Argentina

Reunião entre Milei e Fernández é adiada após falas de Massa

Versão oficial é de que não houve consenso sobre local do encontro; protocolo prevê que aconteça na Casa Rosada ou na residência oficial, mas presidente eleito pediu um "espaço neutro"

Alberto Fernández fala durante entrevista coletiva após reunião bilateral na Casa Rosada, em Buenos Aires Alberto Fernández fala durante entrevista coletiva após reunião bilateral na Casa Rosada, em Buenos Aires  - Foto: Juan Mabromata/AFP

A transição de governo na Argentina deu seus primeiros passos nesta segunda-feira. Ou quase. A reunião prevista para acontecer na parte da tarde entre o presidente eleito, Javier Milei, e o chefe de Estado em fim de mandato, Alberto Fernández, foi adiada depois que o ministro Sergio Massa, derrotado nas urnas, fez declarações sobre a “responsabilidade” do líder da direita radical na economia. O clima entre eles, relata a imprensa argentina, é de clara tensão e a passagem de bastão deve ocorrer a conta gotas.

Uma conversa entre o Secretário Geral da Presidência, Julio Vitobello, e Karina Milei, irmã e braço direito do presidente eleito, quando o resultado do segundo turno já estava definido, favoreceu o agendamento da reunião entre Fernández e Milei, com o próprio Vitobello e o mileista Nicolás Posse trabalhando para que isso acontecesse. Mas a reunião, marcada para esta segunda-feira, acabou sendo adiada devido a divergências sobre o local.

"Milei quer que a reunião não ocorra nem em Olivos [a residência oficial da Presidência Argentina], nem na Casa Rosada [a sede do governo]. E Alberto é inflexível quanto a isso, porque é o que manda o protocolo", disseram pessoas próximas ao atual presidente, que passou a manhã na propriedade de Olivos, onde recebeu, entre outros, o ex-congressista chileno Marco Enriquez-Ominami.

A versão oficial foi parcialmente validada pelo grupo de Milei, que falou sobre a busca de um "local neutro" para a reunião. Enquanto os dois lados se culpavam mutuamente pelo fracasso do conclave, à tarde, o escritório de Milei afirmou que o presidente eleito não deixaria seu bunker durante todo o dia.

"Não é o cenário mais provável, mas pode ser hoje", disseram pessoas próximas ao presidente, sem descartar a possibilidade no final do dia.

Independentemente das dissidências, e segundo apurou o jornal La Nación, dirigentes de ambos os setores conversaram intensamente e de maneira individual para acelerar uma transição ordenada ministério por ministério, apesar das duras críticas de Milei a seu rival eleitoral, Sergio Massa, em vista dos rumores de um pedido de licença do Ministério da Economia.

— O que o ministro Massa fez ontem é surpreendente. Tirar uma licença depois de criar um desastre econômico para tentar ganhar uma eleição? Além disso, ele me acusa dos problemas que ele mesmo causou durante o último ano e meio — disse Milei em uma das entrevistas que concedeu na manhã desta segunda-feira, à Radio Mitre.

O ex-candidato, no entanto, disse à sua equipe que permanecerá à frente do Ministério da Economia até 10 de dezembro, quando o novo governo tomará posse, e que as medidas poderão ser definidas nesta tarde para canalizar a transição até o dia em que Javier Milei assumir o cargo.

— Até que tenhamos clareza sobre o status da situação na Casa Rosada e até que o governo seja claro com os argentinos sobre qual é a situação, não creio que confirmaremos o momento da reunião com Fernández — disse uma fonte sênior do partido de Milei, A Liberdade Avança.

Juan Manuel Olmos, o líder peronista de Buenos Aires e vice-chefe de Gabinete responsável pela campanha eleitoral de Massa, é um dos homens em conversações com Guillermo Francos, que já foi anunciado como novo Ministro do Interior e tem uma agenda exuberante de contatos com o peronismo.

De acordo com fontes oficiais, Francos conversou ontem à noite com o ministro das Relações Exteriores, Santiago Cafiero, um dos funcionários mais próximos do presidente. A futura chanceler, Diana Mondino, passou a manhã de hoje com Milei atendendo aos pedidos de embaixadores e dignitários estrangeiros interessados em fazer contato com o presidente recém-eleito, mas também reconheceu contatos "com o Ministério das Relações Exteriores" e admitiu que tinha e tem planejado contatos com autoridades do atual governo nos próximos dias para ordenar sua chegada ao Palácio San Martín.

Ainda não se sabe se Daniel Scioli continuará na embaixada brasileira. Embora pessoas próximas a Milei não descartem uma oferta concreta nesse sentido, na comitiva do embaixador tiveram o cuidado de mostrar o bom relacionamento que ele tem com Francos, embora tenham afirmado que "não conversaram" sobre o futuro.

Em relação à economia, o ponto mais crítico da transmissão de cargo, Milei disse que seu plano de anunciar seu ministro foi frustrado pelas declarações de Massa na noite de domingo, quando atribuiu a ela a "responsabilidade" pelo que acontecer nos próximos 19 dias, até sua posse como presidente.

— Eu tinha um plano de anunciar meu ministro da Economia hoje. Mas a astúcia do ministro Massa em nos culpar pelas decisões tomadas pelo atual governo e dizer que ele está tirando uma licença implica que eles estarão torpedeando o ministro antes que ele tome posse — disse Milei em outra de suas aparições matinais na mídia.

Milei também evitou citar nomes sobre o ocupante da cadeira mais complicada, embora tenha elogiado Federico Sturzenegger e Luis Caputo, dois ex-funcionários do governo do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) que estão sendo considerados para a Pasta da Fazenda. Já sobre Luciano Laspina, deputado e referência econômica de Patricia Bullrich, ele disse que "é alguém com quem eu poderia conversar; somos colegas na Câmara dos Deputados".

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