EUA

Republicanos acusam democratas de fazer uso político de visita de Zelensky à Casa Branca

Guerra na Ucrânia, que está perto de completar mil dias, divide o meio político nos EUA, e Kiev tenta entender possíveis cenários após eleição de novembro

Presidente dos EUA, Joe Biden (D), recebe o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, na Casa Branca Presidente dos EUA, Joe Biden (D), recebe o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, na Casa Branca  - Foto: Saul Loeb/AFP

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, voltou à Casa Branca nesta quinta-feira para apresentar ao presidente dos EUA, Joe Biden, e à vice (e candidata à Presidência), Kamala Harris, o que acredita ser o “plano de vitória” definitivo para derrotar a Rússia.

Contudo, a 40 dias da eleição presidencial no país, a visita foi chamada de eleitoreira pela oposição republicana, e o ex-presidente Donald Trump destinou palavras duras sobre a guerra.

Com ofensivas russas avançando a passos largos no leste, Zelensky cobra mais pressa de seus aliados no fornecimento de armas e equipamentos militares, a lém da permissão para atingir alvos russos distantes da fronteira.

Em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, na quarta-feira, disse que Moscou planejava atacar suas usinas nucleares, e criticou uma proposta de paz, defendida por China e Brasil, que quer levar ao início de negociações entre Kiev e Moscou rumo a um cessar-fogo.

Antes do encontro, a Casa Branca anunciou, em comunicado, a liberação de quase US$ 8 bilhões em ajuda militar, incluindo através de sistemas de defesa Patriot, usados para conter os ataques aéreos russos, além de munições e treinamento para manejar os caças F-16, cujo uso foi liberado por Washington.

“Por quase três anos, os Estados Unidos reuniram o mundo para ficar ao lado do povo da Ucrânia enquanto eles defendem sua liberdade da agressão russa, e tem sido uma das principais prioridades da minha Administração fornecer à Ucrânia o apoio de que ela precisa para prevalecer”, diz Biden, em comunicado.

“Nesse período, a Ucrânia venceu a batalha de Kiev, recuperou mais da metade do território que a Rússia tomou no início da guerra e protegeu sua soberania e independência. Mas há mais trabalho a ser feito.”

Segundo a imprensa americana, o líder da Ucrânia deve apresentar a Biden e a Kamala o que considera ser um “plano de vitória” para derrotar as forças russas, no momento em que a guerra se aproxima de mil dias.

Contudo, aponta o Wall Street Journal, a proposta não traz grande novidades, e se pauta pela pressão sobre Biden para que libere o uso de armas ocidentais em ataques mais profundos em território russo, algo que a Casa Branca não parece disposta a fazer a curto prazo.

Mais do que buscar mais apoio a seus esforços de guerra, Zelensky também chega à capital americana em busca de sinais sobre o futuro: mais especificamente, sobre o que acontecerá após a eleição presidencial de novembro.

E as perspectivas, assim como o resultado da disputa entre Kamala e Trump, estão longe de serem claras.

O campo republicano está cada vez mais avesso a manter a bilionária ajuda militar a Kiev, e Trump tem repetido que, caso seja eleito, vai colocar um ponto final à guerra antes mesmo de ser empossado.

Para Zelensky e seus assessores, as falas acendem sinais de alerta para o risco do ex-presidente aceitar os argumentos do líder russo, Vladimir Putin, para congelar o conflito nas atuais linhas antes de dar início a negociações de paz.

— “Qualquer acordo, o pior acordo, teria sido melhor do que o que temos agora. Se eles [Ucrânia] tivessem feito um acordo ruim, teria sido muito melhor. Eles teriam desistido um pouco e todo mundo estaria vivendo e cada prédio seria construído e cada torre envelheceria por mais 2.000 anos — disse Trump, em discurso de campanha na Carolina do Norte, na quarta-feira. — Que acordo podemos fazer? Está tudo demolido. As pessoas estão mortas. O país está em escombros.

Além de criticar Biden por fornecer bilhões em ajuda a Kiev, “como nenhum país viu antes”, Trump também expressou descontentamento com alguns comentários de Zelensky à revista New Yorker, no qual chamou o vice republicano, J.D. Vance, de “radical demais”, e disse que o ex-presidente “não sabe realmente como parar a guerra”.

— É algo sobre o qual precisamos ter uma conversa rápida porque o presidente da Ucrânia está em nosso país e está fazendo pequenas insinuações desagradáveis em relação ao seu presidente favorito, eu — disse Trump na Carolina do Norte. Um dia antes, na Geórgia, disse que Zelensky era o “maior vendedor do mundo”, uma vez que, segundo ele, toda vez que vai aos EUA volta à Ucrânia com “US$ 100 bilhões”.

Trump não foi a única voz no partido a criticar Zelensky.

— Seria aconselhável que ele ficasse fora da política americana — disse ao portal Politico o senador John Thune, atualmente o líder da minoria. — [Zelenskyy e Vance] têm suas diferenças em algumas questões, mas não é lugar dele litigar isso aqui no meio de uma eleição americana.

John Cornyn, que briga pelo posto da liderança republicana no Senado, disse, também ao político, que as falas de Zelesky “simplesmente não são muito inteligentes”, e que “ aUcrânia precisa de todos os amigos que puder ter” no momento.

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Na quarta-feira, o presidente da Câmara, Mike Johnson, defendeu a remoção da embaixadora ucraniana nos EUA por causa de uma visita de Zelensky a uma fábrica de armas na Pensilvânia, um dos sete estados que devem decidir as eleições de novembro, no domingo.

Na ocasião, o presidente da Ucrânia estava acompanhado por vários políticos democratas e chegou a assinar munições de artilharia, algo que, para Johnson, teve claro intuito eleitoral.

“A visita foi claramente um evento de campanha partidária projetado para ajudar os democratas, e é claramente uma interferência eleitoral”, escreveu Johnson em uma carta a Zelensky, na qual defendeu a saída da embaixadora Oksana Markarova.

Kiev ainda não respondeu, e o Exército afirmou, em nota à Associated Press, que não houve irregularidade, e que é comum visitas do tipo contarem com a presença de políticos locais.

Antes de ir à Casa Branca, Zelensky esteve no Capitólio, mas as principais lideranças republicanas não se esforçaram para recebê-lo, incluindo Mike Johnson.

Tampouco há previsão de um encontro com Donald Trump, o que, para analistas, pode estar por trás dos comentários raivosos do ex-presidente.

Pelo lado democrata, a vice-presidente e candidata à Presidência, Kamala Harris, vê o apoio à Ucrânia como base de sua estratégia de política externa.

Em discursos, tem usado o conflito como um exemplo do quão diferentes são suas visões de mundo em relação às de Trump, e promete que, caso seja eleita, intensificará a ajuda aos ucranianos.

— Entendo por que os aliados europeus e nossos aliados da Otan estão tão gratos por você não ser mais presidente, e gratos por entendermos a importância da maior aliança militar que o mundo já conheceu — disse Kamala Harris a Donald Trump, em debate no começo de setembro, no qual também afirmou que, caso o republicano tivesse sido reeleito em 2020, “Putin estaria sentado em Kiev com seus olhos para a Europa”.

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