE anunciou na madrugada de segunda-feira a reeleição do chavista para um terceiro mandato de seis anos com mais de 5,1 milhões de votos (cerca de 51,2%) contra 4,4 milhões (44,2%) obtidos pelo candidato opositor, o diplomata Edmundo González Urrutia — escolhido após María Corina ser inabilitada de concorrer pela Justiça e sua substituta, a professora Corina Yoris, ser impedida de registrar sua candidatura.

Segundo a oposição, no entanto, González recebeu 73% dos votos, o equivalente a 6 milhões, contra apenas 2,7 milhões de votos de Maduro, menos de 30%. O grupo político acusa o CNE de esconder parte do boletins das urnas, e justificou a sua contabilização a partir das atas das seções eleitorais obtidas até o momento e pesquisas de boca de urna de quatro institutos de pesquisa independentes.

Diversas organizações internacionais e representações diplomáticas cobraram uma auditoria do resultado e a divulgação dos dados totais das urnas. O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou o governo de Maduro a contar os votos “com total transparência” e a liderança política a agir “com moderação”.

O Brasil solicitou, por meio de seu Ministério das Relações Exteriores, a publicação das apurações das atas para dar “transparência e legitimidade” à contagem dos votos. Em Caracas, o assessor especial para assuntos internacionais do Planalto, Celso Amorim, se encontrou com Maduro e com González na segunda-feira para discutir a votação. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, os encontros tiveram um "clima cordial" e o chavista prometeu ao ex-chanceler brasileiro que seu governo apresentaria as atas eleitorais "nos próximos dias".

O Centro Carter, que atuou como um dos poucos observadores internacionais no país, pediu ao CNE na segunda-feira que publicasse “imediatamente” os registros eleitorais. Uma das fontes consideradas mais confiáveis pela missão chefiada por Amorim é o instituto.

Suposto ataque hacker
Na segunda-feira, Saab já havia dito à imprensa venezuelana que María Corina estaria vinculada a um suposto ataque hacker contra o sistema eleitoral para modificar os resultados das eleições. Ele afirmou, sem provas, que o "principal envolvido" no ataque era Lester Toledo, dirigente do partido Vontade Popular que está exilado nos Estados Unidos.

"Junto a ele aparecem como envolvidos o fugitivo da Justiça venezuelana Leopoldo López e María Corina Machado ", disse Saab. "Conseguiram pausar e desacelerar a leitura do boletim final dos resultados ", continuou ele, afirmando que até a noite de domingo 17 pessoas foram detidas por descumprimento das normas durante as eleições, a maioria por "destruição de material eleitoral".

O presidente do CNE, Elvis Amoroso, referiu-se a uma suposta tentativa de interferência no sistema de transmissão de votos ao anunciar o resultado da contagem, que deu vitória a Maduro. O próprio Amoroso, um ex-controlador-geral da República e chavista veterano, afirmou que os ataques não tiveram sucesso em interferir nas informações.

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