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Chuvas

Rio de Janeiro: temporais afetam Paraty, Angra e Baixada

Mãe e seis filhos foram soterrados em comunidade da Costa Verde

Temporais deixam 14 mortos no Rio de JaneiroTemporais deixam 14 mortos no Rio de Janeiro - Foto: Reprodução/TV Globo

A consequência, mais uma vez, foram mortes - 14 até agora - e famílias destruídas. De novo, os volumes de chuva excederam qualquer previsão. E caíram sobre regiões que historicamente, são cenários de tragédias, agravadas por negligências que não se resolvem: a Costa Verde e a Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, menos de dois meses depois da maior tragédia já registrada em Petrópolis, na Serra, quando uma enxurrada causou 234 óbitos.

Desta vez, os temporais que castigam o Rio desde quinta-feira custaram a vida de uma mãe e seis filhos num desabamento em Paraty. Na vizinha Angra dos Reis, onde as precipitações num período de 48 horas atingiram o recorde de 821 milímetros na Ilha Grande e 694 milímetros no continente, foram seis vítimas fatais, incluindo três crianças. E na Baixada, com vários bairros debaixo d’água, um homem que tentava ajudar uma pessoa em meio à correnteza foi atingido por uma descarga elétrica no Centro de Mesquita e acabou não resistindo.

O desmoronamento de Paraty ocorreu por volta das 6h30 de ontem, atingindo pelo menos sete casas. Em uma delas, segundo informações da prefeitura, morreram uma mulher identificada como Lucimar de Jesus Campos e seus seis filhos: João, de 2 anos, Estevão, de 5, Yasmim, de 8, Jasmin, de 10, Luciano, de 15, e Lucimara, de 17. No drama que mobilizou a Praia da Ponta Negra, somente um menino da família, de 9 anos, sobreviveu e foi encaminhada para o hospital de Praia Brava.
 

"É uma comunidade de difícil acesso, apenas por embarcação. O mar também está em condições não estáveis, dificultando a chegada das equipes", afirmava no começo da tarde de ontem o prefeito de Paraty, Luciano Vidal, contabilizando 71 desalojados e 22 bairros atingidos por alagamentos e outras ocorrências.

Presidente da associação de moradores de Ponta Negra, Cauê Villela contou que a família morta ontem vivia numa casa de pau a pique, e a comunidade tentava ajudá-la a conseguir uma moradia melhor: "A mãe fazia faxinas e outros bicos para cuidar dos filhos sozinha. Era mãe solteira e, a casa, precária. Eu havia acabado de fechar com a promoção social para a construção da casa deles".

Rio-Santos intransitável

Em Angra, havia ontem pelo menos 55 desabrigados e nove desaparecidos. O local mais afetado foi o bairro da Monsuaba, onde as chuvas vêm causando estragos em sucessivos temporais dos últimos anos, como o do réveillon de 2010 no município. Pelo menos quatro casas foram soterradas por deslizamentos no local, deixou seis vítimas, segundo a prefeitura, de aproximadamente 4, 9, 11, 35 e 60 anos, além de uma pessoa sem idade identificada. No bairro, cinco pessoas continuavam desaparecidas até o início da noite de ontem. Enquanto a cidade decretava estado de emergência devido ao volume de chuva.

Na Ilha Grande, bombeiros faziam buscas ontem por três vítimas na região da Praia Vermelha. Segundo moradores, um pai e dois filhos estavam desaparecidos na Praia de Itaguaçu, um recantos paradisíacos da ilha, aonde só se chega pelo mar, que acabou soterrado. Houve deslizamentos também na Vila do Abraão, onde fica boa parte da estrutura turística da ilha, como pousadas e restaurantes.

No continente, a Rodovia Rio-Santos (BR-101) registrou pelo menos sete pontos de interdição parcial ou total devido a deslizamentos e quedas de árvores. O distrito de Conceição de Jacareí, em Mangaratiba, chegou a ficar totalmente isolado devido à queda de barreiras na estrada. Além de ficar sem acesso algum liberado, a região estava sem energia elétrica, água e internet.

Com as mudanças climáticas, especialistas vêm alertando que eventos extremos como o desta semana se tornaram o “novo normal”, com as chuvas se concentrando em poucos dias, em tempestades como as que têm mergulhado vários pontos do país no caos.

Na Baixada Fluminense, que recebeu a visita do governador Cláudio Castro ontem, as imagens de alagamentos em cidades como Nova Iguaçu e Belford Roxo começaram a correr as redes sociais ainda pela manhã de ontem. Em Mesquita, o advogado Daniel Ribeiro, de 38 anos, acabou eletrocutado ao encostar em um poste de iluminação. Um vídeo mostra um motociclista tentando salvá-lo, com uma massagem cardíaca. Mas o homem, que tinha dois filhos, não resistiu.

Demora no socorro

Já em Belford Roxo, o Rio Botas transbordou, e mais de 300 pessoas ficaram desalojadas. O município teve 180 pontos de alagamento após uma chuva de 228 milímetros em apenas duas horas. No bairro Cantão, os moradores usavam uma canoa para conseguir retirar quem não conseguia sair de suas casas. Já no Bairro Santa Maria, relatam moradores, bombeiros demoraram mais de 14 horas para socorrer desabrigados da enchente.

Ainda era madrugada, e o desespero da costureira Luciana Silva, de 49 anos, bateu quando a água começou a entrar pela janela de sua casa. Ela começou a ligar para telefones da Defesa Civil, sem resposta. E, sem saber se seria resgatada pelos bombeiros, permaneceu ali até o sol raiar. Só por volta das 16h, diz ela, um caminhão dos bombeiros apareceu em seu bairro. Apenas 10 equipes da Defesa Civil do município, segundo a própria prefeitura, atuaram ontem em 20 bairros. "Perdi tudo. Saí de casa com uma mochila com três mudas de roupa e um chinelo", contou Luciana.

Em Nova Iguaçu, a água chegou a entrar nos corredores do Hospital Estadual Dr. Ricardo Cruz (HERCruz). A Secretaria estadual de Saúde (SES) informou, porém, que não houve danos aos pacientes. Já do outro lado da Região Metropolitana, em Maricá, uma barreira caiu e interrompeu totalmente o tráfego na altura do km 48 da RJ-106, no trecho em direção a Saquarema.

Hoje, o alerta é de mais chuva, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia(Inmet). Na Costa Verde e na Baixada, prevalece o aviso vermelho, que representa acumulado de mais de 100mm de chuva.

 

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