COVID

Restrições impostas pela pandemia impediram mais de 700 mil casos de dengue no mundo, diz estudo

A pesquisa encontrou um declínio acentuado nas infecções desde abril de 2020 em diversas regiões onde a dengue é transmitida com maior frequência

Aedes aegypti fêmea é a transmissora da febre amarela, dengue, zika e chikungunya no BrasilAedes aegypti fêmea é a transmissora da febre amarela, dengue, zika e chikungunya no Brasil - Foto: Pixabay

As restrições impostas durante a pandemia de Covid evitaram, somente em 2020, cerca de 720 mil novos casos de dengue no mundo. A estimativa é de um estudo publicado pela revista científica The Lancet, que também servirá para definir novas estratégias de combate à doença, muito comum no Brasil.

A pesquisa encontrou um declínio acentuado nas infecções desde abril de 2020 em diversas regiões onde a dengue é transmitida com maior frequência, como Sudeste asiático e América do Sul.

— Encontramos benefícios líquidos realmente inesperados das restrições da Covid que nos ajudarão a combater melhor a dengue no futuro — disse Oliver Brady, epidemiologista da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres e um dos autores do estudo.

Antes da pandemia de Covid, mais de 5 milhões de pessoas foram infectadas com dengue em todo o mundo somente em 2019. No início da pandemia, Brady e outros pesquisadores de doenças infecciosas temiam um desastre, uma vez que grande parte dos recursos para prevenção de doenças como a dengue seriam desviados para contenção da pandemia do novo coronavírus, inclusive com a interrupção de medidas já utilizadas regularmente.

O acentuado declínio nos casos de dengue, no entanto, foi uma surpresa positiva para os pesquisadores, que passaram a se debruçar sobre as possíveis relações entre os números e as restrições sanitárias impostas pelos governos. No estudo, eles eliminaram outros fatores potenciais, incluindo mudanças ambientais e quedas nos relatórios sobre dengue por agências de saúde pública, o que apontava para a interrupção no movimento de pessoas como uma explicação plausível para o fenômeno, disse o pesquisador.
 

— Se a casa fosse o local realmente arriscado, e os mosquitos estivessem apenas mordendo nesse local, você esperaria que as ordens de permanência em casa aumentassem o risco, mas simplesmente não vemos isso em muitos países — conclui o pesquisador.

De acordo com o estudo, o fechamento de escolas, em particular, parece ter papel fundamental no fenômeno. O principal vetor da dengue, o mosquito Aedes aegypti, se alimenta durante o dia. Como método de prevenção, os programas de controle da dengue se concentram nas casas das pessoas, pulverizando produtos que matam os mosquitos e monitorando a presença de água parada. As descobertas, no entanto, sugerem que a picada ocorre com maior frequência nas escolas ou nos locais de trabalho, o que significa que o controle do mosquito deve ser concentrado em locais públicos.

Os pesquisadores, entretanto, afirmam não estar sugerindo que o deva continuar, mas a circunstância extraordinária permitiu uma “visão inesperada”. Os casos de dengue também podem ter diminuído durante o período de isolamento porque, quando as pessoas foram infectadas, elas deixavam de sair para onde novos mosquitos poderiam mordê-las e, depois, passar o vírus a diante.

As descobertas podem ser replicadas para outros vírus transmitidos por mosquitos, como Zika e chikungunya, sugere o estudo. Mas Brady alerta que os dados da dengue para 2021, que devem estar disponíveis em breve, e para um período pós-pandemia, podem dar novos rumos à pesquisa. As taxas de infecção podem voltar aos níveis pré-Covid ou ainda pior, caso os programas de controle forem interrompidos, disse o pesquisador.

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