Rio de Janeiro

Réveillon com fogos foi "inventado" no Copacabana Palace para entreter público do Golden Room

Empresário famoso da noite carioca, Ricardo Amaral idealizou a primeira queima de fogos no início dos anos 1980 na tentativa de trazer o glamour de volta ao hotel

Tradicional queima de fogos em Copacabana, no Rio Tradicional queima de fogos em Copacabana, no Rio  - Foto: Secom/RJ

A saga do Copacabana Palace se confunde também com o sucesso do espetáculo de fogos de artifício realizado há mais de três décadas no réveillon, que hoje reúne milhares de pessoas vestidas de branco e lota a cidade de turistas. A história é contada pelo empresário Ricardo Amaral, de 82 anos, que quase sem querer criou a fórmula de celebrar a virada do ano com um show pirotécnico, ainda modesto para os padrões atuais, de 1980 para 1981. Na época, ele havia arrendando o Golden Room num esforço de tentar recuperar o glamour da casa, quando o hotel enfrentava um momento de decadência que o levaria a ser vendido em 1988 para o Grupo Orient Express, posteriormente rebatizado de Belmond.

Nesta fase, o Golden Room também foi o palco de um evento, em 1981, que ajudou a tornar a então modelo Xuxa Meneghel, em início de carreira, mais conhecida. Xuxa venceu o primeiro concurso do Baile das Panteras. As concorrentes se  apresentavam no palco com performances coreografadas pelo bailarino Zé Reinaldo. As ganhadoras eram assediadas por revistas masculinas, para ensaios fotográficos.

A queima de fogos era na areia, numa fórmula que prevaleceu até a virada de 2000\2001, quando um acidente deixou um morto e 49 feridos. A partir daí, os fogos passaram a ser detonados em balsas. O empresário conta que a ideia inicial era entreter, com os fogos, cerca de 500 pessoas que participavam de uma festa no Golden Room para a chegada do ano novo.

De 1979 para 1980, o antigo hotel Le Méredien (hoje Hilton), no Leme, havia instalado uma cascata de fogos, tradição mantida até 2003\2004, quando também um acidente com os fogos vetou a montagem para os anos seguintes. A proposta, segundo o empresário, era ter algo com maior impacto.

"Repetimos a queima no ano seguinte, atraindo mais gente. Depois da virada de 1982 para 1983, o então prefeito Júlio Coutinho resolveu assumir a coordenação da festa. A partir daí, mais hotéis e outros estabelecimentos se associaram ao Copa e decidiram promover shows pirotécnicos" conta Amaral.

Na época, o réveillon em Copacabana era comemorado principalmente por praticantes de religiões de matriz-africana. Terreiros de umbanda e candomblé reuniam milhares de fiéis na orla da Zona Sul para homenagear e oferecer flores e presentes para Iemanjá no último dia do ano. Hoje, os fiéis optam por exercer suas crenças no fim de ano em pontos da orla de menos movimento, como a Praia da Reserva, na Zona Oeste, por exemplo. Apesar das mudanças, algumas tradições foram mantidas, como usar roupa branca à espera na virada do ano.

Com o crescimento do réveillon, a festa também foi mudando. A partir dos anos 1990, a prefeitura passou a organizar shows na praia como forma de evitar que todos saíssem da Avenida Atlântica ao mesmo tempo, causando tumultos. Com a transferência dos fogos para as balsas, o espetáculo foi se sofisticando. Agora, as detonações são coordenadas com uma trilha sonora criada para a festa. Além disso, o ruído dos estampidos é bem menor. E, com os anos, mais pontos da cidade passaram a celebrar a virada do ano com fogos, como hotéis da Barra da Tijuca e do Recreio.

Desde 1938, quando foi inaugurado, até a década de 1960, O Golden Room do Copa recebeu em seu palco os maiores nomes do showbiz internacional. A lista é gigantesca e inclui Ella Fitzgerald, Marlene Dietrich, Édith Piaf e Nat King Cole, entre muitos outros. Ricardo Amaral teve participação direta e indireta nas duas fases.

"Nos anos 1960, contratamos um pacote com atrações internacionais para shows principalmente em São Paulo. O cantor americano Tony Bennett era um deles. Depois de São Paulo, Tony foi convidado para uma apresentação no Golden Room. Após lotar casas noturnas em São Paulo, houve algo inexplicável: ele cantou para um Golden Room quase vazio. Essas coisas acontecem: no auge, levei Lobão para o Metropolitan (hoje Qualistage), na Barra. A casa tem capacidade para 12 mil espectadores, mas só havia 30 pessoas na plateia" lembra Amaral.

Na segunda fase do Golden Room , no início dos anos 1980, Amaral apostou nos mais humoristas da época. Deu certo. A estreia foi com um show de Chico Anysio dirigido por Jô Soares. Agildo Ribeiro também se apresentou lá. Outro show bem-sucedido dessa época é lembrado na peça montada no teatro do hotel, que conta a história do Copacabana Palace como parte das comemorações dos 100 anos. Trata-se de uma temporada excepcional de Cauby Peixoto, que fez com que superasse uma má fase em shows pelos 25 anos de sua carreira.

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